Jogo eletrizante em Fortaleza! A Alemanha repetiu a mesma receita que tinha aplicado frente a Portugal, mas com um resultado completamente distinto. A equipa de Joachim Löw esteve a ganhar, o Gana deu a volta, mas acabou tudo empatado, num jogo incrível, com muitas histórias pelo meio. Mas primeiro vamos às contas. Portugal fica praticamente obrigado a vencer os Estados Unidos e, a seguir, o Gana para aspirar aos oitavos de final. Um empate no domingo até pode chegar, mas nesse caso a equipa de Paulo Bento ficava obrigar a golear o Gana e a depender da boa vontade da Alemanha em bater o compatriota Jürgen Klinsmann.

Agora vamos ao jogo. E que jogo. Um jogo que voltou a juntar os irmãos Boateng em campos opostos, que voltou a juntar os irmãos Ayew do mesmo lado e que permitiu a Miroslav Klose fazer história com apenas um minuto em campo e um toque na bola. Mas vamos começar pelo princípio.

Confira a FICHA DO JOGO

A Alemanha, como já dissemos, entrou em campo exatamente com o mesmo onze com que tinha goleado Portugal, mas cedo se percebeu que o enredo não ia ser nada parecido. O Gana apresentou-se com uma equipa compacta e com jogadores muito rápidos, sempre prontos para sair em contra-ataque. Às primeiras investidas, a Mannschaft, que procurou assumir as rédeas do jogo, provou o veneno africano, com Gyan, Ayew e Atsu a saírem disparados para colocar Neuer à prova. O primeiro remate do jogo foi mesmo dos africanos com um jogo completamente vertical. Passe de rotura de Muntari a lançar Atsu sobre o flanco e este a servir Gyan que atirou por cima. Foi apenas o primeiro de muitos avisos dos «Black Stars».

A Alemanha tentava prender o adversário no seu meio-campo, com Lahm e Khedira na zona central, e Özil e Götze com alas interiores, no apoio a Müller. Muita gente na zona central a chocar contra o muro vermelho da defesa do Gana. Com muitas dificuldades em entrar na área pela zona central, a Alemanha tentava atirar fora dela, primeiro por Kroos, depois por Götze, mas com tanta gente pela frente, a bola nem chegava à baliza de Dauda. No lado contrário, Neuer ficava com as mãos a ferver para deter as «bombas» de Atsu e Muntari. Um jogo equilibrado, com oportunidades de parte a parte.

Agora, sem respirar...

O intervalo chegava com um ligeiro ascendente da Alemanha, mas muito longe do que tinha mostrado frente a Portugal, a começar pelo resultado que, no primeiro jogo já era de 3-0 nesta altura. Mas a segunda parte ia trazer muito mais, uma verdadeira espiral de emoções. Logo a abrir, golo da Alemanha. Um golo improvável, diga-se, com Götze a escapar entre os centrais do Gana e a cabecear contra o próprio joelho. Joachim Löw, que tinha trocado de lateral direito ao intervalo [saía o primeiro Boateng], respirava de alívio. Mas por apenas três minutos. Pelo meio, uma invasão de campo de um adepto que deu tempo ao selecionador do Gana para lançar mais um avançado [saía o segundo Boateng e entrava o Jordan, o segundo Ayew, irmão de Andre, filho de Abdi Pelé e sobrinho do Ayew que jogou no Sporting]. Logo a seguir, golo do Gana. Cruzamento de Harrison Afful e Andre Ayew saltou mais alto do que Mertsacker para desviar, de cabeça, para as redes de Neuer.

Um golo que elevou a motivação dos jogadores do Gana para índices ainda não vistos neste jogo. A Alemanha passou por um mau bocado, sem meios para travar tantos jogadores a correr para a baliza de Neuer. Menos de dez minutos depois do empate, o Gana passava para a frente do marcador, com um remate indefensável de Gyan [a personificação da garra do Gana]. Era a loucura no Estádio Castelão, com os brasileiros a apoiar a audaz equipa africana e Löw com os cabelos em pé no banco alemão.

O Gana parecia imparável e o selecionador alemão lançou, de uma assentada Schweinsteiger e Miroslav Klose. O avançado da Lazio precisou apenas de um minuto e de um toque na bola para fazer história. Canto da esquerda, desvio ao primeiro poste de Höwedes e golo de Klose. O 15º do avançado de 36 anos em fases finais, tantos quantos marcou o recordista Ronaldo, o «fénomeno». Mais: foi apenas o terceiro jogador a marcar em quatro fases finais, depois do brasileiro Pelé e do alemão Uwe Seeler.

Os últimos vinte minutos foram de cortar a respiração. A Alemanha estava longe de ter o jogo sob controlo, como gosta, estava tudo aberto, com oportunidades a sucederem-se nas duas balizas a um ritmo infernal. Não houve mais golos, mas Muntari viu um amarelo que o afasta do terceiro jogo frente a Portugal. No último lance do jogo, Müller e Boye chocaram de cabeça na área e o alemão deixou o campo a esvair-se em sangue.

Mais um grande jogo deste espetacular Mundial. Um jogo que obriga Portugal a vencer os Estados Unidos, já este domingo, antes de ganhar fôlego para pensar na forma para bater este endiabrado Gana.