O Maisfutebol desafiou os treinadores portugueses que trabalham no estrangeiro, em vários pontos do planeta, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:
Leia a apresentação de Manuel Madureira
MANUEL MADUREIRA, Al Qadisyia FC (Arábia Saudita)
«Olá caros amigos.
Continuo neste novo texto, na Arábia Saudita, com o Al Qadisyia FC.
Desta feita, abordarei um tema que normalmente não é do
conhecimento do grande público. Normalmente fica fechado na gaveta do segredo de uma equipa de futebol.
Alimentação: um dos mais importantes fatores na vida de um atleta.
Treinar não é só correr, interpretar os esquemas táticos do treinador, rematar ou pensar futebol, é também comer, saber comer.
E comer não é só sentar à mesa, olhar o cardápio e escolher.
A alimentação de um atleta, sobretudo de alta competição, baseia-se no antes, no depois e também no durante.
O que pretendo dizer, é que o equilíbrio alimentar, a chamada dieta desportiva, é também fator importante nas performances dos atletas.
Ora, nestas equipas africanas por onde passei (Tunísia, Argélia, Marrocos e Republica do Congo), as coisas evoluem de forma muito particular, mas deixo este contexto para um próximo capítulo.
Vou concentrar-me apenas no AL QADISYIA FC da Arábia Saudita. Tinha no meu staff técnico dois fisioterapeutas e um médico, todos de nacionalidade egípcia.
O que faziam no clube fica a muitos anos luz dos
nossos vulgos massagistas portugueses.
Se as coisas evoluíram positivamente foi somente depois de muitas reuniões, muitas vezes biquotidianas, massacrando
a mentalidade deles e o seu
savoir-faire, para que viessem ao encontro daquilo que se aprende em Portugal e que se enquadra no ABC mundial do futebol.
Chega de paisagem, passemos diretamente ao concreto.
Constatei que o staff médico não fiscalizava a confeção dos alimentos e não escolhia o que os atletas deveriam comer nas várias etapas do dia-à-dia profissional.
A maior parte das vezes os atletas comiam nas instalações do clube e cada um comia o que queria, mesmo em dias de jogo, a horários diferentes uns dos outros.
Ora, significava isto que a fisiologia do atleta estava
diferentemente preparada para o estímulo (carga competitiva) do jogo a efetuar seguidamente ao dito almoço.
Alguns mesmo não respeitavam os horários para uma satisfatória digestão, pondo em risco a sua saúde.
Não foi fácil alterar hábitos e costumes. Foi preciso metralhar a mentalidade de atletas e staff.
Até comecei a verificar a assimilação pretendida mas, pasme-se, quando numa das minhas visitas surpresa aos quartos dos jogadores, verifiquei que a grande maioria tinha autênticos arsenais de chocolates, batatas
fritas, amendoins, rebuçados, amêndoa-cajú e coca-cola.
É impossível mudar tudo e nesse dia nada disse, limitando-me apenas a observar. Depois fui radical, utilizando a disciplina como arma de persuasão.
Todos os jogadores, em dias de concentração e deslocação, eram revistados e impedidos de sair do hotel. Mas, para ter sucesso nesta minha incursão, senti-me na obrigação de também os motivar.
Então, combinei (embora não fosse de todo ideal), que a cada vitória levantava o boicote, apenas por uma hora, para eles se satisfazerem, mas sempre vigilante para cortar com os excessos.
Fui utilizando a tática de
uma no cravo, outra na ferradura e com este
modus operandi consegui levar a água ao meu moinho, tendo provado aos jogadores que a mudança fora proveitosa.
O mais importante na relação de um treinador/jogador é a capacidade do treinador mostrar e convencer o jogador que a sua receita é de facto correta e este fator só floresce com os resultados.
Despeço-me com um abraço amigo.
Façam o favor de serem felizes onde e com quem quer que estejam.
Manuel Madureira»
Made In
13 mar 2013, 16:57
Manuel Madureira: ataque a chocolates, amendoins e batatas fritas
Crónicas Made In Portugal
PJC
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