Passaram nesta terça-feira três décadas sobre o jogo de estreia de Paolo Cesare Maldini. E não quisemos deixar de assinalar aqueles que foram os primeiros minutos ao mais alto nível de um dos maiores defesas de sempre – para muitos, talvez o maior. E que não pode também ser excluído do lote dos melhores de sempre, em absoluto. Como o não foi.

Foi a 20 de janeiro de 1985 que Paolo Maldini se estreou com a camisola da equipa principal do Milan, num jogo da liga italiana em casa da Udinese. Foi chamado aos 16 anos para o banco do Milan devido a uma série de lesões na equipa treinada por Nils Lindholm. Sergio Battistini lesionou-se e foi substituído por Maldini ao intervalo.



Não são muitas as imagens que ficaram desse momento que foi o primeiro de uma carreira gloriosa. E cheia de números. Mas, por isso, muito do que se passou depois justifica que não se esqueça aquela data (tão) simbólica.
 


Aos 16 anos (nasceu em junho de 1968), Maldini jogou os primeiros minutos de 25 épocas sempre a defender o emblema do Milan. Há quem diga que gostava da Juventus por causa de Roberto Bettega, mas, filho de quem era, não podia ter começado de outra maneira. Filho de Cesare Maldini (quatro vezes campeão italiano e uma vez europeu pelo Milan), o jovem Paolo entrou para as camadas jovens do clube em 1978, quando tinha 10 anos.

Saiu de lá aos 41 anos, 902 jogos oficiais depois – o que o torna recordista absoluto no clube; o que o tornou também recordista absoluto na liga italiana, com 647 jogos. Sempre com o Milan, recorde-se. A estes recordes internos – quer com o Milan, como mais jovem estreante, quer a nível italiano, com as 25 épocas seguidas – juntam-se também as marcas obtidas internacionalmente.

Maldini tem o máximo de jogos em competições europeias de clubes (174), é o «rossonero» com mais jogos na Taça/Liga dos Campeões (139) e, nesta prova, igualou Francisco Gento com oito finais (ganhou cinco, enquanto o espanhol venceu seis). Além dos cinco títulos de campeão europeu de clubes, Maldini venceu sete vezes o campeonato italiano, ganhou uma Taça de Itália, cinco Supertaças italianas, cinco supertaças europeias e duas Taças Intercontinentais.

O Milan retirou o nº3 com que jogou.



«Ele tem uma enorme presença, espírito competitivo, capacidade física e, mesmo sem ser brilhante na técnica, influenciou todas as equipas do Milan durante a sua maravilhosa era de sucesso», disse Alex Ferguson

Maldini é o símbolo do Milan. Ele dá continuidade e representa o antigo e o moderno», disse Gianni Rivera

A par das nove centenas de jogos pelo Milan, Maldini jogou na seleção italiana de 1988 a 2002 em 126 jogos – mais um recorde no seu país –, o que contribuiu para mais de 1000 jogos oficiais na carreira. Mas foi com a «squadra azzurra» que teve os momentos mais amargos da carreira ao perder as finais do Mundial 1994 e do Euro 2000. É mais um dos melhores de todos que nunca conseguiu um título por seleções. Algo insubstituível – como se verá mais tarde numa sua entrevista – mas com o qual mostra que sabe viver.

Em 2005, Maldini tornou-se o marcador do golo mais rápido na final de uma Liga dos Campeões e, com 36 anos, o mais velho. Mas esse golo aos 51 segundos – o primeiro de três sem resposta do Milan – não chegou para ganhar o troféu. Ganhou o Liverpool numa final épica.

Dois anos depois, Milan e Liverpool voltaram a disputar a taça. Venceu o Milan numa final que Maldini dira que foi a que lhe deu mais prazer, porque ninguém apostava no Milan. Tinha 38 anos. Em 2009, terminou a carreira em Florença. Muito bem disposto.



Tudo começou naquele 20 de janeiro de 1985, época em que só fez aquela segunda parte. Mas que foi apenas o preâmbulo do que já se antevia. Em 1985/86 agarrou a lateral esquerda, beneficiando também da lesão do internacional inglês Ray Wilkins. Ganhou o lugar. Mais tarde, «Il Capitano» agarrou também a braçadeira de capitão.

O internacional inglês foi um dos que reconheceram a dimensão daquele jogador: «Podia-se tê-lo colocado a qualquer posição. Assim que o vi pensei, meu Deus, este rapaz tem tudo. Ele tinha 16 anos, um metro e 85 de altura, rápido e forte, com dois bons pés. E ele estava apaixonado pelo futebol. E manteve-se assim, um cavalheiro e um jogador fora de série.»

As últimas palavras desta evocação ficam para Maldini, na tal entrevista, feita pelo «Canal +» espanhol.