Esta é a história de Miguel Lopes, o último reforço do F.C. Porto. Um lateral-direito que começou como guarda-redes porque estava chateado. Farto que os amigos não lhe passassem a bola, disse que a partir daquele momento seria guarda-redes. Porque sim. Se era para não lhe passarem a bola, ia para a baliza e pelo menos não se chateava.
Tinha oito anos, preparava-se para começar a jogar no Oriental e nas brincadeiras de rua gostava de jogar mais à frente. A partir daí cumpriu oito anos de formação como guarda-redes. Primeiro no Oriental, depois do Olivais. A mudança deu-se aos 16 anos, já no segundo ano de juvenil. Outra vez apenas porque sim. Apeteceu-lhe sair da baliza.
A mudança havia de lhe alterar a vida para sempre e começou pelo irmão. Um irmão gémeo. Chama-se Nuno Lopes, joga actualmente no Operário, dos Açores, e cumpriu toda a formação ao lado de Miguel Lopes. Sempre inseparáveis. Aos 16 anos, Nuno Lopes foi convidado para ir às captações do Alverca. Miguel disse logo que ia com ele.
Nos treinos de captação, decidiu que estava farto de ser guarda-redes e que iria jogar à frente. Foi escolhido para ficar. Ele e o irmão. Passou então a ser extremo, mas por pouco tempo. «O mister Alexandre achou que ele era muito forte a atacar e a defender, que podia fazer o corredor todo e adaptou-o a lateral-direito», conta Nuno Lopes.
O convite do Benfica que surgiu no último dia...
A mudança correu bem e a partir daí foi sempre a subir. Na passagem para sénior, estava quase a assinar pelo Sintrense. Aliás, estava tudo combinado para assinar numa segunda-feira. No domingo anterior, o Benfica contacta Miguel Lopes através do agente Dionísio Castro. Disseram-lhe para não assinar com o Sintrense e ofereceram contrato.
Nessa altura deu-se a separação. Miguel Lopes foi para o Benfica B, Nuno Lopes seguiu para o Sintrense. «Nessa altura ficámos muito tristes. Desde bebés que andávamos sempre juntos. Mas por outro lado ficámos felizes por ele ir para o Benfica. A minha vontade era ir com ele. Dei-lhe toda a força e fiquei a torcer por ele», diz Nuno Lopes.
... a amizade com Pelé, que ficou para sempre...
No Benfica B, Miguel Lopes conheceu aquele que viria a tornar-se um dos bons amigos no futebol: Pelé. Esse mesmo, o trinco que joga no F.C. Porto. Tornou-se normal os dois, juntamente com Joel, o outro jovem formado no Salgueiros que foi para a Luz, matarem o tempo livre no Colombo, como gostam de fazer a maior parte dos jovens.
A partilha de balneário com Pelé durou apenas um ano, depois Miguel Lopes saiu do Benfica e Pele seguiu para o V. Guimarães. A amizade, essa, ficou para sempre. Voltaram a jogar juntos na Selecção Sub-21, ainda recentemente, e costumam encontrar-se com frequência pela proximidade geográfica que esta época se gerou.
Voltando à história de Miguel Lopes, na vida seguiu-se a maior mudança de todas. Do Benfica B, o lateral-direito seguiu para o Operário. Um clube que mudou a vida do jovem. Nos Açores, sozinho e rodeado de água por todos os lados, Miguel aprendeu a sacrificar-se. Percebeu o valor do trabalho e a obrigação de lutar por objectivos maiores.
... e os primeiros anos em Chelas, «uma fábrica de bons laterais»
Se há característica que define a família de Miguel e Nuno Lopes é a união, aliás. A união e o sportinguismo, mas esta última perde-se agora: passam a ser todos portistas. Natural do bairro de Chelas, o lateral aprendeu muito novo o valor da família. «Muito do que hoje somos, devemo-lo à nossa família», diz Nuno Lopes, ele próprio lateral, mas esquerdo.
No bairro, Miguel travou amizade com outros miúdos que haveriam de se tornar jogadores. Costinha (Atalanta), por exemplo. Mas também Miguel (Valência) e Rui Duarte (Brasov). «O bairro é uma fábrica de laterais». Partilhavam muito tempo juntos em miúdos, mas hoje o modelo de Miguel Lopes é outro. «Gosta muito do Bosingwa».