1 Emoção
Quando um jogo começa, tudo pode acontecer. Essa, que é a essência do futebol, é a primeira certeza da Copa 2014. Favoritos em apuros, os pequenos a obrigarem os grandes a suar, reviravoltas nos resultados. Nem todos, sim. A Alemanha foi a Alemanha, para mal de Portugal. Ainda assim. Foram seis até agora os jogos em que as equipas venceram depois de estarem a perder. Sete, se incluirmos aqui o Holanda-Austrália, que teve duas reviravoltas no mesmo jogo: a Laranja marcou primeiro, mas os Socceroos responderam com dois golos, forçando Van Persie e companhia a dar a volta para vencer o jogo. Em todo o Mundial 2010, para termos uma ideia, houve quatro reviravoltas. E no Brasil os jogos com resultados mais desnivelados não foram entre grandes e pequenos. Veja-se a Espanha, veja-se mais uma vez Portugal. De resto, houve dois empates nos 16 jogos da primeira jornada, quatro nos 23 encontros disputados até agora. E um deles não devia contar. O Brasil-México foi um grande jogo, mesmo sem golos. Sim, que não falamos apenas de emoção, mas de um número bem relevante de jogos de grande qualidade. E clássicos, por sinal dois deles a envolver a Inglaterra, derrotada com honra, frente a Itália e Uruguai.
2 Choque
Escreve-se com as letras de Espanha, claro. Nunca um campeão do mundo em título tinha sido eliminado à segunda jornada. O Brasil viu o fim da história da magnífica seleção espanhola que dominou o futebol mundial nos últimos anos, campeã do mundo e bicampeã europeia. Começou naquele jogo com a Holanda: 5-1, uma goleada inimaginável, uma das piores derrotas de sempre da Roja. E prosseguiu naquela exibição fantasma frente ao Chile. A brutal queda da Roja ofusca tudo o resto, mas houve mais resultados-choque. A começar pelo descalabro português frente à Alemanha, claro. 0-4, o pior resultado de sempre da seleção nacional em fases finais. E também o Uruguai frente à Costa Rica. Pelo meio, polémica, claro. Logo no primeiro jogo, no penálti para o Brasil que indignou a Croácia. Houve vários erros de arbitragem nos primeiros dias, com o andar da competição melhorou.
3 Golos, golos, golos
66 em 23 jogos, média de 2.87 por jogo. Surpreendente, porque inverte uma tendência negativa que o Mundial vinha cavando. A África do Sul, em 2010, foi o segundo pior torneio de sempre em média de golos (145 no total, média de 2.3), e a Alemanha, quatro anos antes, tinha ficado praticamente em linha com esse registo (147, a mesma média). Pior só mesmo o Itália 90, com 2.2 de média. Claro que estamos longe dos festivais dos primeiros Campeonatos do Mundo, quando o futebol era outro e um jogo com menos de quatro golos era fraquinho. Mais ainda do recorde, os 5.4 golos de média de 1954, na Suíça. Mas 2014 está a afirmar novas tendências, novos caminhos no sentido de um futebol menos obcecado com posse e controlo.
O mergulho de Van Persie para o primeiro golo à Espanha, depois de um grande passe de Daley Blind, logo para começar. Na era das redes sociais, não precisou de muito tempo para ficar imortalizado. Em memes e em imitações pelo mundo fora, com direito a nome próprio e tudo. Persieing, já experimentou?
Dutch folks are #persieing in homage to the striker’s equaliser against Spain; http://t.co/8CwNeNRGVP #RobinVanPersie pic.twitter.com/yc0v3wJN6F
— TruQu (@TruQucom)
June 16, 2014
What a talent!!! :-) Fedde (6months) doing a #persieing just like @Persie_Official #WorldCup pic.twitter.com/0mPc5gMcss
— Onno Weusthof (@odweusthof)
June 15, 2014
Parece que até o avô de Van Persie alinhou
This is brilliant: Robin van Persie's grandfather copying his grandson's header #persieing - pic.twitter.com/p0RG5NFSN3
— Babette (@BabettevHaaren)
June 18, 2014
Mas há mais. Aquele livre de Pirlo nos minutos finais do Inglaterra-Itália, o efeito inacreditável que faz a bola mudar de direção e abanar a trave.
Mexico keeper Guillermo Ochoa ladies and gentlemen pic.twitter.com/QWCEMf3ueZ
— Football Funnys (@FootballFunnys)
June 17, 2014
Let the #OCHOA memes roll in! We like this one, you? (via @SupermanTweets) pic.twitter.com/NnkqkLp3dR
— CBCSports (@cbcsports)
June 17, 2014
5 Ambiente
Atrasos, protestos, incerteza. Os meses que antecederam o pontapé de saída do Mundial alimentaram muitas dúvidas. Mas como de costume, quando a bola começa a rolar elas ficam fora dos estádios. Não que tenha desaparecido o mal estar por trás da contestação nas ruas. Mas o Brasil está a aproveitar o momento, e a contagiar-nos nesse prazer. Esse imenso envolvimento resume-se bem na imagem da seleção da casa a cantar o final do hino à capela com o público no estádio, quando se esgota o tempo marcado pela FIFA para que ele seja tocado na instalação sonora.
