50 547 espectadores viram ao vivo aquilo que terá sido o adeus do Benfica ao sonho.

Num final de tarde sem chama, sem rasgo e sem inspiração, a formação encarnada despediu-se em definitivo do quinto título em linha: do tão desejado e há muito ansiado pentacampeonato.

As contas são fáceis de fazer: se antes do Benfica precisava que o FC Porto perdesse um jogo, agora precisa que perca dois dos três jogos que tem para disputar. Para além, claro, de o próprio Benfica ter que ganhar os dois jogos que faltam, incluindo um deles no dérbi com o Sporting em Alvalade.

Ora tudo isto parece ser uma conjugação de fatores muito improvável, de facto.

Surpreendente? Sim, talvez, mas apenas pelo momento: era duvidoso que o Benfica claudicasse na receção ao Tondela. Para lá disso, porém, antecipava-se este fim quase desde o início de abril.

Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores

Sobretudo porque a equipa há muito estava a perder fulgor: por exemplo na derrota caseira com o FC Porto, sim, mas também nas vitórias em Setúbal e no Estoril, ambas arrancadas a ferros, pela margem mínima e com os golos do triunfo a aparecerem já no período de compensação.

Era portanto um Benfica que se arrastava pelo campeonato, que bracejava, que tentava de todas as formas manter-se à tona do campeonato, mas sem aquela pujança que se impunha a um campeão.

É obrigatório, obviamente, falar da lesão de Jonas, ele que jogou pela última vez no final de março, antes precisamente dos quatro jogos em que os encarnados patinaram no mês de abril. O que só vem provar a influência do brasileiro nesta equipa, e nos últimos três dos quatro títulos conquistados.

Ora apesar disso, é necessário referir desde já que não é no nome de Jonas que se pensa quando se procura justificar a derrota com o Tondela. Há nomes mais óbvios, sobretudo dois.

Luisão e Douglas.

O central foi titular face à ausência de Jardel, o lateral entrou antes da meia hora para o lugar do lesionado André Almeida e foi pelo espaço entre os dois que a formação de Pepa fez os três golos.

Sem ritmo, sem confiança e provavelmente demasiado inseguros para enfrentar uma final como esta, os dois brasileiros fartam-se de falhar, não dominaram o espaço e cavaram o buraco da derrota.

Para complicar a situação, não tiveram o apoio de Fejsa: o sérvio ficou também fora do jogo, e Samaris não é a mesma coisa. Definitivamente não é a mesma coisa. Não tem a mesma inteligência tática, não cobre tão bem os espaços, não faz as compensações com a mesma propriedade.

Indiferente a isso, o Tondela fez uma exibição personalizada e, pelo caminho, deu uma chapada de luva branca em todos aqueles que gostam de colocar em causa a aplicação nos jogos com o Benfica.

É tao fácil sujar os outros, não é?

O Tondela cobriu de vergonha todos esses profetas da desgraça, com uma exibição esforçada, sem ser brilhante. Uma exibição competente, prática e inteligente.

A equipa de Pepa jogava sem a pressão dos pontos, depois de a derrota do Moreirense ter garantido a permanência (Moreirense e Desp. Aves ainda vão jogar entre eles e pelo menos um deles faria sempre menos pontos que o Tondela, mesmo que perdesse este jogo), e por isso livrou-se de receios.

Miguel Cardoso e Cláudio Ramos espetaram os últimos pregos: os destaques

Não quis ter a bola, não quis disputar o domínio da partida, ambicionou apenas defender bem, explorar o contra-ataque e ser eficaz nos remates. Tudo isso, diga-se, correu de feição: defendeu bem e fez três golos em quatro remates à baliza de Bruno Varela. Difícil fazer melhor.

Não se abateu com o golo madrugador de Pizzi, manteve toada e deu a volta ainda na primeira parte com dois golos de Miguel Cardoso: ele que foi formado no Benfica e teve um regresso de sonho à Luz, igualando o feito de jogadores como Jardel, Pena, Liedson, João Tomás ou Tanque Silva.

Já nos dez minutos finais marcou o terceiro por Tomané, novamente com um golo que surgiu no espaço entre Luisão e Douglas, e pareceu matar o jogo. O melhor que o Benfica fez foi reduzir com um chapéu perfeito, um golaço, de Salvio, no quarto de cinco minutos de descontos.

Milhares de pessoas já não viram esta obra de arte do argentino, e provavelmente também não faziam muita intenção disso: a frustração era maior do que a capacidade de admirar o requinte.

A ambição de um ano inteiro, e o sonho de cinco anos completos, morreram assim, num final de tarde cinzento, chuvoso e triste. Um dia em que Lisboa não parecia Lisboa.

Veja o resumo do jogo: