P.S. (Para Seguir) é um espaço assinado pelo jornalista Nuno Travassos, que pretende destacar jogadores até aos 21 anos. 

No passado dia primeiro de dezembro o Ajax anunciou a renovação de contrato com Matthijs de Ligt, mais uma promessa extraída da sua famosa e inesgotável academia. Um prémio para o central que, apesar de ter apenas 17 anos (!!) já dá os primeiros passos na equipa principal do emblema holandês.

Embora tenha nascido em Leiderdorp, a cerca de quarenta quilómetros de Amesterdão, Matthijs cresceu em Abcoude, a escassos nove quilómetros da ArenA do Ajax. Nos primeiros anos de vida, porém, mostrou pouco interesse por futebol. Aos cinco anos até quis experimentar o ténis, e o pai, Frank, garante que tinha jeito.

Só que apenas um ano depois Matthijs apaixonou-se pelo futebol e foi jogar para o FC Abcoude, onde esteve entre 2005 e 2008. Depois mudou-se para o Ajax, clube onde está portanto desde os nove anos de idade.

Com um percurso sólido também nas seleções jovens holandesas, de Ligt participou em duas fases finais do Europeu de sub-17. Na última, a deste ano, capitaneou mesmo a representação «laranja» que foi eliminada por Portugal nas meias-finais.

Por essa altura já estava decidido que Matthijs seria integrado no Jong Ajax, a equipa de reservas que joga no segundo escalão, mas o salto foi ainda maior. De Ligt foi chamado para o estágio de pré-época da equipa principal e logo convocado para a visita ao PAOK, em jogo da terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões, embora não tenha saído do banco.

A estreia surgiu a 21 de setembro, no jogo da taça com o Willem II. Titular, precisou de apenas 25 minutos para tornar-se o segundo jogador mais novo de sempre a marcar pela equipa principal do Ajax, depois de Clarence Seedorf.

Depois disso voltou a jogar no segundo escalão e até na Youth League, mas nunca perdeu o contacto com a equipa principal. No passado dia 24 de novembro estreou-se na Liga Europa, diante do Panathinaikos, e três dias depois fez o primeiro jogo no principal escalão do futebol holandês, a Eredivisie. Uma semana de sonho, concluída com a assinatura do novo contrato.

Matthijs pode enganar na primeira impressão. Alto (1,87m) e corpulento, pode passar a ideia de que a capacidade física compensa alguma limitação técnica, mas é um erro cair nesse estereótipo. De Ligt não é só corpo. A central, ou mesmo a médio defensivo (onde também está habituado a atuar), mostra qualidade no passe e destreza quando avança com a bola controlada, a criar desequilíbrios. Sempre foi incentivado a fazê-lo, de resto, ou não estivesse na academia do Ajax.

Mas para além disso tem a felicidade de receber um aconselhamento especial: há dois anos, quando começou a ser procurado por inúmeros empresários, o pai de Matthijs decidiu pedir a Barry Hulshoff que acompanhasse o filho.

Jogador do Ajax entre 1966 e 1977, vencedor de sete campeonatos e quatro taças da Holanda, três títulos de campeão europeu, duas supertaças europeias e uma Taça Intercontinental, Hulshoff aconselha de Ligt tanto na vertente negocial como na desportiva, até porque jogava como central.

«Disse-lhe que ser defesa não é bater, é resolver problemas. Raramente veem-no a entrar à maluca. Mas se for preciso ele entra», disse Hulshoff.

Matthijs de Ligt é uma espécie de líder introvertido. Sereno, impõe-se pela maturidade que revela em campo. «Quem o vê em campo diz que tem bem mais do que 17 anos. Toma decisões lógicas e não malucas», referiu recentemente o técnico do Ajax, Peter Bosz,