O desafio foi lançado pelo secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, durante a mega-manifestação que juntou cerca de 70 mil pessoas nas ruas de Lisboa, segundo os números avançados pelas forças de segurança. Uma projecção feita por baixo, garante, no entanto, a Intersindical que fala numa participação «acima das 80 mil pessoas e que poderá mesmo ter ultrapassado as 100 mil».

«Este protesto tem de ser cada vez mais amplo», gritou aos manifestantes o líder sindical, que defendeu a necessidade de alargar a luta dos funcionários da Função Pública aos trabalhadores do sector privado.

Apesar de afirmar que «todas» as possibilidades estão em aberto, questionado pelos jornalistas, Carvalho da Silva afasta, para já, a possibilidade avançar para uma greve geral, desmentindo uma rumor que circulou pelos manifestantes durante a tarde.

Jerónimo de Sousa, que participou no protesto, que terminou frente às escadarias da Assembleia da República, assim com Francisco Louçã, do Bloco de Esquerda, admite que a mega manifestação de hoje, pode ser o sinal de partida para uma paralisação geral.

«É preciso recuar aos anos 80 para encontrar uma manifestação desta dimensão. Tendo isso em conta, pode observar-se que os trabalhadores estão dispostos a continuar e a elevar a sua luta contra esta ofensiva do Governo», referiu o líder do PCP.

No discurso que fez aos manifestantes, Carvalho da Silva criticou a postura assumida pelo patronato e pelo Governo e defendeu que «é tempo de exigirmos mudanças de agulha» na política económica e social «injusta» que tem vindo a ser seguida.

«Eles ignoram-nos mas sabem que nós temos razão», disse o líder da CGTP, defendo que José Sócrates precisa de «humildade e (. . .) ouvir as razões dos que protestam».

O primeiro-ministro foi o principal visado dos milhares de manifestantes que, durante o discurso do líder sindical, mimaram Sócrates com vaias bastante sonoras e diversas palavras de ordem.

O protesto levou mesmo Carvalho da Silva a propor aos manifestantes um «contracto» para deixarem de apupar o nome do Chefe de Governo, caso contrário, devido ao número elevado de citações a José Sócrates dificilmente conseguiria chegar ao fim do discurso.

Selado o «acordo», que foi cumprido a custo pelos manifestantes, Carvalho da Silva defendeu uma «mudança» das políticas sociais e uma maior «responsabilização» dos patrões.

«Pretendemos políticas diferentes, quer nas políticas sociais, quer na estratégia de desenvolvimento do país. É preciso uma política que se centre nas pessoas e não nos números a favor só de alguns» referiu o sindicalista.

O líder da Inter criticou ainda a «postura quase doentia» do Governo «centrada obsessivamente no défice» e defendeu um «orçamento de viragem» para 2007.