Os «Lugares Incomuns» do futebol internacional completaram o primeiro mês na passada semana, assim como a nova temporada da Primeira Divisão da Argentina. É tempo, por isso, de pela primeira vez destacar um leque de jogadores neste espaço e o campeonato não podia ser outro se não aquele que anda (andar é a expressão mais indicada) ao nosso ritmo. De ano para ano, o futebol da terra de Maradona vai perdendo ritmo, paixão - até nas bancadas, cada vez mais despidas - e ganhando passos... muitos passos. E se já nos habituámos a ver Messi (no Barcelona e na selecção) a jogar igualmente passo a passo, como armador, o que é certo é que são os passos mais lentos aliados ao sprint - mental, claro está - mais rápido: pensar e decidir com o corpo estático e colocando a bola a correr ou a voar como mais nenhuma outra. Por aqui, que é como quem diz, por lá, essa quebra de ritmo tem valido a quebra da média de golos por jogo e (quem diria!) a transformação de um campeonato que já teve mais interesse, num daqueles em que se vê as redes balançar menor número de vezes... sem ser pela qualidade dos defesas e muito menos dos limitados guarda-redes. Que saudades, Ayala! Nenhumas tuas, Bossio.

... a remar contra a maré

Virei as atenções, naturalmente, para os avançados que tentam atenuar esta trágica tendência. Um exercício difícil de fazer perante a falta de qualidade da generalidade dos pontas-de-lança a actuar no principal campeonato argentino. Mais ainda, porque limitei a escolha a jogadores com mais de 23 anos, deixando de fora o menino de apenas 20 que é - surpreendentemente - o melhor marcador do campeonato: Sebastian Driussi. Tem o estatuto de forma isolada, com 5 golos, sem nunca ter cumprido os 90 minutos nos 5 jogos já realizados. Numa tabela que deixa saltar à vista um dado curioso. São 36 os jogadores que já marcaram por duas ou mais vezes, sendo que apenas 4 não têm nacionalidade argentina e curiosamente são todos uruguaios.
 

Sebastian Penco

Pouco ou quase nada móvel, fraco no jogo com os pés e com o melhor registo da carreira, aos 33 anos, a serem apenas 7 golos em 29 jogos na época 2011/2012 ao serviço do San Martin San Juan. Seriam motivos suficientes para se acreditar, no início da época, que não teria hipótese de passar por esta rubrica. O que não se podia prever era que fizesse de um dos poucos atributos de qualidade, o jogo de cabeça, a arma que lhe permite transportar um registo de 3 golos em 6 partidas. Especiais principalmente por serem todos os golos que o Aldosivi totaliza até ao momento, o que significa que tem 100 por cento dos golos da sua equipa. Veremos se consegue perseguir o seu melhor registo médio, quando em 2015 fez 5 golos (sempre nos minutos finais) em 12 jogos e ajudou o Independiente a subir de divisão.

Ignacio Scocco

Aos 31 anos, a certeza que (infelizmente) nunca chegará ao nível a que tinha condições para chegar. É daqueles que sugiro aos leitores que observem no Youtube e aproveitem. Os lances de génio, os remates fantásticos e a qualidade que verão, não era fruto do acaso e o «falhanço» no Sunderland (onde não marcou qualquer golo nos 6 jogos em que fez apenas alguns minutos) matou a sua possível carreira nos grandes palcos. É o lado mais cruel do futebol. É certo que o feitio que lhe valeu 24 amarelos e 1 vermelho em 138 jogos, números excessivos para um avançado, não ajudou, mas não pode explicar tudo. Uma boa época nos gregos do AEK e uma máquina goleadora no clube do seu coração: os Newells Old Boys. Esta temporada já selou as redes por 4 ocasiões em apenas 5 jogos.

Marcos Acuña

Numa lista de destaques, Acuña teria de ser o destaque dos destaques. Por ser o único médio e por ser o mais novo do lote. O jovem de 24 anos ainda está à procura de definir posição, actuando esta época sobre o corredor esquerdo do meio campo, mas sendo capaz igualmente de jogar na posição 8 ou na posição 10. Rápido, bom driblador, melhor ainda a cruzar, faltava-lhe golo... o mesmo que está a aparecer nesta temporada. Já são 4, tantos como o que fez no mesmo Racing em 2015, mas com mais 22 partidas do que as que jogou até agora. Juntamos-lhe 3 assistências e percebemos que podemos estar perante um caso sério de afirmação. É caso para dizer que no meio (campo) está a virtude desta tríade revolucionária.