Setembro está a começar e já estão em curso três mudanças de treinador na Liga. Paços Ferreira, Sporting e Belenenses, três clubes que não chegam a esperar um mês antes de decidir que o técnico que iniciou a época já não serve e mudam ao fim de quatro jornadas. A Liga 2019/20 está a dar sinais de impaciência com os treinadores como há muito não se via. Há apenas quatro exemplos parecidos neste século, mas todos com circunstâncias diferentes, que nem sempre decorreram diretamente dos resultados.

A Liga 2019/20 começou a 9 de agosto e ainda não tinha terminado a quarta ronda e começado a paragem de duas semanas para as seleções quando estalou o «chicote». O primeiro treinador afastado foi Filipe Rocha, que tinha assumido o recém-promovido Paços no arranque da época para o regresso à Liga e saiu logo no domingo, 1 de setembro, com a equipa no último lugar e um ponto somado. Pepa é o sucessor de Filó em Paços de Ferreira.

Logo na terça-feira foi o Sporting a chegar a acordo com Marcel Keizer para a saída do treinador holandês, que chegou no decorrer da época passada e ganhou a Taça de Portugal e a Taça da Liga e começou esta temporada a perder a Supertaça com o Benfica. O divórcio deu-se depois da derrota com o Rio Ave que deixou o Sporting no quinto lugar, com sete pontos. Por agora é Leonel Pontes, até aqui responsável dos sub-23, a assumir a equipa principal.

Mas não ficou por aqui. Na quarta-feira foi a vez do Belenenses e de Silas, ainda sem anúncio oficial mas com o treinador que na época passada levou a equipa ao nono lugar da Liga já afastado dos treinos e Pedro Ribeiro, até agora treinador dos sub-23, a orientar a equipa, que tem dois pontos somados e ainda não marcou nenhum golo no campeonato.

2011/12: três em três jornadas, mas não foi bem a mesma coisa

Olhando para este século, só por quatro vezes aconteceu algo semelhante. E ainda assim com nuances particulares. Nem todas essas mudanças prematuras foram ditadas por maus resultados e algumas delas aconteceram mesmo antes do arranque da temporada.

A última vez foi em 2011/12, há oito anos. Começou ainda em agosto, quando Manuel Machado deixou o V. Guimarães. O treinador saiu a 26 de agosto, depois de se ter jogado apenas uma jornada do campeonato (derrota com o FC Porto), mas o motivo próximo para o afastamento foi a eliminação da Liga Europa, na terceira pré-eliminatória com o At. Madrid, numa época em que os vimaranenses tinham já perdido também a Supertaça com o FC Porto. O treinador escolhido para suceder a Machado foi Rui Vitória, o que forçou a segunda mudança da época: Vitória deixou o Paços Ferreira, que teve de encontrar substituto e escolheu Luís Miguel.

A terceira mudança aconteceu em Leiria. Depois da derrota com o FC Porto à terceira jornada, a 7 de setembro, Pedro Caixinha foi afastado e substituído por Vítor Pontes. Que aliás só duraria também três jornadas: foi despedido após a sexta ronda. Portanto, três mudanças em três jornadas, em menos de um mês, sim. Mas uma delas, em Paços de Ferreira, não motivada por resultados desportivos. Esse campeonato terminou com 12 mudanças de treinador em nove clubes, sendo que tinha apenas 16 equipas.

2007/08: Fernando Santos na Luz a abrir o caminho

Antes disso, é preciso recuar a 2007/08, também a 16 equipas, para recordar outra razia semelhante de treinadores ao fim de quatro jornadas de campeonato. Então liderada pelo Benfica, que afastou Fernando Santos a 20 de agosto, depois do empate com o Leixões na primeira jornada. O atual selecionador nacional, que tinha liderado a equipa na época anterior, terminando em terceiro lugar na Liga, saiu ao fim de dois jogos oficiais: além do Leixões, tinha vencido o Copenhaga por 2-1 na primeira mão da terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Chalana assumiu interinamente o Benfica no jogo seguinte, com o V. Guimarães, antes de dar lugar a José Antonio Camacho.

Manuel Machado também foi protagonista de uma chicotada prematura nessa época: foi afastado da Académica depois da terceira jornada. E quando se completou a quarta jornada, a 16 de setembro, aconteceu a terceira saída da época: na Figueira da Foz, onde Francisco Chaló deixou a Naval. Mas ela chegou já depois da primeira paragem do campeonato, praticamente um mês depois do arranque da Liga. Demorou portanto mais tempo do que na atual temporada, quando a Liga começou a 9 de agosto e a 4 de setembro, 26 dias depois, já havia três mudanças.

2006 e 2004, quando a dança começou mais cedo

Houve duas temporadas anteriores de mudanças precoces, ambas mais atípicas. Em 2006/07, dois treinadores mudaram mesmo antes do arranque da Liga. A saída de Co Adriaanse do FC Porto e a sua substituição por Jesualdo Ferreira, que treinava o Boavista, marcaram um arranque de campeonato absolutamente fora do normal nos bancos. Houve ainda outra mudança após a 2ª jornada, com Hélio Sousa a deixar o V. Setúbal. Depois, «só» à 7ª jornada voltou a haver mudanças nos bancos. Ou seja, na prática foram menos mudanças decorrentes de resultados do que acontece esta época.

Neste século, só há outra época com mais mudanças por esta altura, numa dança que também se inicia antes do arranque da Liga. Em 2004/05, Gigi Del Neri nem começou a época no FC Porto. E Ulisses Morais também se afastou do Estoril sem ter feito jogos oficiais na temporada. Depois, Manuel Cajuda deixou o Marítimo após a primeira jornada, Manuel Fernandes abandonou o Penafiel a seguir à segunda ronda e ao quarto jogo da Liga ainda houve outra mudança, a saída de Mick Wadsworth no Beira Mar. Mas também aqui, e mesmo contando apenas as mudanças já com a época a decorrer, passaram 30 dias entre o início da Liga e a terceira saída, mais que agora.

As chamadas «chicotadas psicológicas» continuam a ser recurso recorrente na Liga, mas nos últimos anos os sinais eram de maior estabilidade no arranque do campeonato. Desde 2011 só por uma vez, em 2014/15, um treinador foi afastado antes do final da 5ª jornada: foi João de Deus, que deixou o Gil Vicente depois da terceira ronda. Mesmo em 2016/17, época que teve o incrível recorde de 19 mudanças de treinador na Liga, a «dança» só começou depois da quinta jornada. Na temporada passada, a primeira mudança só aconteceu depois da 8ª jornada e foi também no Sporting, com a saída de José Peseiro.