Esta semana, a «viagem» é por um dos mais inusitados “Lugares Incomuns” do futebol internacional. É em Accra, capital do Gana, que pelos olhos dos adeptos se fica a conhecer o Guardiola português do Hearts, uma equipa que tem como alcunha The Soccer Paradise (O Paraíso do Futebol), mas que começa a desencantar aquele que noutros tempos foi batizado pelo jornal da terra como o novo Mourinho.

Sérgio Traguil, técnico português dos Phobia, garante que gosta e inspira-se nos dois managers de Manchester. É fã declarado de Mourinho embora reconheça que o seu modelo de jogo tem mais similitudes com o do técnico espanhol. Mas é dele. E gosta de mostrar o trabalho que vai desenvolvendo na ainda curta carreira aos 36 anos.

Já foram campeões do Gana por 21 vezes. Encerraram o século XX da melhor maneira ao vencerem a Liga dos Campeões da África em 2000. Juntam ainda no palmarés 7 Taças SWAG. E não, não são o que o leitor está a pensar. É futebol... mesmo.

A última temporada acabou neste mês. Sérgio chegou a meio dela e iniciou a recuperação numa época que não tinha começado da melhor forma. Conseguiu chegar ao primeiro lugar até que o impensável (ou talvez não) aconteceu. De agosto em diante, o Oak venceu apenas um jogo, empatou três e perdeu quatro. Tudo somado, apenas deu para um terceiro lugar a três pontos do líder All Stars.

Incompetência, azar ou... sabotagem?

A imprensa ganesa levantou suspeitas de sabotagem ao trabalho do treinador português assim que os primeiros maus resultados começaram a surgir. Yaw Preko, treinador adjunto, e Nassam Yakubu, treinador de guarda-redes, foram acusados de tentar convencer alguns dos habituais titulares de que no final da época iriam ser dispensados por Traguil. Deviam, por isso, baixar de rendimento, caso quisessem que a referida dupla os mantivesse. A comunicação social daquele país sugere que Preko e Yakubu estarão alinhados com o antigo técnico, Kenichi Yatsuhashi, e que a direcção do clube irá encetar conversações no sentido de não deixar sair o treinador português que ainda tem mais dois anos de contrato.

E se as gazelas pensassem?

Ver este Hearts of Oak jogar é imaginar uma selva onde existem vários momentos de reflexão. Do lado de lá estão equipas com vertigem do primeiro ao último minuto, o clássico chutão para a frente, sprints a muitos Kms/hora e um futebol sempre jogado, nunca pensado. Foi o fator distintivo da boa fase dos Phobia. As ideias antagónicas face ao seu adversário, com o objetivo de colocar a bola sempre na relva, mesmo que na maior parte das vezes ela saltite como se tivesse encontrado uma toupeira, reveladora das imensas limitações técnicas que se percebe de imediato em quase todas as individualidades. É como estar a ver 11 gazelas fora do seu habitat, a terem que reduzir uma ou duas mudanças, alternando um jogo de posse e circulação bastante rápida e ao primeiro toque com um passe em profundidade para um dos corredores laterais contra a vontade de quem os trabalhou durante a semana.

Estruturados em 1x4x3x3, valorizando o guarda-redes no momento de organização ofensiva, transformam-se num 4x3x2x1 a defender com os extremos por dentro de modo a tentar asfixiar o adversário na reação à perda da bola. Tombam à esquerda na altura de atacar por terem um médio ala adaptado a lateral desse lado e equilibram-se pela direita com a adaptação do defesa central Richard Akrofi ao corredor. Um jogador extra a defender também nas bolas paradas que a equipa aborda à zona num país em que o homem a homem ainda é regra. Uma das muitas que estão cada vez mais apenas confinadas ao futebol africano, um futebol que o treinador português vai tentando cultivar.