«Eu pertenço ao Chelsea, o Chelsea pertence-me e espero que continuemos juntos por muitos, muitos anos. Não é uma ameaça, mas, se me despedirem, fico em Inglaterra e vou para outro clube, um rival provavelmente»

Vestido de smoking e laço, José Mourinho terminou o dia em que se tornou o treinador mais rápido de sempre a chegar às 100 vitórias na Premier League a fazer na gala da associação de jornalistas desportivos britânicos mais uma declaração de amor ao Chelsea e, sobretudo, ao futebol inglês. A vitória de domingo sobre o Manchester United fortaleceu esse laço e aumentou a lenda do treinador português em Inglaterra.

Mourinho insiste em cimentar essa relação. «Às vezes sinto-me mais inglês que alguns ingleses por que defendo muito o país e o futebol inglês», disse também na gala, que antecedeu uma pequena operação ao cotovelo que não o impede de regressar ao trabalho já nesta terça-feira.

Mourinho, o prémio e a relação com Inglaterra



A Premier League entrou agora na segunda metade da temporada e não dá para fazer prognósticos sobre como acabará, com o Arsenal na frente, o Manchester City a um ponto e o Chelsea a dois. Mas Mourinho já voltou a fazer história neste regresso. O registo de 100 vitórias em 142 jogos pelo Chelsea não é apenas um recorde, é impressionante. O «Happy One», a nova versão de Mourinho em Inglaterra, precisou de menos 20 jogos para lá chegar que Alex Ferguson e menos 37 que Arséne Wenger, o terceiro da lista.

A história de Mourinho em Inglaterra foi grande desde o primeiro dia, quando se estreou na Premier League com uma vitória, precisamente sobre o Manchester United (1-0). Era 15 de agosto de 2004. José tinha deixado o FC Porto e chegava a Inglaterra embalado pelos milhões de Roman Abramovich. Os dias que antecederam o clássico com o Manchester United foram de muita pressão. Alex Ferguson a dizer que os títulos não se ganham com dinheiro, Mourinho a responder que o escocês tinha razão e a lembrar que já tinha eliminado o Manchester United pelo FC Porto, precisamente na época anterior, quando tinha sido campeão europeu com o clube português. 

E tudo começou com o United

Naquela tarde em Stamford Bridge, um golo de Gudjohnsen aos 15 minutos resolveu o jogo. O Chelsea jogou de início com Cech, Paulo Ferreira, Gallas, Terry, Bridge, Geremi, Makelele, Lampard, Smertin, Drogba e Gudjohnsen. Ricardo Carvalho, também ele reforço dos Blues, entrou perto do fim. O onze inicial do Manchester United tinha Howard, Silvestre, Gary Neville, Keane, Fortune, Miller, OShea, Djemba-Djemba, Giggs, Scholes, Smith.

No final, Mourinho já falava de uma relação a longo prazo com Inglaterra: «Nós só tínhamos este tipo de atmosfera quatro vezes por ano em Portugal, quando o F.C. Porto, o Benfica e o Sporting jogavam. Tenho sorte de estar aqui, de trabalhar na Premiership e quero trabalhar todos os dias para provar que pertenço aqui, onde quero ficar por muito tempo.»

Recorde aqui esse primeiro Chelsea-Manchester United de Mourinho



Ao longo destes 142 jogos e destas 100 vitórias o Portsmouth foi a equipa que mais vezes perdeu com Mourinho, sete. Mas logo a seguir vem o Liverpool. Frente ao Manchester United foram quatro, como demonstra esta estística divulgada no Twitter:



Mourinho mantém em Inglaterra a aura de que se rodeou desde o primeiro dia, desde que pediu para lhe chamarem «Special One». Controverso, claro. «Acho que nunca vamos ver um treinador gerar tanta opinião», sintetizou ainda agora o presidente da associação de jornalistas, Andy Dunn, na entrega do prémio. 

Ainda no domingo, em Stamford Bridge, mal assomou ao relvado provocou uma reação dos adeptos do United. «Querias o emprego», cantaram, aludindo ao processo de substituição de Alex Ferguson em Old Trafford.

Mas o trabalho de Mourinho em Inglaterra é sólido. Foi da primeira vez e continua a sê-lo. Mais um dado estatístico. O treinador que na época de estreia levou os Blues ao título ao fim de 50 anos e voltou a ganhar na temporada seguinte, nunca perdeu um jogo em casa em Stamford Bridge para a Premier League, ao longo de três épocas inteiras, mais dois meses da temporada 2007/08 e o que já se jogou da atual temporada.

Esta não é só uma história inglesa, obviamente. Os registos de Mourinho em casa são notáveis em absoluto. Em toda a sua carreira apenas perdeu quatro jogos no seu terreno, para campeonatos nacionais. Entre 23 de fevereiro de 2002 e 2 de abril de 2011 esteve 150 jogos invicto como visitado. Esse jogo de 2002 foi pelo FC Porto frente ao Beira Mar ( lembra-se?). E em 2011 foi o Sp. Gijón a acabar com o recorde.

Passaram nove anos, dos quais Mourinho não chegou a estar um ano parado. O recorde perdurou no FC Porto, no Chelsea, depois no Inter e em Madrid, até àquele dia com o Sp. Gijón. Depois disso, Mourinho só perdeu mais dois jogos caseiros para o campeonato, com o Real Madrid. Uma frente ao Saragoça, em abril de 2011, e outra com o Barcelona na época seguinte (1-3).

Desde então são mais 42 jogos sem derrotas caseiras, para o campeonato: 31 com o Real Madrid e 11 com o Chelsea, o clube onde fez mais jogos na sua carreira. No total perfaz 71 jogos pelos Blues sem perder em casa para a Premier League: 56 vitórias, 15 empates.