Manuel José chegou esta manhã a Portugal para um período de descanso, na sequência dos tristes episódios que deixaram o futebol egípcio de luto. O treinador português reconhece estar afectado com a situação mas não pretende desistir.

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Em conversa com os jornalistas, Manuel José adiantou que tem regresso marcado para dia 16 de Fevereiro e que pretende mesmo terminar a carreira ao serviço do Al-Ahly.

«Vi pessoas serem atiradas da bancada»

«Vou voltar, de certeza. Gosto do país e o povo egípcio é generoso e afectivo. Não é um povo agressivo. De todos os países árabes que já visitei, o povo mais tranquilo é o egípcio», frisou o técnico luso.

Manuel José não tem provas nesse sentido mas considera que se tratou de um acto premeditado: «Não temos provas de que foi organizado, mas que parece, parece.»

«Morreram quatro miúdos no nosso balneário»

«Ninguém mostrou isso, mas eles tinham um dístico em inglês, com letras garrafais a verde, dizendo: vocês vão morrer todos aqui. Aquilo foi feito para a imprensa internacional, porque sabiam o impacto que aquilo ia ter. Eles foram para matar toda a gente», frisou.

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O treinador português lamenta a morte de quatro adeptos já no balneário do Al-Ahly: «Jogadores e técnicos conseguiram chegar aos balneários, eu fiquei a meio, puxaram-me para uma sala VIP. Queria ir para o nosso balneário, onde faleceram quatro adeptos.»

«Levei socos, estou bem. É o caos completo»

«Levei muitos socos e pontapés, sempre pelas costas, mas também muitos beijos, porque há muita gente que gosta de mim. Acho que foi isso que me permitiu sair dali com vida», acrescentou o técnico luso.

«Aquilo foi tudo orquestrado»

Não restam grandes dúvidas. Os adeptos do Al-Masry esqueceram as questões desportivas e atacaram os adversários por motivações políticas.

«Ontem também disseram que tinham sido contratadas 600 pessoas para ir lá fazer aquilo, mas não há provas. Agora, não há dúvidas que aquilo foi orquestrado. Não tem nada a ver com realidades desportivas, até porque o Al-Masry nem luta por títulos», lembrou Manuel José.

Os adeptos do Al-Ahly, do Cairo, estiveram na linha da frente dos protestos contra Mubarak.

«O futebol está claramente a ser usado para fins políticos. Aquilo, tudo indica, foi orquestrado para matar os nossos adeptos.»

O treinador português condena a actuação policial: «Havia um aparato incrível de polícia e eles entraram por ali dentro com uma facilidade impressionante. Ninguém mexeu um dedo para nada. Depois do jogo, desapareceram todos».

«A polícia estava sentada de costas para o relvado, virada para os adeptos, e ninguém se mexeu. Até o árbitro estava condicionado. Era impossível jogar futebol», rematou Manuel José.

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