No «Livro da Selva» guardado às portas da Serra da Freita, os últimos meses provam que estes «Lobos» são implacáveis na respetiva fortaleza. Desde final de novembro, quando Daniel Sousa assumiu o leme da matilha, o Arouca apenas foi derrotado por leões e águias da Segunda Circular. Nos últimos cinco meses, os sétimos classificados da Liga venceram seis vezes em casa, encaixando duas derrotas e um empate.

A sexta vitória foi conquistada na tarde deste domingo, na receção ao Boavista, em partida da 29.ª jornada. No reencontro com a primeira «vítima» na Liga, Daniel Sousa voltou a sorrir perante as «Panteras», num encontro de diferentes fascículos e com muito trabalho para o vídeoárbitro (VAR).

O timoneiro do Arouca apenas trocou Milovanov por Tiago Esgaio. Do outro lado, Ricardo Paiva aproveitou o regresso de Pérez, Reisinho e Salvador Agra. Além disso, o treinador dos «Axadrezados» promoveu a titularidade de Makouta e Sasso, no lugar do lesionado de «última hora» Chidozie.

O princípio do azar de Cristo

Na disputa pela manutenção, o Boavista partiu para este encontro no 12.º lugar – face ao empate do Rio Ave, na Amadora – pelo que as «Panteras» declararam a intenção de agarrar a batuta. Perante cerca de mil adeptos, os comandados de Ricardo Paiva acreditaram que tal seria possível até aos 15m, quando o Arouca decidiu aquecer os motores.

Em cima do quarto de hora, Jason, completamente sozinho no coração da área, atirou ao lado. Após jogada conduzida por David Simão, pela esquerda, o médio espanhol foi apenas capaz de tirar tinta ao poste da baliza contrária.

Entregue este aviso, os «Lobos» avançaram, estacionaram unidades nas imediações da área contrária e desafiaram a paciência das «Panteras». Entre cantos, o defesa Abascal abordou ingenuamente um dos lances, intercetando o esférico com a mão. Sob crivo do VAR, o árbitro Carlos Macedo foi aconselhado a consultar as imagens.

«Após revisão, o jogador do Boavista tem o braço em posição não natural. Decisão: penálti», disse o juiz, para festa das hostes da casa.

De olho no 13.º golo na Liga, Cristo González mirou João Gonçalves e atirou sem hipóteses. De tal forma que o esférico embateu no poste, para alívio dos boavisteiros.

Em todo o caso, o golo inaugural seria inevitável. Em cima da meia hora, Rafa Mújica agradeceu o corte ineficaz de Sasso, que, de cabeça, assistiu o espanhol. Na cara de João Gonçalves, o ponta de lança assinou o 19.º golo na Liga, aproximando-se de Banza (21) e Gyökeres (22).

Cristo e Seba Pérez em dia «não»

Após o golo, o Arouca continuou a crescer, frustrando os ensaios de contra-ataque dos visitantes. Tranquilo com a posse, a turma de Daniel Sousa irritou os adversários, sobretudo Seba Pérez. Numa primeira dividida com David Simão, o capitão do Boavista puxou o adversário, pela cabeça, quando este agarrava o esférico, deitado no relvado.

Pouco depois, aos 39m, os anfitriões dobraram a vantagem, desta feita por Weverson. Pela direita, Cristo González capitalizou a corrida do lateral, pela esquerda, servindo o brasileiro, quando os defesas aguardavam pelo passe para Mújica. A estreia de Weverson a marcar na época coincidiu com o melhor momento dos «Lobos» no encontro, construindo jogadas fluídas, delineadas de olhos fechados.

Em sentido contrário, a desvantagem não foi a pior novidade para o Boavista. Isto porque, aos 43m, Pérez foi expulso. Numa dividida com Pedro Santos, a meio-campo, o colombiano foi incapaz de evitar o choque, atingindo o adversário.

Antes do intervalo, Cristo González voltou a dispor de uma bela oportunidade para marcar. Uma vez mais na conversão de um penálti – desta feita cometido por mão de Pedro Malheiro – o espanhol atirou à barra.

Assim, o recolher aos balneários ficou marcado pelo desespero de Cristo González, tantas vezes sorridente nos últimos meses. Ora, como em qualquer ofício, há dias «não». Neste «Livro da Selva», a caça ao golo nem sempre termina com sucesso. Na tarde deste domingo, Cristo leu esse capítulo.

Bozenik e Agra combinaram em raro momento de clarividência

Ao intervalo, Ricardo Paiva trocou Filipe Ferreira e Miguel Reisinho por Luís dos Santos e Joel Silva, delineando um sistema de 4-4-1, com Onyemaechi a recuar para a lateral e Makouta a estacionar no miolo.

Quando se aguardava pelo controlo dos anfitriões, a etapa complementar principiou com a reação axadrezada. O cruzamento de Salvador Agra, pela direita, encontrou Bozenik ao segundo poste. Antes de cruzar a linha de golo, o esférico foi desviado por Robson Bambu. Estavam decorridos 47 minutos.

Definitivamente, o destino do encontro estava em aberto. De parada e resposta, Cristo González até marcou, mas o lance foi invalidado pelo VAR, por mão – ainda que subtil – de Mújica.

Entre trocas e faltas, o Boavista fixou unidades na frente. Contudo, Arruabarrena, por fim chamado a brilhar, travou os remates de Onyemaechi, Bozenik e Salvador Agra.

O espetáculo dentro de campo, com respostas táticas e duelos acessos, ficou manchado por um episódio protagonizado por adeptos do Boavista. Na direção de um dos árbitros assistentes voou um canivete e pedaços de cadeiras, por exemplo, o que obrigou Bozenik e Abascal a exigirem calma fora do relvado.

Sem inspiração para repor a igualdade, o Boavista junta-se à lista de derrotados na casa do Arouca. Depois de «Dragões» e «Leões de Faro», as «Panteras» também caíram às portas da Freita.

Reveja, aqui, o filme deste jogo.

Ora, o triunfo permite ao Arouca igualar o Moreirense (6.º), com 43 pontos. Na visita ao Rio Ave (11.º), os comandados de Daniel Sousa têm em vista igualar a melhor sequência da temporada, de quatro triunfos consecutivos. O encontro em Vila do Conde está agendado para a noite de sexta-feira.

Por sua vez, o Boavista encaixa o quarto jogo sem vencer, e a segunda derrota consecutiva. Por isso, os «Axadrezados» ocupam o 12.º lugar, com 29 pontos, em igualdade com o Estoril (13.º). Segue-se a receção ao Estrela da Amadora (15.º) – no sábado – numa fase em que a zona de play-off de manutenção está a dois pontos.

Em Arouca, os «Lobos» continuam donos de si. E a Europa à distância do sonho europeu do Benfica.