Está aberto o mercado de Inverno. Visto pelos treinadores como uma oportunidade para alguns acertos, este pode ser um período bem agitado. Está regulamentado há pouco mais de uma década, embora fosse prática corrente em muitos países bem antes disso. Ao longo dos últimos 25 anos tem muitas histórias para contar.

O Maisfutebol recorda alguns dos momentos marcantes do mercado de Inverno na Liga, mas não só. Do reforço que derrubou um presidente da RTP a um recorde mundial em Alvalade. Também reforços decisivos para o título e outros, muitos, nem por isso.  

1993 
Paulo Futre no Benfica

Já lá vão 21 anos desde aquela que foi uma das mais mediáticas transferências de sempre de janeiro no futebol português. Paulo Futre, que tinha sido referência do Sporting, depois do FC Porto e a seguir do At. Madrid, mudava-se para o Benfica. Aposta da direção de Jorge de Brito, teve receção apoteótica no aeroporto e no estádio da Luz, onde deu uma volta de honra ao relvado antes de um Benfica-FC Porto para a Taça de braço no ar e uma palavra de ordem que ficou famosa: «Ganhar, c...» A bronca rebentou pouco depois, quando se soube que a contratação tinha sido financiada com dinheiro antecipado pela RTP por conta de direitos televisivos. Um escândalo tal que levou o governo de Cavaco Silva a demitir Monteiro de Lemos, então presidente da RTP. Quanto a Futre, ajudou o Benfica a vencer a Taça de Portugal nesse ano, antes de se despedir com um primeiro aviso de que as coisas não andavam bem na Luz. Era o prenúncio do verão quente que redundou nas rescisões de Paulo Sousa, Pacheco e João Vieira Pinto, esta com marcha-atrás.



2000 
Trio de ouro em Alvalade

Começou atribulada a época em Alvalade e no final de setembro o italiano Giuseppe Materazzi foi despedido, para dar lugar a Augusto Inácio. A equipa foi recuperando, entrou em 2000 a um ponto do líder FC Porto e numa série de seis vitórias seguidas. O empate na Luz a abrir o ano aumentou a distância para três, mas os leões encontraram novos trunfos. Com nova estrutura no futebol, liderada por Luís Duque, o Sporting foi ao mercado no virar do ano. Chegaram o defesa-central André Cruz, o lateral César Prates, o extremo Mbo Mpenza e o também avançado Spehar. Os três primeiros acrescentaram muito. André Cruz, sobretudo: fez 18 jogos e marcou quatro golos. Mas também Mpenza, 17 jogos e três golos nessa meia época, ou César Prates, 14 jogos e 1 golo. Spehar, pelo contrário, foi irrelevante.

2002 
McCarthy, o goleador

Benni McCarthy também foi reforço de inverno no futebol português. Chegou ao FC Porto por empréstimo do Celta Vigo ainda em dezembro, com Octávio Machado no banco, e estreou-se num jogo de Taça de Portugal frente ao Ac. Viseu, com um golo. Em janeiro, enquanto José Mourinho rendia Octávio nas Antas, McCarthy foi para a CAN com a África do Sul, então treinada por Carlos Queiroz. Voltou em fevereiro, a tempo do clássico com o Benfica, que o FC Porto venceu por 3-2. Não marcou aí, mas terminou essa temporada com uns impressionantes 12 golos marcados em 11 jogos na Liga.

2005 
Nuno Assis e mais dois

A Liga dobrou o ano com o FC Porto na frente e Benfica e Sporting logo atrás, a um ponto. Janeiro foi muito agitado no Dragão e na Luz. No ano de transição após o título europeu, no meio do despedimento de Victor Fernandez, o FC Porto foi buscar quatro reforços brasileiros: Leandro, Cláudio Pitbull, Ibson e Léo Lima, além de ter visto sair mais jogadores, além dos que já tinham deixado o clube no verão: Derlei, Carlos Alberto ou Hugo Almeida, entre outros. O Benfica contratou três reforços: André Luís, Delibasic e Nuno Assis. Só este último fez a diferença. André Luís contou apenas um jogo na Liga, Delibasic saiu do banco em três. Nuno Assis estreou-se a marcar com o Moreirense, fez 15 jogos e foi uma mais-valia decisiva na conquista do título por esse Benfica de Giovanni Trapattoni.

