Esteve quase a assinar pelo Leixões, chegou a reunir-se com Carlos Brito, mas acabou por mudar-se para o Bessa. Os primeiros tempos de Marcelão em Portugal foram porém de pânico. «Comentei até com a minha mulher sobre onde nos tínhamos vindo meter».
O problema era os salários em atraso. «Tinha assinado por três anos e logo na primeira semana lia nos jornais que o clube devia dinheiro a jogadores, que o presidente queria ir embora, que havia questões com a justiça. Tudo isso assustou-me», conta.
Ficha de Marcelão
O Barcelona e a amizade com Simão
«Mesmo na terceira divisão do Brasil, os clubes podem pagar mal, mas não se atrasam nos pagamentos. Então fiquei com medo. Os jogadores podem esperar pelo dinheiro, mas a renda da casa, a escola dos filhos, nada disso espera dois ou três meses».
Com o tempo, e sobretudo com a chegada de uma nova direcção, tudo se compôs. «Nessa altura pensámos que Deus não nos tinha trazido para aqui para sofrer e que as coisas se iam resolver. Felizmente agora tudo corre pelo melhor e estamos felizes aqui».
«A minha mulher diz-me que estou a ficar um bruto»
Com o início da Liga e os golos que se sucediam, Marcelão deu nas vistas. Nesta altura soma cinco golos e duas assistências que fazem dele um jogador fundamental no actual Boavista. Os livres do central tornaram-se mesmo uma fonte de rendimento da equipa.
«É uma capacidade que desenvolvi nos dois últimos anos. No Brasil chegava a bater 50 livres por treino. Com isso melhorei a colocação da bola, porque força sempre tive, e nas duas últimas épocas marquei oito golos em cada. Mas no início chutava muito alto».
Quando chegou ao Boavista, de resto, Pacheco já sabia que podia contar com ele para esta especialidade. «O Vítor Nóvoa viu dois jogos meus no Brasil e em ambos marquei golos de livre. Por isso o treinador deu-me total liberdade para bater as bolas paradas».
No meio de tudo isto a adaptação a Portugal tornou-se fácil. «Aqui toda a gente fala a mesma língua, o balneário é amigo e havia o Laionel, com quem tinha jogado no Vila Nova. Nos primeiros dias o Boavista até me queria colocar num hotel, mas eu disse-lhe que ficava em casa do Laionel. Fiquei lá até arranjar clube».
Só a adaptação ao futebol demorou mais. «No Brasil o jogo é mais técnico e mesmo os defesas tentam ter boa capacidade de jogar. Aqui é mais duro. Há entradas que aqui são normais e que no Brasil seriam imediatamente punidas com amarelo».
Isso, garante, foi o mais difícil. «O Pacheco quer que eu entre firme, então tive que me adaptar a isso e começar a usar mais a força física. Até a minha esposa me diz pôxa, você está ficando um brutalhão. Então eu explico-lhe. Aqui tem que ser assim, amor, é assim que o treinador quer. Acho que estou bem adaptado».