O chefe da equipa de Fórmula 1 da McLaren não tem dúvidas: numa altura em que o calendário da competição está em banho-maria, tendo em conta a pandemia da covid-19, os tempos são de reflexão e a crise pela qual a disciplina máxima do desporto automóvel está a passar só pode ser vista como um derradeiro aviso para a sua própria sobrevivência.

«Acho que a crise pela qual passamos é o último aviso para um desporto que antes era insalubre e insustentável e agora chegou a um ponto em que precisamos de mudanças drásticas», alerta Andreas Seidl numa altura em que permanece a incerteza sobre o início da temporada, que estava previsto para 12 de março no Grande Prémio da Austrália em Melbourne, que acabou cancelado devido ao surto do novo coronavírus.

Para atenuar os efeitos da crise financeira na Fórmula 1, a McLaren enviou mesmo à Federação Internacional do Automóvel (FIA) um pedido para que o teto orçamental das equipas, em 2021, seja reduzido dos agora 160 milhões de euros permitidos para 90 milhões, ou seja quase metade dos orçamentos máximos agora existentes.

«O mais importante é dar esse próximo grande passo, que achamos absolutamente necessário, considerando todas as perdas financeiras que enfrentaremos este ano», argumentou o responsável da McLaren em vésperas de uma nova reunião entre as 10 equipas participantes no Mundial de Fórmula 1 e a entidade que supervisiona o automobilismo mundial.

Seidl não encontra qualquer evidência de que a disciplina corra risco de acabar na próxima época, mas antevê grandes dificuldades para a sobrevivência de algumas equipas do circo da Fórmula, caso não sejam, de imediato, introduzidas medidas drásticas: «Se tomarmos as decisões corretas, a Fórmula 1 poderá ser mais sustentável no futuro e mais saudável do que tem sido nos últimos anos (…) Isso deve ajudar a melhorar o desporto e o espetáculo, algo do interesse de todos e também dos fãs», referiu.

Depois de liderar a Porsche nas competições de resistência, Andreas Seidl, de 44 anos, mudou-se no início de 2019 para a McLaren e para já o engenheiro de formação não consegue quantificar as perdas da escuderia de Woking, já que é ainda muito cedo para se conseguir perceber quando vão voltar as equipas ao trabalho, assim como ter uma data provável para o arranque da época.

Nem o próprio diretor desportivo da Fórmula 1, o inglês Ross Brawn, consegue nesta altura antecipar uma data para o início da temporada de 2020. Na semana passada, em declarações à BBC, Brawn afirmou que o prazo limite para o arranque da época seria o mês de outubro. Nessa mesma entrevista Brawn anunciou que está a ser estudada a possibilidade do calendário ter entre 8 e 19 corridas e do mesmo poder terminar, no máximo, em janeiro do próximo ano. O responsável da disciplina máxima do desporto automóvel deixou no entanto a ressalva de que a planificação da época, nesta altura, é alterada de dia para dia.