Diego Maradona ainda não tinha 16 anos quando um golpe de estado, a 24 de Março de 1976, tirou os «peronistas» do poder, na Argentina. O Processo de Reorganização Nacional governou pelo terror e jorrou sangue nas «calles» argentinas. Já antes, Maradona era visto pelos «peronistas» como um exemplo, com os Cebollitas a percorrerem a América do Sul. A política sempre influiu na vida de Maradona, desde a infância até ao Mundial-86.

Os Cebollitas estiveram 137 jogos sem perder, sempre com Diego como figura. Jogaram em toda a Argentina. Como exemplo do crescimento e influência desportiva do período «peronista», partiram em digressão, com jogos no Chile, na Bolívia e muitos outros destinos na América do Sul.

Amigo de infância, Jorge Carrizo recebia presentes de Maradona, como conta ao Maisfutebol: «Diego trazia-me garrafas de whiskey, daquelas pequenas, que se davam nos aviões», revela. El Pibe aproveitava de todas as maneiras o modo de transporte que o Estado lhe proporcionava, algo que, naquela altura, estava apenas ao alcance dos ricos. Anos depois, já no Argentino Juniors, um outro Governo iria ter maior influência na vida de D10S.

«O jogador não pode sair, a pátria precisa dele»

A história é contada por Josep Maria Minguella. O empresário catalão levou grandes futebolistas para o Barcelona, desde Romário, Hagi até Messi. Mas o primeiro de todos foi Maradona. Minguella relata numa autobiografia que estava à procura de um extremo direito para o Burgos. O alvo era Jorge Lopez, do Argentino Juniors. Por sorte, assistiu à estreia de Diego. Pouco depois, estava em contacto com o presidente do clube e fez o negócio por cem mil dólares! O Barcelona recusou-se a pagar tanto dinheiro por um jovem de 16 anos.

Em 1980, em pleno «Processo», o Barça volta atrás. Minguella negoceia El Pibe. O acordo foi rápido, a aparição do Regime também. Julio Grondona, presidente da federação argentina, já o era naquele ano e informou que havia um problema com a transferência.

O almirante Carlos Lacoste fora chefe da organização do Mundial-78, na Argentina e comunicou a Minguella: «O jogador não pode sair porque a pátria precisa dele. Se quer fazer negócios neste país, podemos facilitar noutros casos, mas esqueça este. Até ao Espanha-82, Maradona não sai.»

A vida de Maradona era influenciada ao mais alto nível político, até porque um dos generais mais sangrentos no período da ditadura tinha uma forte ligação ao Argentino Juniors. Carlos Guillermo «Pajarito» Suárez Mason foi julgado por crimes contra a Humanidade e cumpriu prisão domiciliária. Voltou à cadeia porque decidiu celebrar os 80 anos no recinto do Argentino Juniors, em 2004 já chamado «Estádio Diego Armando Maradona». Diz-se que foi ele quem proibiu a saída do Pelusa para o Barça, tal como, conta-se, Salazar dissera não à saída de Eusébio, do Benfica para Itália.

Apenas em Maio de 1982, o Barcelona, e Minguella, conseguem contratar Maradona, que estava concentrado com a selecção argentina em Alicante, nas vésperas do Mundial de Espanha. Quatro anos depois, a política voltaria a atravessar-se no caminho.

A Guerra e o Mundial-86

Durante o «Processo», a Argentina ocupou as Malvinas e entrou em guerra com a Inglaterra. As mães argentinas choravam milhares de desaparecidos, torturados e assassinados pelas juntas militares. Agora, chorava também os mortos na guerra com Inglaterra, uma guerra que no Mundial-86 tornou ainda mais importante o confronto entre argentinos e ingleses.

Maradona resolveu o encontro. Primeiro com a «Mão de Deus», depois com um golo que derrubou seis ingleses de uma vez só. Naquele 22 de Junho de 1986, Maradona deu algum conforto aos que perderam filhos na guerra. O 24 de Março é o «Día Nacional de la Memoria por la Verdad y la Justicia», para que sejam lembradas as lágrimas de todas as mães argentinas. Os golos de Maradona à Inglaterra também não nos deixam esquecer...