Eládio Paramés é o assessor de José Mourinho para a imprensa, mas a relação entre ambos é sobretudo de amizade. Conheceram-se quando um trabalhava no Sporting, com Bobby Robson, e outro no jornal «A Bola». Em 2000, Eládio Paramés era assessor de imprensa do Benfica de Vale e Azevedo e acompanhou de perto a estreia do amigo como treinador principal. Maisfutebol pediu-lhe que escrevesse sobre isso.
Afinal, até nem é complicado escrever sobre o José Mourinho e prova disto são os quilómetros de prosa dados à estampa sobre o Mourinho-treinador, o Mourinho-pessoa, o Mourinho-vencedor, o Mourinho-o-ex-tradutor-e-agora-o-maior...
Recusei, por isso, inicialmente, o pedido do Luis Sobral, mas perante a sua insistência, e por se tratar de uma data significativa - faz agora cinco anos que o Zé se estreou como técnico principal no Benfica - aceitei escrevinhar umas linhas. Foi fácil também. Mais complicado foi optar pelo ângulo de abordagem de tamanha personalidade que, além do mais, me dá a honra e o prazer de há muitos anos ser meu AMIGO.
Optei, rapidamente, por um - o Mourinho-arrogante! E desculpem-me os seus admiradores, mas a verdade tem de ser dita: de facto, o Zé é arrogante.
Senão vejamos:
Não é arrogância desde cedo começar a preparar-se afincadamente para uma carreira?
Não é arrogância (quase ia dizer humildade, mas seria contraditório...) ser capaz de aprender com aqueles com quem trabalhou?
Não é arrogância, em vez de copiá-los, pôr em prática as suas próprias ideias?
E não é arrogância pensar pela sua propria cabeça e mais do que isso expressar publicamente as suas opiniões?
Claro que é.
Mas há mais exemplos da arrogância do Zé...
Não é arrogância nunca participar naqueles encontros mais ou menos gastronómicos de que alguns dos nossos técnicos mais renomados tanto gostavam?
Não é arrogância nunca ter entrado em «panelinhas» organizadas por «lobies» de gente ligada ao futebol luso?

Pior ainda, não é arrogância manter distanciamento dos muitos «opinnion makers» futeboleiros da nossa praça?
Não é arrogância não aparecer nas «passerelles», nos «shows» televisivos, nos encontros mundanos do nosso «jet set», nas revistas «del corazón»?

Claro que é!
Tal como é arrogância evoluir no conhecimento técnico, ler aquilo que de melhor se publica sobre as várias vertentes do futebol, do plano táctico ao psicológio.
Tal como é arrogância procurar rodear-se de todos os meios que facilitem,estimulem e melhorem a sua capacidade intelectual, profissional e humana.
Tal como é arrogância não pactuar com as meias tintas, as meias verdades, o politicamente correcto, e ser afirmativo, frontal, directo.
Tal como é arrogância procurar, dia após dia, ser melhor profissional e perder muitas horas (que chatice!!!) com isso.
E mais arrogância é querer ser um vencedor e dizê-lo abertamente.
Percebem, agora, porque acho que o Zé é arrogante? E por tudo isto concluo com um lamento: que pena em Portugal não haver muito mais arrogantes como o meu amigo Zé!
Eládio Paramés