Faltou um apito a assinalar o final da carreira do mais conceituado árbitro português, anunciada pelo próprio, esta quinta-feira, com pompa e circunstância, numa conferência de imprensa na sede da Federação Portuguesa de Futebol que contou com a presença dos principais representantes de todos os setores do futebol profissional, incluindo Luís Filipe Vieira (Benfica), Bruno de Carvalho (Sporting) e Antero Henrique (FC Porto). «Fui um privilegiado», resumiu Pedro Proença, sem dar pistas quanto ao seu futuro profissional.

Uma «decisão refletida e ponderada» há mais de eis meses pelo árbitro de 44 anos e sustentada pelo «desgaste de mais duas décadas de atividade, com destaque para os últimos anos ao mais alto nível. «É tempo de dar lugar aos atuais valores, a uma nova geração de árbitros bem preparados. Estou confiante que o futuro da arbitragem está assegurado», começou por destacar.

Pedro Proença estava ainda a um ano de atingir o limite de idade ou mesmo mais, uma vez que a FIFA tem uma nova legislação, mais flexível, que condiciona o prolongamento das carreira a testes escritos e físicos, mas o árbitro lisboeta já tinha tomado a decisão há vários meses. «Fecha-se um ciclo enquanto árbitro, estando certo que atingi um patamar único, que muito me orgulha, e ciente que contribuí, de forma humilde, para uma projeção da arbitragem portuguesa além-fronteiras. Acredito que delego às novas gerações uma herança de peso, de um percurso que sempre foi pautado pela máxima dedicação e entrega a esta causa decidi abraçar», destacou na declaração incial.

Uma carreira que começou em 1988 e que teve como pontos mais altos a final da Liga dos Campeões de 2011/12, a final do Euro-2012 e ainda a presença no Mundial-2014. «Ao longo destes 26 anos tive o privilégio de apitar jogos fantásticos, quer no panorama nacional quer no plano internacional. Estive em competições extraordinárias, com os mais talentosos intervenientes, fui um privilegiado. Estar presente em várias finais únicas, com a Champions League e do Campeonato da Europa, foi o culminar de uma jornada para o qual eu e a minha equipa muito trabalhámos», prosseguiu.

Uma despedida diante das mais altas figuras do futebol português. ««Deixo uma imagem de profissionalismo, competência e credibilidade perante todos os agentes desportivos com os quais me cruzei ao longo de todo este tempo. Mesmo reconhecendo que possa ter errado em decisões dentro do campo e sofrendo com esses mesmos erros, estou consciente que tudo fiz no sentido de aperfeiçoar as minhas capacidades e o meu desempenho, num espírito sempre de superação a cada jogo, tentando deste modo contrariar a inevitabilidade do erro humano», referiu.



Uma carreira também marcada por algumas controvérsias, com destaque para a relação difícil que manteve com Vítor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem. Mas no momento do «adeus», Proença garante que «sai bem com toda a gente». «O que não significa que em determinados momentos não possamos ter ideias diferentes», ressalvou, mostrando-se ainda otimista quanto ao futuro da arbitragem nacional e depositando «total confiança» na estrutura comandada por Vítor Pereira.

Collina apoia Proença para o comité de arbitragem da UEFA

Ficaram apenas dúvidas quanto ao futuro profissional de Pedro Proença que já foi apontado como possível integrante das futuras comissões de arbitragem da UEFA ou da FIFA. «Neste momento irei dedicar-me à minha vida como gestor e administrador, mas irei sempre dar o meu contributo à arbitragem sempre que for solicitado. «É um momento que foi muito refletido, há mais de seis meses que sabia que isto ia acontecer. Sou gestor de profissão, vou dedicar-me à administração. Depois, quanto aos projetos futuros, estarei cá para avaliá-los», limitou-se a adiantar.

Faltaram os três apitos finais com que os árbitros dão por terminados os jogos. No caso de Pedro Proença foram 465, contando apenas os oficiais, mais de uma centena de internacionais, dos quais 37 na Liga dos Campeões, além de duas finais da Taça de Portugal e três edições da Supertaça Cândido Oliveira.

Marcos na carreira de Pedro Proença

1988/89: início da carreira

2000/01: promoção à I categoria

2004: apitou final do Euro sub-19

2003/04: promovido a árbitro internacional

2011: Campeonato da Europa sub-21

2011/12: apita a final da Liga dos Campeões

2012: apita a final do Euro-2012

2012: eleito melhor árbitro do mundo (IFFHS)

2013: apita na Taça das Confederações

2014: apita no Campeonato do Mundo

2014: apita no Mundial de Clubes (jogo de atribuição do 3º lugar)

20015: recebeu galardão de árbitro do século da FPF

2014/15: final da carreira

[ARTIGO DAS 14h34, atualizado]