«Hoje tiveram um breve vislumbre do futuro, e este clube é isto mesmo: nunca ficamos imóveis. Continuem a apoiar-nos que os bons tempos vão voltar»

Foi desta forma, visivelmente emocionado, que Ryan Giggs se dirigiu aos adeptos do Manchester United, após a vitória (3-1) sobre o Hull, último jogo caseiro da temporada. O discurso, no círculo central, rodeado por toda a equipa, aconteceu depois de o treinador Giggs ter permitido ao jogador Giggs cumprir aqueles que foram, com toda a probabilidade, os derradeiros 20 minutos da carreira em Old Trafford. A melhor das prendas, no jogo que uniu passado e futuro para fechar um ciclo.



Perante o público que o apoiou ao longo de uns inacreditáveis 23 anos, o galês voltou a deixar a sua marca: no jogo número 963 pelos «red devils», fez o passe para Van Persie apontar o terceiro da equipa, e ainda viu o guarda-redes Jakupovic negar-lhe um golo, com uma grande defesa a um livre direto. A defesa, para já, implica o fim de uma tradição: Giggs marcou golos em todas as edições do campeonato inglês desde 1991, menos na atual.

A viagem a Southampton, no próximo fim de semana, será a última oportunidade para fazer o gosto ao pé – isto admitindo que o treinador esteja de acordo: ao atribuir-se a si próprio os primeiros minutos desde que rendeu David Moyes, Giggs tornou-se o primeiro jogador-treinador a exercer de facto as duas funções no clube, desde Clarence Hildicth, em 1927. No banco adversário, esta noite, estava um senhor de meia idade e barrigudo chamado Steve Bruce que, contra todas as evidências, foi companheiro de equipa de Giggs nas primeiras cinco épocas deste na equipa principal.

Lesão de Jones no adeus a Vidic

O adeus apoteótico de Giggs ofuscou também o último jogo em Old Trafford de outro pilar da era Ferguson, o sérvio Nemanja Vidic, para quem Giggs pediu uma ovação especial. Vidic começou no banco, mas teve de entrar mais cedo do que o previsto, face à lesão no ombro sofrida por Phil Jones, aos 22 minutos. Um contratempo que lhe pode custar a ida ao Mundial, e que foi o único ponto negativo para o United, numa noite em que, para variar, foram os veteranos a sair do banco para coexistirem em campo com os jovens, ajudando a virar a página sobre a temporada mais sombria dos últimos 25 anos do clube.



O regresso aos golos de Van Persie, mês e meio depois do último, foi a cereja no topo do bolo, mas ficou relegada para segundo plano, com a estreia demolidora do jovem James Wilson (18 anos), que marcou aos 31 e 61 minutos, antes de ser substituído pelo craque holandês, com os mais de 75 mil espectadores a tributarem-lhe uma ovação em pé. Bem apoiado pelo jovem prodígio Januzaj, que com os seus 19 anos e 26 jogos quase fez figura de veterano, Wilson foi a expressão mais risonha do tal «vislumbre do futuro» a que Giggs se referiu.


O primeiro golo de Wilson

Numa noite carregada de simbolismo, o técnico promoveu também a estreia a titular de outro jogador nascido depois da sua estreia pelo Man. United, o jovem galês Thomas Lawrence (20 anos), cujo lugar ocupou aos 70 minutos. Com Van Gaal como mais do que provável sucessor, a ser anunciado em breve, é quase certo que as mudanças no clube vão ser bem mais profundas – e vários nomes, entre eles o do português Nani, que nesta terça-feira nem se sentou no banco, devem ter terminado o seu ciclo em Old Trafford. Mas, ao contrário de Giggs e Vidic, sem direito a ovação e vénia.