É a nova coqueluche do futebol chileno. Miiko Albornoz é um defesa esquerdino que joga na lateral direita. Tem 23 anos. Vestiu há pouco mais de uma semana a camisola vermelha da selecção do Chile pela primeira vez. Marcou o primeiro golo da vitória por 4-0 sobre a Costa Rica. Foi esperado com expectativa. Superou-a. Caiu no goto. Está agora na primeira linha para fazer parte da missão chilena no Mundial do Brasil.

Até há pouco tempo, porém, poucos que não ele e os seus mais próximos podiam acreditar nisto. Miiko Martin Albornoz Inola nasceu na Suécia, em Estocolmo, a 30 de novembro de 1990. Vive na Suécia e é futebolista profissional também na Suécia, onde representa o Malmö. É filho de um chileno que se exilou na Suécia depois do golpe militar de 1973 no Chile e de uma finlandesa.

Abriram-se aqui os passaportes de três nacionalidades. O futebol começou também na infância quando ingressou no Brommapojkarna. No clube de Estocolmo (onde ainda joga o seu irmão Mauricio, médio defensivo, dois anos mais velho) Miiko Albornoz fez a formação até que, em 2011, foi contratado pelo Malmö. De uma primeira época de adaptação passou a titular indiscutível em 2012 agarrando o lugar de defesa direito que foi do dinamarquês Ulrich Vinzents desde 2006. Em 2013, Albornoz e o Malmö sagraram-se campeões da Suécia.



Em duas épocas passou a ser conhecido dentro e fora do país, passou também a ser cobiçado dentro e fora das fonteiras suecas. Do primeiro para o segundo desses anos foi notícia local também por causa de um crime. Em 2013, Miiko Albornoz foi condenado em tribunal por ter tido relações sexuais com uma menor de 14 anos. Ele tinha 21 na altura. O jogador admitiu os factos. Estes foram julgados como consentidos. A justiça condenou-o a dois anos de prisão com pena suspensa.

Desde novembro de 2012, quando ficou a contas com a justiça, Miiko Albornoz ficou suspenso da actividade no Malmö. Quando foi conhecida a sentença, em fevereiro de 2013, continuou suspenso, mas já voltou a treinar-se no clube. Em abril, foi integrado na equipa.

«Já tivemos tempo para reflectir sobre o que aconteceu. Trabalhámos intensamente e fizemos briefings sobre os valores e a ética. (…) O clube ainda olha para este acontecimento que abalou o Malmö de forma séria. Por isso, é importante que sejamos responsáveis em lidar com esta situação. (…) Os jogadores têm de ter consciência de que são ídolos para muitos fãs e que têm grande responsabilidade como atletas de topo. Nesse ponto, já constatámos uma notória e receptiva melhoria de atitude», comunicou o clube sueco na altura da integração.

No mesmo comunicado, Miiko Albornoz também tomou posição: «Foi um período duro. Sinto grandes remorsos e ainda houve pouco tempo para reflectir. Tenho tentado ao máximo corresponder às exigências e às expectativas que o clube e os adeptos depositam de mim. Temos tido um diálogo positivo e eu sei o que é preciso fazer. Por isso, agradeço a oportunidade de poder voltar.»




Com presenças nas selecções jovens da Suécia desde os sub-17 até aos sub-21, a equipa nacional escandinava tratou de dar próximo passo em relação a um jogador que se afirmou localmente e já conhecido além-fronteiras. Após e eliminação da Suécia por Portugal da corrida para o Campeonato do Mundo, Erik Hamrén convocou Albornoz para dois jogos particulares que a selecção escandinava tinha marcados para este mês de janeiro. O lateral podia continuar sueco, jogar pela Finlândia também era uma opção, mas escolheu representar a «Roja» chilena.

«É um grande jogador e é uma pena para mim e para a Suécia que tenha decidido assim. Mas devemos respeitar a sua decisão. E desejo-lhe o melhor». Deixando para Albornoz as explicações da escolha, o seleccionador sueco não deixou porém de dizer que «tem muito talento a atacar e chega constantemente a situações de remate», mas também que «ainda tem muito que melhorar no aspecto defensivo para ser um lateral completo», com a vantagem de que «pode aprender facilmente».

Com os olhos em Albornoz também já andava desde algum tempo Jorge Sampaoli, o seleccionador do Chile. A convocatória para o jogo com a Costa Rica surgiu. Quando chegou ao Chile, Miiko Albornoz assumiu ser «uma grande honra representar La Roja». «O meu pai é chileno e este é um sonho tornado realidade», disse o jogador. O seu pai revelou mesmo que este era «o sonho da sua vida» porque, «apesar de nascido e criado na Suécia, o seu coração sempre esteve ligado a tudo o que tem a ver com o Chile».

Quando chegou para representar uma selecção que diz jogar «sem medo de nada», Miiko Albornoz já sabia que Sampaoli queria que jogasse «como lateral esquerdo com o objectivo de atacar». Em Coquimbo, a «Roja» não só ganhou 4-0 a outro mundialista, como Albornoz casou a estreia com o golo que abriu o marcador.



Foi a estreia perfeita. E o caminho aberto para mais altos voos. «Tenho o sonho de jogar um Mundial, mas agora não penso nisso. Estou contente com os meus companheiros porque ganhámos e quando voltar à Suécia pensarei melhor nisso», disse o lateral depois do jogo. Para Sampaoli também não podia ter corrido melhor o teste com a Costa Rica. O selecionador chileno tem Mauricio Isla como defesa direito e Eugenio Mena como defesa esquerdo – onde jogou Albornoz. E o novo reforço tornou-se ideal para ser uma segunda opção para qualquer dos lados quando o Chile estiver no Brasil.

«É um rapaz muito novo que já seguíamos há algum tempo. Teve um rendimento bastante bom em relação a tudo o que lhe aconteceu de novo», afirmou o seleccionador Sampaoli. Miiko Albornoz é o oitavo jogador não nascido no Chile a representar a «Roja» e um dos seus pés já está no Mundial 2014. Ele que até se declara admirador de Matías Fernández.



Mas pode não ser o último menino de ouro do Chile a ser polido na Suécia. No mesmo Brommapjkarna que o formou joga David Pérez Dybeck, de 9 anos e também nascido em Estocolmo. A mãe é sueca, mas o pai tem nacionalidade chilena. Daqui a dias vai prestar provas ao Barcelona. Não sabe se convence. Mas já sabe que quer ser profissional e também ele escolherá a selecção chilena em vez da sueca, porque o seu futebol «é mais quente». E é em Barcelona que espera encontrar o seu ídolo, Alexis Sánchez.