A África do Sul percorreu um longo caminho até chegar à vitória deste sábado, quando ganhou a candidatura à organização do Mundial 2010. Como deixa entender a primeira reacção de Nelson Mandela. «Senti-me como um miúdo de 15 anos», disse o Nobel da paz do alto dos seus 85 anos e da experiência de uma vida inteira a lutar para fazer do seu país uma nação capaz de respeitar os valores humanitários e ser respeitada pelo Mundo.
A decisão da FIFA lançou a euforia na África do Sul, onde milhares de pessoas festejam nas ruas a vitória na organização daquele que disputa com os Jogos Olímpicos o título de maior acontecimento desportivo do Mundo.
Até há 12 anos, a África do Sul estava riscada do mapa mundial, desporto incluído, por causa da política de «apartheid», que Mandela combateu numa luta que lhe custou 30 anos de prisão. Um símbolo, como Frederik de Klerk ou Desmond Tutu, que também ganharam o Nobel na paz pelo seu papel no combate a um regime assente na discriminação.
A FIFA excluiu a África do Sul em 1976 e readmitiu-a em 1992, um ano depois da criação da Federação que unificou quatro associações de futebol divididas por critérios raciais. O país foi fazendo a adaptação às mudanças, o desporto foi-se reintegrando no Mundo. A selecção sul-africana de futebol esteve presente nos dois últimos Campeonatos do Mundo, em termos de organização também foram sendo dadas provas de capacidade - a Taça do Mundo de râguebi em 1995, a Taça de África das Nações em 1996 e este ano a Taça do Mundo de críquete.
O Mundial de futebol era um sonho antigo e para 2006 a África do Sul apenas perdeu por um voto, após a polémica abstenção do representante da Oceânia. Desde então, quando a FIFA instituiu a rotação entre continentes e decidiu que o próximo organizador seria a África, a candidatura sul-africana foi sempre a mais cotada.
O principal argumento contra era a enorme insegurança num país com um indíce de criminalidade brutal. A África do Sul apresentou muitos argumentos para garantir os efeitos positivos da sua política de combate ao crime. E nos tempos que correm, em que o tema segurança ganhou aspectos ainda mais assustadores, os concorrentes não tinham melhor alternativa - Marrocos, o principal adversário, não conseguiu afastar os receios do terrorismo.
Marrocos foi desde cedo o outro principal candidato, numa campanha promovida aliás por rostos portugueses, como Ana Matias, há muito ligada ao «marketing» desportivo. Os argumentos de um país muito próximo da Europa, numa viagem cómoda para as equipas do Velho Continente, acabou por não vingar, com a África do Sul a vencer por 14 votos contra 10 de Marrocos.
Em terceiro lugar ficou o Egipto, a candidatura da Líbia acabou por nem ser considerada, porque se recusou a receber a selecção de Israel caso esta se qualificasse - uma decisão comunicada aos organizadores na véspera da decisão, por altura da apresentação oficial da candidatura.