No final de uma jornada marcada por erros graves de arbitragem, o Mundo desabou sobre os senhores do apito. De vários lados surgiram críticas, que voltaram a colocar os árbitros sob fogo cruzado. Luís Guilherme, o presidente da Comissão de Arbitragem da Liga, saiu então a terreiro para defender a classe. Reconheceu que houve erros, afirmou-se preocupado com eles, mas acrescentou que a culpa do que aconteceu não é só dos árbitros. «Os dirigentes, que são os que mais falam, têm de se interrogar sobre as condições de trabalho dos árbitros», disse.
Pelo caminho garantiu que parece haver uma vontade de querer manter tudo igual. «Não aceitamos que os dirigentes queiram servir-se do trabalho das equipas de arbitragem para esconder os próprios erros. Há dirigentes e treinadores que se servem dos árbitros para disfarçar insuficiências. Não estamos a branquear os erros que cometemos, porque eles estão lá e reconhecemos que os cometemos, só queremos que haja compreensão para essa situação e para que se reconheça que todos erram. Os jogadores erram, os treinadores erram e os dirigentes erram».
O dirigente não tratou de colocar paninhos quentes sobre o assunto. Disse, por exemplo, que o assistente António Neiva vai sofrer implicações do erro que cometeu - «um erro que nasce de uma desconcentração momentânea» -, respondeu a Pinto da Costa por este ter criticado a nomeação de António Resende - «quem faz a análise aos árbitros somos nós» -, e voltou a pedir mais condições para o sector. «No futebol profissional, os árbitros são o único sector amador», recordou. «Enquanto um jogador, quando erra, pode na semana seguinte treinar e tentar depois corrigir o erro, os árbitros não têm essa possibilidade. Basta ver que apenas houve um curso para árbitros em Julho, vai haver outro no final de Novembro e só volta a haver outro em Março».
Razões que levam Luís Guilherme a reclamar mais. «É necessário criar condições para que a arbitragem possa realizar outro tipo de trabalho», diz. Isto apesar de reconhecer que têm havido uma evolução ao longo dos últimos anos que permitem que os árbitros tenham hoje mais tranquilidade para apitar. «Nota-se que há uma melhoria da parte dos jogadores, dos treinadores e mesmos dos dirigentes. Mas isto é uma questão que leva o seu tempo e à medida que quanto mais nos conhecermos, mais o grau de suspeição vai diminuindo». Mesmo assim ainda não chega. «Naturalmente que quanto mais ruído houver à volta da arbitragem, menos qualidade na arbitragem haverá, mas toda a gente sabe que isso faz parte do nosso panorama desportivo. É uma questão de cultura».