«A minha paixão era a bola». Luís Castro ainda era criança. Nasceu há 43 anos em Vila Real, mas viveu em Casal dos Claros, na zona centro, antes de se mudar para Vieira de Leiria. O pai era militar na base de Monte Real, a mãe professora primária, motivos que levaram a família a deixar Trás-os-Montes bem cedo. Pela mão do pai ia ver os jogos do clube da terra e o fascínio começou aí: «Fui o primeiro futebolista da família. Coleccionava cromos e o futebol era uma luz que me guiava». Deixou-se guiar por essa luz e viu-se com as chuteiras nos pés: «Era evoluído tecnicamente, mas fui perdendo técnica à medida que fui crescendo».
Primeiro a defesa-central, depois a lateral direito. Quando tudo fazia crer que fosse vencer o mundo à custa dos seus pontapés, surgiu o maior revés da sua vida: «Tinha onze anos e comecei a vomitar sangue e a rejeitar os alimentos. Ninguém sabia o que tinha». Foi internado, passou mês e meio numa cama de hospital condenado a um destino que parecia irreversível: «Os médicos diagnosticaram-me púrpura [doença no sangue e disseram aos meus pais que não tinha hipótese de sobreviver. Mas segui em frente e esse é o momento mais marcante da minha vida».
Seguiu em frente e superou o drama sem se aperceber da aflição em que estava metido. «Meio ano depois a doença estava erradicada, mas os médicos disseram-me que não podia fazer esforços físicos pela vida fora». Estava escrito que seria um adolescente diferente e o mundo passou a reduzir-se a um espaço cada vez mais exíguo: «Ver os outros a jogar futebol e eu ali parado custou-me muito. Durante três anos vi os meus colegas a brincar e eu não podia brincar. Isso abalou-me, mas a minha força interior para ultrapassar os problemas vem desde período. A doença ajudou-me a não vacilar em certos momentos. Foi Deus que me ajudou».
Luís Castro recorda o passado com os olhos bem abertos. Fala sempre de olhos bem abertos independentemente do tema da conversa: «Nessa altura, a minha vida resumia-se aos estudos. Só estudava e não brincava, nem sequer podia correr. Fui bloqueado». Era bom aluno, mas isso era muito pouco. Ao mínimo esforço, diziam os médicos, podia sangrar de novo. «Foram três anos difíceis, mas superei o problema. Aos catorze anos fiz testes de esforço e informaram-me que estava curado, que estava livre e voltei a ter liberdade para jogar futebol. Tive momentos de sorte até chegar aqui e Deus foi meu amigo pela vida fora».