Três dias após a profunda desilusão provocada pela descida de divisão do Belenenses, o desafio colocado pelo Maisfutebol a Meyong funcionou como verdadeiro lenitivo ao melhor marcador da Liga 2005/06. Recordar a final da última Taça de Portugal, em que o camaronês foi protagonista, tornou-se um agradável exercício mental, uma conversa que pareceu adequada ao objectivo de exorcizar «demónios» recentes.
Curiosa, no mínimo, a primeira observação de Meyong. Não, não se referiu ao golo, nem ao relvado, muito menos ao público. O sol, foi pelo sol que o avançado começou. Meyong recorda que estava «muito calor» e que o sol «parecia sufocar». Se somarmos a isto a ansiedade intrínseca aos grandes jogos, talvez esteja explicada a má entrada do V. Setúbal, que se viu a perder logo aos cinco minutos. Depois, foi procurar o prejuízo, até subir à tribuna de honra e escrever o nome na galeria dos notáveis vencedores da prova.
«Foi um grande jogo, frente ao Benfica, uma equipa muito boa. Todos diziam que o Benfica ia ganhar, que era muito mais forte, e nós, sem pressão, conseguimos surpreender», recorda o ainda avançado do Belenenses, certo de que aquele foi mesmo um dia único. «Sim, não é como os outros jogos, tem um ambiente diferente. É uma festa constante, o Presidente da República está presente, há a entrega da Taça no fim¿ Qualquer jogador quer estar presente e participar, porque não há muitas oportunidades de jogar num estádio tão bonito e sempre cheio».
Na altura em que pedimos a Meyong que recorde o seu golo, decisivo por sinal, o tom de voz do jogador torna-se de imediato mais forte e até uma desprevenida gargalhada acaba por surgir. «Vou recordar-me para sempre desse momento. O Ricardo Chaves rematou à baliza, o Moreira não conseguiu agarrar e eu fui à recarga. Chutei de primeira e já só vi a bola dentro da baliza», conta com desarmante franqueza, coisa rara neste tipo de conversas.
Para domingo, Meyong acredita que não há lugar à atribuição de favoritismo. «Ao contrário do que quase todas as pessoas pensam, aqui tudo pode acontecer e a equipa mais pequena acredita sempre que pode surpreender. O F.C. Porto tem uma equipa muito forte, mas se o V. Setúbal está lá é porque tem categoria para isso. Vai ser um bom jogo», adivinha, antes de instado a comparar o Setúbal de José Rachão com o de Hélio Sousa.
«Acho que são equipa com muitas semelhanças, apesar das muitas alterações no que diz respeito aos jogadores. Tal como o ano passado, defendem muito bem e sofrem poucos golos, são muito consistentes. Parece-me que a maior diferença está no ataque. Este ano marcam menos vezes», responde. Nós contestamos e dizemos que, provavelmente, falta Meyong. Do outro lado, apenas reaparece a gargalhada contagiante. Estava na hora da despedida e ficamos sem resposta à provocação.