2010 
11 milhões verdes

Dez anos depois daquele janeiro feliz de 2000, o Sporting gastou como ninguém em janeiro. Mesmo, foi o clube mais ativo nessa janela de transferências. Depois da saída de Paulo Bento em novembro, a direção de José Eduardo Bettencourt abriu os cordões à bolsa e encheu de reforços o balneário liderado por Carlos Carvalhal. Foram 11 milhões de euros gastos em Sinama-Pongolle, João Pereira, Pedro Mendes e Mexer. Tanto investimento para tão pouco. Quando dobrou o ano o Sporting estava a 12 pontos do líder Benfica, acabou a 28 pontos, no quarto lugar.

2011 
«El Niño» de recorde

O negócio arrastou-se até 31 de janeiro, mas fez-se mesmo. O Chelsea pagou ao Liverpool 58 milhões por Fernando Torres. O espanhol tornou-se a mais cara transferência de sempre no mercado de janeiro, mas não foi sozinho. Nessa janela de mercado os Blues também contrataram David Luiz ao Benfica, por 25 milhões. Aliás, o futebol inglês gastou à tripa forra nesse janeiro de 2011. O próprio Liverpool foi buscar Andy Carroll ao Newcastle por 41 milhões de euros, mais Luis Suarez ao Ajax, por 26,5 milhões. Ao todo a Premier League gastou qualquer coisa como 270 milhões de euros nesse mês. Quanto a Torres, então cotado como a quarta maior transferência da história em absoluto, penou em Stamford Bridge, abafado pelo peso desse rótulo. Nunca conseguiu no Chelsea igualar os seus números no Liverpool ou no At. Madrid: tem 41 golos marcados em 151 jogos até hoje, contra 81 para 142 partidas em Anfield. Mas, pelo meio, foi campeão europeu, ganhou a Liga Europa e foi bicampeão europeu com a Espanha.

2012 
Lucho e Janko

Mano a mano com o Benfica à entrada para 2012, num ano de transição difícil depois da época de ouro de Villas-Boas, o FC Porto fez duas jogadas no mercado de janeiro: recuperou Lucho González, o «Comandante» que tinha sido tetracampeão em quatro temporadas no Dragão, entre 2005 e 2009, contratado ao Marselha a custo zero. E foi buscar Marc Janko, um avançado austríaco que estava no Twente e chegava com o peso de tentar o que os outros avançados do plantel não conseguiam: disfarçar o vazio deixado por Falcao. Melhor que a encomenda. Estrearam-se ambos a 5 de fevereiro num jogo com o V. Setúbal para a Taça da Liga. O FC Porto ganhou 2-0, com golos de... Lucho e Janko. O avançado cumpriu, marcou quatro golos em 10 jogos para a Liga. Ainda que não tenha tido futuro no Dragão para lá dessa época. Quanto a Lucho, foi o líder de que os dragões precisavam para revalidar o título. Fez 12 jogos, 10 vitórias e dois empates no que restou da época.

2013 
Eixo Alvalade-Dragão

A mudança de Marat Izmailov de Alvalade para o Dragão foi a grande notícia do mercado de janeiro de 2013. Os dragões apostavam no russo, apesar do seu historial problemático no Sporting. Em troca, Miguel Lopes viajou em sentido inverso. Mas o FC Porto não ficou por aí. Também foi buscar Liedson, referência do Sporting da última década, que estava no Corinthians. Em igualdade com o Benfica no virar do ano, o FC Porto acabou por ser campeão. Izmaylov fez ao todo 15 jogos, oito como suplente, e marcou um golo. O Levezinho entrou em seis jogos na Liga. Incluindo o clássico, quando saiu do banco aos 86 minutos e fez o passe para o golo de Kelvin nos descontos, o tal que virou o campeonato para o lado dos dragões. Acabou no final da época a ligação de Liedson ao FC Porto. Izmailov ficou, mas basicamente não entrou ainda nas contas esta temporada.