O emblema da Luz apresentou uma inovação a nível mundial, sendo o primeiro clube a garantir em direto e exclusivo a transmissão caseira dos seus jogos de futebol. Essa aposta provocou uma natural agitação no mercado, até então sujeito a um estado de monopólio.
Será ainda precoce avançar para um balanço definitivo, já que é lógico considerar o que o Benfica deixou de ganhar ao recusar a proposta da Olivedesportos, o que efetivamente ganhou com a transmissão dos jogos pela Benfica TV e o que teve de gastar para assegurar essa mesma transmissão.
Por ora, os responsáveis encarnados fazem um balanço extremamente positivo. A 10 de fevereiro de 2014, na véspera da receção ao Sporting, o Benfica anunciou ter chegado à marca de 307.872 subscritores, ou seja, 307.872 pessoas a pagar 9,90 euros por mês.
Em dezembro, Domingos Soares de Oliveira tinha feito um ponto de situação, manifestando a satisfação encarnada. Na entrevista à televisão do clube, o Administrador da SAD garantiu ainda não estar previsto um aumento do valor de subscrição.
«Por enquanto não está previsto um aumento. Mesmo quando lançámos a emissão nos dois canais que hoje estão disponíveis perguntaram-nos se queríamos atualizar o preço e, na altura, achámos que isso era defraudar as expectativas dos benfiquistas e não benfiquistas que aderiram à Benfica TV. Nesta fase e até ao final deste ano não vamos aumentar o preço. Esse pode justificar-se com a entrada de outros conteúdos», disse.
Domingos Soares de Oliveira explicou ainda o preço estabelecido: «Fizemos uma medição na sensibilidade ao preço até 25 €, começando nos 5 € e percebemos que a optimização cifrava-se nos 12 €. Preferimos baixar o preço e dar essa vantagem a todos do que entrar num modelo complexo de cruzamento de dados com as operadoras. Parece-nos um preço razoável».
O Benfica passou a oferecer os jogos caseiros do clube e também do Farense, emblema promovido no início da época à Liga de Honra. Os encarnados encetaram ainda negociações com o Académico de Viseu mas não foram felizes. «Houve clubes que efetivamente se sentiram pressionados a não assinar contratos com a Benfica TV. Oferecemos contratos melhores do que têm hoje.»
Com o final da presente temporada, será um desafio manter o número de subscritores garantidos até ao momento, já que a transmissão dos jogos é o grande atrativo do canal.
Para além dos encontros caseiros do Benfica, a SAD encarnada já tinha os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro (desde 2012) e avançou ainda para um acordo de três anos para a transmissão da Premier League de Inglaterra.
No final de Fevereiro, a sociedade anónima divulgou o Relatório e Contas do 1º Semestre de 2013/14. No documento surgem vários dados relacionados com a Benfica TV, números que ajudarão a compor o cenário a curto e médio prazo.
Recorde-se que, em junho de 2013, o clube «transmitiu a totalidade das ações que detinha na Benfica TV à Benfica SAD, sendo esta última a detentora de 100% do capital social e dos
direitos de voto da Benfica TV a partir daquela data.»
Até 31 de dezembro de 2013, a Benfica TV tinha 67 trabalhadores. «Os gastos operacionais consolidados excluindo as transacções de atletas aproximaram-se dos 50 milhões de euros, o que equivale a um acréscimo de 25,4% face ao período homólogo. Esta variação é essencialmente justificada pelo impacto de 5 milhões de euros com a inclusão da Benfica TV no perímetro de consolidação da Benfica SAD e pelo aumento de 3,7 milhões de euros ocorrido nos gastos com pessoal da Benfica SAD, essencialmente justificado pela aumento da massa salarial do futebol profissional».
«A rubrica de receitas de televisão ascendeu a um montante de 11,4 milhões de euros, o que corresponde a um crescimento de 159,9% face aos 4,4 milhões de euros obtidos pela Benfica SAD com a exploração dos seus direitos televisivos no período homólogo. Esta variação está relacionada com a inclusão da Benfica TV no perímetro de consolidação da Benfica SAD e pelo novo modelo de exploração dos direitos televisivos. Contudo, mesmo considerando as receitas individuais da Benfica TV no período homólogo, que ascenderam a cerca de 2,4 milhões de euros, o acréscimo dos rendimentos gerados pelas receitas de televisão correspondeu a 4,6 milhões de euros, o que representa um crescimento de 68%», salientou a SAD do Benfica.
No Relatório e Contas, nota ainda para mais um valor relacionado com a Benfica TV: «Os fornecimentos e serviços de terceiros e as depreciações e amortizações foram as rubricas que sofreram um maior impacto com a inclusão da Benfica TV no perímetro de consolidação, tendo atingido um montante de 13,7 e 6,6 milhões de euros, respetivamente.»
Domingos Soares de Oliveira, de qualquer forma, garantiu que o Benfica «vai buscar muito mais que os 22 milhões de euros» por ano oferecidos em 2011 pela Olivedesportos. Os primeiros meses neste contexto são positivos.
Embora tenha assegurado a transmissão dos seus jogos caseiros, o clube não perdeu adeptos no Estádio da Luz. A onda demorou a erguer-se mas os encarnados vão terminar a época com a melhor média desde 2009/10 (44 mil contra 50 mil de média no último título nacional).
O ponto de viragem no número de espetadores no recinto foi igualmente o dia de um dos resultados históricos do canal. A 12 de janeiro, num contexto de homenagem ao malogrado Eusébio, o Benfica recebeu o FC Porto e o canal do clube fechou o dia no quarto lugar dos canais por cabo.
Durante o clássico, a Benfica TV teve uma audiência média de 3.1 e um share de 8,2%. Era. Números interessantes mas longe da média habitual do canal.
Outra questão levantada foi a possível parcialidade das pessoas envolvidas na transmissão dos jogos caseiros do Benfica. Na reta final da primeira temporada, nota para um processo sumário instaurado a Enzo Pérez em dezembro, após uma partida – frente ao Arouca, 2-2 - no Estádio da Luz. O médio foi apanhado pelas câmaras (em direto) a fazer um gesto considerado injurioso e apanhou um jogo de castigo. As críticas externas – em relação à qualidade, aos conteúdos e à isenção -, ainda assim, permanecem.