¡HERMOSO! Neymar llorando cuando se entonaba el Himno de Brasil. pic.twitter.com/3CYJorA9W3
— Noticias de Fútbol (@Futbol_Todo)
June 18, 2014
O ambiente nas bancadas tem sido fantástico e o receio de estádios com clareiras, num país onde muita gente não pode pagar o preço dos bilhetes, não se confirmou. Muito graças ao fator América do Sul, os adeptos dos países vizinhos têm dito presente em massa. Fora dos estádios, com mais ou menos desenrascanço, a Copa também vai seguindo. Apesar dos problemas nos acessos que têm atrasado a chegada de muitos adeptos aos estádios (e seleções, incluindo Portugal na estreia), nas limitações de alguns estádios, ou de incidentes isolados. Como o tiroteio frente ao hotel das Honduras, num assalto de rua, ou a invasão do centro de imprensa do Maracanã por adeptos do Chile, esta sim a fazer soar alarmes, por ser vista como uma quebra de segurança e uma falha de organização daquele a que no Brasil chamam «padrão FIFA».
6 Quente
7 Cabeça perdida
Também não pode faltar num Mundial que se preze. Aquele murro de Song nas costas de Mandzukic entra direito para o campeonato dos momentos de pura brutalidade do Mundial. E houve uns quantos, ao longo da História. Mas não ficou por aí. A prestação dos Camarões, que se fizeram anunciar no Brasil com mais uma ameaça de greve, acabou com as imagens de Assou-Ekotto a agredir um companheiro de equipa e a sair do estádio de cabeça perdida, com Etoo a tentar acalmá-lo. Por outro lado, serviu para nos distrairmos de Pepe.
8 Espuma tecnológica
Inovações mais ou menos tecnológicas, também temos. Antes de mais a tecnologia da linha de golo, que a FIFA finalmente introduziu depois de a Inglaterra se ter visto em 2010 do lado errado de uma má decisão sobre a bola ter ou não passado a linha de baliza. Foi anunciada com pompa e usada nos primeiros jogos à exaustão, em situações óbvias, motivando piadas sobre o ridículo da coisa. Acabou por ser útil, pela primeira vez, no jogo França-Honduras, para mostrar que o segundo golo de Benzema foi válido. Mas não é essa a inovação do Brasil que está a dar que falar. Também não são as botas coloridas, às bolinhas, de cores diferentes em cada pé que os jogadores usam. Bem, essas também. Tal como a placa gigante do quarto árbitro que nos distrai do que realmente interessa, os números das substituições e os minutos de desconto. Mas a coqueluche da Copa é o spray. Aquela espuma que os árbitros usam para determinar o local onde deve estar a barreira, que desaparece ao fim de alguns minutos. Já usado na América do Sul, é novidade para o resto do mundo e tem sido um sucesso.
I like this vanishing spray FIFA are using for this World Cup. Would it work on Sepp Blatter?
— Gary Lineker (@GaryLineker)
June 12, 2014
This referee spray is turning out to be quite useful #CIVJPN #WorldCup pic.twitter.com/QlTslmopfW
— Sportsbet.com.au (@sportsbetcomau)
June 15, 2014
9 Drones e outras aparições
Por falar em tecnologia. E em confusões. Foi notícia em França, rapidamente passou as fronteiras. Um drone a sobrevoar o treino da França, antes da estreia no Mundial frente às Honduras. Que história, não era?
Un drone survole les Bleus lors de l'entraînement, enquête du service de sécurité. Image captée par @nicopaillard pic.twitter.com/UwEzCdrHrJ
— infosport+ (@infosportplus)
June 10, 2014
Deschamps foi questionado sobre o assunto em conferência de imprensa, sorriu e disse que não era problema dele, mas das autoridades competentes. Para alguma imprensa internacional, sobretudo britânica, este comentário foi entendido como tendo a França feito queixa à FIFA, temendo estar a ser espiada. Não fez, e aparentemente o objeto voador era de um adepto brasileiro, que usou a tecnologia para conseguiu ver um treino à porta fechada.
Não foi o único insólito fora de campo. A seleção da Croácia, por exemplo, ficou em polvorosa quando alguns tablóides do país publicaram fotos de jogadores nus na piscina, e os jogadores entraram em «black out». Acontecem sempre coisas estranhas à volta das equipas no Mundial. E a Miss Bum Bum no treino de Portugal não será a maior delas.
10 Mundial social
Posts, tweets, memes, vines. Aos milhões, a cada minuto. Já se previa que este seria o Mundial das redes sociais, mas a dimensão é brutal. Cada adepto está ligado com o mundo, e cada ideia que tem pode (e está a ser) partilhada nas redes sociais. Muito Facebook em Portugal (sabe quantos comentaram a derrota com a Alemanha?), muito Twitter lá por fora. Aliás, pode ler aqui mais umas ideias sobre este assunto. Dá para tudo, o Mundial que passou de vez a ter um segundo ecrã pelo meio.