Sem brilho como em muitas outras noites, mas com os três pontos, como em 21 dos 27 jogos desta Liga, o Benfica manteve a luz do título acesa ao vencer o lanterna vermelha pela margem mínima numa noite em que a Lei de Murphy parecia inquebrável.

Não porque os encarnados tivessem feito uma exibição esmagadora – longe disso – mas pelas circunstâncias de um jogo que teve dois penáltis defendidos (um até com direito a repetição) pelo guarda-redes do Chaves, alguns momentos de azar, mas também muitas tomadas de decisão desastrosas.

No regresso da Liga, o campeão nacional teve de suar muito para bater aquela que a classificação dita ser a equipa mais frágil das 18.

Ao Benfica não faltou posse de bola, presença permanente no meio-campo ofensivo, não faltaram remates, cantos e até não faltaram oportunidades, sobretudo aquelas soberanas que Di María e Arthur Cabral desperdiçaram da marca dos 11 metros.

Mas faltou-lhe ser um «grupo de pessoas reunidas para uma mesma tarefa ou ação», que é como quem diz ser uma equipa no mais rigoroso sentido do termo.

O problema não é novo. Tem-se, aliás, arrastado ao longo de uma temporada na qual o conjunto de Roger Schmidt se tem mantido à tona à custa da inspiração dos seus melhores intérpretes, que parecem tantas vezes remar a solo num barco.

Diante do Chaves, até isso faltou. O peso do desgaste de Di María – ainda assim um dos melhores das águias – foi notório, Rafa pouco se viu e Neres acumulou ações desastrosas no último terço.

Mesmo com metade da equipa em sub-rendimento, a sexta-feira até podia ter sido Santa para o Benfica e os mais de 55 mil espectadores que ocuparam as bancadas da Luz numa tarde/noite chuvosa.

Porque o Chaves, a precisar nesta fase da época de mais do que um ponto por jogo para se salvar, nunca procurou mais do que levar para Trás-os-Montes um ponto, fosse por mérito do Benfica, por estratégia ou até mesmo por manifesta incapacidade para sonhar com mais do que isso. Mas também porque, mesmo sem serem brilhantes, foi por culpa própria que as águias não resolveram o jogo mais cedo.

Por aquele penálti desastroso de Di María na primeira parte, pelos que Arthur Cabral bateu teimosamente para o mesmo lado na segunda e pela gritante incapacidade para definir bem as jogadas no último terço.

Um golo de João Neves de cabeça aos 68 minutos na sequência de uma bola parada de Ángel Di María decidiu o jogo entre um candidato ao título e uma equipa praticamente condenada à descida que, depois de estar em desvantagem, ainda chegou a ameaçar protagonizar um autêntico golpe de teatro numa sexta-feira dos diabos em que o campeão nacional voltou a apresentar sintomatologia preocupante.