Mais longe e mais alto é uma rubrica do Maisfutebol que olha para atletas e modalidades além do futebol. Histórias de esforço, superação, de sucessos e dificuldades

Ana Catarina Monteiro chegou à natação com apenas três anos, dividindo na infância a paixão nesta modalidade com o ballet e a ginástica, e mais tarde ainda a dança. Desde os sete anos que compete no Clube Fluvial Vilacondense, conquistando desde sempre vários títulos e recentemente batido os recordes pessoais nos 800 metros livres, 200 estilos, 100 bruços e 100 mariposa e os nacionais nos 200 mariposa em piscina curta e longa.

A fazer o seu caminho, aos 24 anos, a atleta portuguesa assume-se focada nos Jogos de Tóquio depois de ter ficado à porta dos últimos. «É o grande objetivo da minha carreira. Até porque depois dos JO terei 26/27 anos e começarei a pensar em sair do mundo da natação para entrar no mundo profissional», disse a nadadora, que atualmente frequenta o quarto ano da licenciatura de Bioengenharia na Universidade do Porto.

À conversa com o Maisfutebol, a atleta explica como tudo começou. «Os meus pais colocaram-me na natação apenas para estar à vontade dentro de água, na piscina ou quando fosse de férias, mas o gosto foi aumentando, a dedicação também e foi uma evolução natural. Sustos? Nenhum, mas aos sete anos parti a cabeça na piscina numa brincadeira de crianças», contou.

Ainda assim, não ganhou medo mas nem sempre a natação foi a prioridade.

«Até ao final do 12.º ano a minha prioridade eram os estudos e a natação vinha por acréscimo, mas quando entrei para a faculdade, que foi quando comecei a obter melhores resultados, optei por me focar na natação», disse, esclarecendo: «Mas sem deixar os estudos porque um dia a natação acaba e os estudos é que me vão dar um futuro.»

Tendo de abdicar de várias coisas ao longo dos anos, não conseguindo ter «o dia a dia de um jovem normal», Ana Catarina Monteiro não se arrepende: «Sempre gostei muito de treinar por isso arranjei sempre tempo para conciliar tudo.»

«E nem sequer posso dizer que tenha abdicado de alguma coisa. Sempre fui bastante organizada e acho que foi isso que me foi ajudando a conciliar tudo. Faço tudo aquilo que quero porque sempre tive tudo muito planeado: aulas, saídas com amigos, natação…»

Desde há muitos anos que as semanas são intensas, mas continua a haver espaço para tudo: «Faço cerca de 10/11 treinos por semana. Treino de manhã, faço ginásio e volto a treinar à tarde. Acordo às 6h47 - é uma 'panca', não gosto de pôr o despertador às horas certas (risos) - e aproveito o tempo livre para descansar, estar com amigos e com o meu namorado.»

Mesmo em semana de Queima das Fitas do Porto - como é esta semana -, Ana Catarina Monteiro mantém o ritmo: «Noitadas e festas foi sempre aquilo que tive de abdicar mais, mas não posso dizer que tenha sido um sacrifício muito grande. A semana da Queima para mim é igual às outras semanas, só mantenho a tradição de participar no Cortejo e quando posso vou à Serenata.»

Muito adulta no pensamento, algo que a competição também lhe deu e exige, a nadadora sublinhou que «o melhor é ter sempre moderação», mas também não se focar apenas na natação: «É importante manter tudo o resto, mesmo a faculdade serve para desanuviar a cabeça e não estar sempre focada na mesma coisa. Claro que por ter objetivos muitos concretos tudo gira à volta da natação, mas acho que nunca pode ser tudo direccionado para o mesmo.»

Foi a pensar assim que Ana Catarina Monteiro chegou até aqui e que nos últimos dois meses tirou os recordes nacionais à «grande Sara Oliveira», conseguindo assim qualificar-se para o Europeu de Glasgow, que se realiza em agosto, e para os Mundiais da China, marcados para dezembro.

«Depois de falhar os últimos JO e ter sido operada ao ombro direito - lesão antiga e sofrida na natação -, ter conseguido voltar assim foi gratificante e mostrou que estes últimos anos valeram a pena», disse, recordando o golpe que sofreu em 2016: «Estive pré-apurada para os JO e três semanas antes soube que não iria porque as vagas mudaram.»

A prova seguinte à notícia foi por isso a mais difícil da carreira a nível psicológico, porque fisicamente não se lembra de nenhuma que tenha custado mais: «Psicologicamente custou-me muito. O campeonato nacional foi dois ou três dias depois da confirmação. O meu treinador pôs-me a hipótese de não nadar, mas eu achei que devia ir e que iria ser bom para mim.»

Agora acredita que não verá o sonho desfeito: «Neste momento já sei o tempo que tenho de ter e é nisso que estou focada. 2.08,43 minutos, ou seja estou a cerca de um segundo e meio. Sei que não é fácil, mas acredito que possa ser possível. Estou a treinar bem, no caminho certo e se continuar a trabalhar poderei conseguir. Quanto mais rápido melhor, mas só a partir de março de 2019 é que os tempos serão reais.»

«Quero preparar-me o melhor possível», justificou, deixando de lado o receio: «Se atingir o mínimo A, sei que vão os dois melhores do país e por isso não há esse risco. Por isso, o meu foco está no mínimo A. Não posso dizer que estou mais tranquila, mas estou mais confiante e isso dá-me mais confiança no meu objetivo. Na altura foi uma frustração, agora é uma força-extra.»

Para já, satisfeita com os tempos das últimas provas, a atleta do Clube Fluvial Vilacondense aponta o objetivo mais imediato: o Europeu. «Tentarei bater de novo o recorde e depois disso, a meia-final é um objetivo muito realista e chegar à final é um sonho. Mas, o principal objetivo é bater o recorde nacional, tudo o que vier depois será positivo.»