A carreira de Nani está em crescendo desde que o jovem de dezanove anos encontrou Paulo Bento na Academia de Alcochete, mas o percurso do talentoso médio nem sempre foi pintado a verde-e-branco. O Maisfutebol recuou três anos e foi encontrar um jovem franzino e rebelde no Real Massamá que torcia pelo...F.C. Porto.
Proveniente do Madalena, um dos bairros mais complicados da Amadora, Nani, então com dezasseis anos, chegou ao Real Massamá onde encontrou o seu primeiro treinador, Hernâni Fonseca. «Era um rapazito franzino, com dificuldades, mas fez a diferença. Se não se tivesse dado bem no futebol, não teria tido uma vida fácil. Tinha uns amigos muito complicados», contou o técnico que actualmente é adjunto na AD Oeiras.
Na mesma altura Ricardo Vaz Té, actual avançado do Bolton, também se juntou ao Real Massamá, depois de ter mostrado as suas qualidades nas captações. «O Té veio do União das Mercês. Apareceu aqui para as captações, tinha estado no Sporting, era um jogador forte e ficámos com ele. Veio com o irmão mais velho e ficámos com os dois», recordou Hernâni Fonseca.
Rapidamente os dois, Nani e Té, formaram uma forte amizade com muitos pontos em comum, com destaque para o facto de não gostarem de perder nem a feijões, o que levou a alguns choques sempre que se defrontaram nos treinos. «Eram um bocado agressivos, não gostavam nada de perder, nem nas peladinhas. Uma vez estavam a jogar um contra o outro, num jogo de três para três e zangaram-se a sério. Tivemos que os separar, ficaram uma semana de castigo e não jogaram no domingo seguinte. O Nani não apareceu essa semana, mas o Té veio a todos os treinos e, mesmo sem se equipar, ficou no banco a ver os companheiros», recordou o antigo técnico dos juniores de Massamá.
Nani e Vaz Té eram «ferrenhos» do F.C. Porto
Dois jogadores com fortes personalidades e com uma rebeldia incontrolável, mas que depois compensavam a falta de disciplina com grandes jogos de bola. «Eram um bocado rebeldes, difíceis de comandar, mas eram bons miúdos e tecnicamente já eram muito fortes. O Té era avançado, marcava muitos golos, numa época fez 25, muitos deles de cabeça. O Nani era médio centro, embora agora também jogue nas alas. Era fortíssimo no um-para-um. Às vezes pegava numa bola e ia de uma área à outra sem que ninguém o conseguisse parar. Mas na altura era ainda muito franzino, não tinha nada a ver com o que é hoje, está muito mais forte», contou Hernâni Fonseca.
Outro factor de união entre os dois bons rebeldes era o emblema por quem torciam. «Ui, eram os dois muito portistas, mas mesmo ferrenhos. No balneário não falavam de outra coisa senão no F.C. Porto e quando havia jogos à mesma hora dos treinos era difícil tirá-los da televisão. Não sei se o Nani continua portista, agora deve ser mais Sporting, mas essas coisas deixam sempre um bichinho», confidenciou.
O arranque da segunda época ficou marcado pelo «desaparecimento» de Nani. Aliciado pelo E. Amadora, o jovem foi treinar para a Reboleira sem dar explicações ao Real Massamá. «Desapareceu durante todo o mês de Setembro e depois soubemos que estava a treinar no Estrela. Eles queriam ficar com ele, mas não queriam pagar. Foi um caso sério. O irmão do Nani chegou a aparecer para fazer umas ameaças, mas depois o Nani acabou por voltar e juntou-se à equipa em Outubro», contou.
A dupla acabou por se desfazer pouco depois. Nani foi para os juniores do Sporting e Té mudou-se para o Algarve onde ainda jogou no Farense antes de seguir para a Liga Premier para representar o Bolton.
Hernâni Fonseca foi jogador do Casa Pia, Odivelas, mas foi no Real Massamá que fez grande parte da sua carreira. Foi também no clube da linha de Sintra que começou a treinar, primeiro os juvenis e depois os juniores. Há dois anos treinou o Agualva, depois foi adjunto de Romeu no Olivais e Moscavide e, actualmente, é adjunto de Paulo Leitão, antigo treinador dos escalões de formção do Sporting, na AD Oeiras.