Zagallo é um campeão, um homem que se habitou a ganhar os principais títulos brasileiros e mundiais, não só como jogador, mas também como treinador e até coordenador técnico. Ao longo da carreira conquistou dois campeonatos do mundo como atleta (58 e 62), um como seleccionador (70) e no último fazia parte da equipa técnica (94). A experiência é um posto e, aos 72 anos, o «velho» continua bem lúcido para os assuntos da bola, mesmo que falando do seu cantinho no Rio de Janeiro. Actual coordenador da selecção brasileira, aceitou partilhar com o Maisfutebol as suas expectativas para a final da Liga dos Campeões.
«Acho que vai ser um jogo equilibrado. É uma questão de momento, até porque as duas equipas já provaram que podem conquistar este título, apesar de muitos anteriormente não acreditaram ser possível», resumiu, lançando o alerta aos habituais candidatos ao título europeu. «O que estiver mais feliz é que vai decidir. Tanto o Porto, como o Mónaco, são duas equipas bem trabalhadas e mereceram chegar à final», acrescentou.
Passando à análise dos dois rivais em Gelsenkirchen, Zagallo tenta lançar uma perspectiva equilibrada. «O Porto já vem brilhando no campeonato nacional, onde foi campeão. Na meia-final da Liga dos Campeões, após um empate em casa com o Corunha, parecia que as coisas caminhavam para o outro lado, mas acabou por ganhar de penalty, 1-0», lembra, confessando ter acompanhado vários jogos, pois essa é a sua obrigação como elemento da equipa técnica do «escrete».
O elogio surge de seguida. «Tenho de dar os parabéns, pois trata-se de uma equipa bem armada, consistente e que mostrou o seu valor fora de casa. Dá toda a sensação de que é uma equipa madura, porque se você jogar em casa, empatar e ir fora, quando tudo levava a crer que o adversário ganharia, e consegue vencer, revela consistência. As pessoas até pensavam que o segundo jogo podia ir para prolongamento, mas o Porto acabou por arrecadar uma vitória merecida, de 1-0», assume o Lobo Zagallo.
Quanto ao Mónaco, o tratamento não é muito diferente. «É uma equipa que vem sobressaindo e que ninguém esperava que chegasse à final, sendo mais uma demonstração de que o futebol não é fácil. Vê-se o caso do Real Madrid, que sofreu as consequências da derrota a nível de campeonato nacional e Liga dos Campeões, quando estava recheado de estrelas. É evidente que a qualidade é fundamental, mas a condição física é muito importante e nesta altura já não se ganha só com qualidade», falou, com a sabedoria que lhe é reconhecida.
Atento ao futuro
Um dos segredos do sucesso do F.C. Porto reside no trabalho de José Mourinho, que montou uma equipa com fome de títulos. O brasileiro, que vem de uma geração bem diferente, reconhece as qualidades do jovem treinador português, mas aproveita para sublinhar a eficácia do próprio clube nos últimos anos. «No futebol vive-se de resultados e essa é que é consequência final daquilo que é realizado. Pelas conquistas que o Porto tem tido nos últimos anos, demonstra a capacidade do treinador, mas também do próprio clube, porque antigamente quem mandava era o Benfica, mas agora as coisas mudaram. Hoje em dia é o Porto que está dando as ordens», frisou.
Quando a conversa telefónica já se encaminhava para as despedidas, Zagallo surpreende com uma questão. «E o Carlos Alberto?». A solicitação redundou numa explicação óbvia: «É um garoto ainda muito novo, que eu conheço bem, porque esteve aqui no Fluminense. Agora está a amadurecer a cada jogo que passa, está mostrando mais confiança, provou que está a merecer tudo o que têm feito com ele. Acho que vai ter um futuro brilhante pela frente, mas o tempo é que vai determinar se poderá ser um jogador importante para a selecção brasileira».