Nasser Al-Khelaifi. 39 anos, homem de negócios natural do Qatar, presidente do Paris Saint-Germain, o milionário adversário do Benfica na Liga dos Campeões. Qualquer coisa como 322 milhões de euros investidos em três épocas na contratação de jogadores, e dois treinadores contratados: Antoine Kombouaré já lá estava antes de Khelaifi, chegaram depois Carlo Ancelotti e agora Laurent Blanc. O plano: tornar o PSG, em cinco anos, o maior clube de França e um dos mais fortes do mundo.

Mas, afinal, quem é Al-Khelaifi, o homem a quem nem a Forbes se atreve a determinar a fortuna por estar nas mãos de uma família inteira? A sua ligação ao desporto começou no ténis, foi jogador profissional, um dos melhores que o seu país já teve, mas longe, muito longe, dos lugares de topo. Nasser nunca passou uma primeira ronda de um torneio ATP e o melhor que conseguiu no ranking foi a 995ª posição, em 2002. A ligação não terminou e, hoje, dois dos cargos que ocupa são o de presidente da federação do Qatar e o de vice-presidente da confederação asiática.

Al-Khelaifi transportou essa paixão pelo desporto para a vida profissional ao tornar-se, a partir de 2006, diretor geral da Al Jazeera Sports, que adquiriu em poucos anos os direitos das principais ligas nacionais – a Ligue 1 foi a primeira aposta, tendo na altura causado espanto no Velho Continente - e do Mundial e Europeu de futebol, além de provas desportivas de referência, como a NBA, os principais
meetings de atletismo, alguns dos maiores torneios de ténis e o Mundial de MotoGP, entre outros. A Al Jazeera Sports é, hoje em dia, composta por 18 canais, dos quais três são gratuitos e seis emitidos em alta definição.

Khelaifi é apenas um dos muitos rostos das ideias de expansão do sheik Tamin bin Hamad Al Thani, velho amigo e hoje Emir todo-poderoso do seu país. A família Al Thani, que vive sobre a terceira maior reserva de gás natural do mundo, quis reforçar a sua influência nos acontecimentos do Médio Oriente e para lá dessas fronteiras, na Europa, através do poder do dinheiro. A nível regional, tinha aparecido, em 1996, a Al Jazeera, que cresceu a uma dimensão planetária e chegou a ganhar um protagonismo inédito, ao ser acusada nove anos depois pelos Estados Unidos, através da voz do secretário da Defesa Donald Rumsfeld, de promoção do terrorismo. Em causa estava a cobertura dos ataques suicidas no Iraque.

O PSG e o mundo

Surge o Paris Saint-Germain, em 2011. Na Europa, quinze anos depois da criação da estação televisiva, a Qatar Sports Investments de Al Thani comprava 70 por cento das ações do clube parisiense e instalava Al-Khelaifi como presidente. No perfil do líder dos parisienses na rede Linkedin está claramente expresso o seu objetivo: «Sign a hell lot of players.» («Comprar uma montanha de jogadores», numa tradução livre). E foi o que fez!

Os 322 milhões que gastou foram investidos da seguinte forma: Edinson Cavani (64), Lucas Moura (45), Javier Pastore (43), Thiago Silva (42), Marquinhos (35), Ezequiel Lavezzi (30), Zlatan Ibrahimovic (20), Lucas Digne (15), Marco Verratti (12), Kevin Gameiro (11), Thiago Motta (10), Jérémy Ménez (9) , Mohammed Sissoko (8), Blaise Matuidi (7,5), Alex (5), Milan Bisevac (4), Maxwell (4), Salvatore Sirigu (3,5), Diego Lugano (3), David Beckham (0). Com Cavani e Lavezzi, o Nápoles encaixou 94 milhões.

De regresso à família Al Thani, o irmão do sheik, Mohammed, conseguiu em 2010 convencer a FIFA que seria possível realizar um Campeonato do Mundo, 12 anos depois, com temperaturas superiores a 40 graus. O presidente do organismo, Sepp Blatter, admite agora, três anos mais tarde, que a decisão foi um erro e pretende mudar todo o calendário do futebol a nível planetário para que a prova se realize no inverno. Admite-se que a luta com as principais confederações não seja nada fácil.

«Nós, claro, que somos apaixonados por futebol, adoramos Paris. É uma grande cidade e merece ter um grande clube mundial. Foi por isso que viemos para Paris e comprámos o PSG. No início algumas pessoas estavam contra nós, mas agora acredito que a maior parte delas estão connosco, apoiando-nos a nós e ao clube. Honestamente estou muito orgulhoso de onde chegámos», disse Al-Khelaifi numa entrevista à CNN, explicando que não era só com jogadores comprados que se fazia o seu projeto: «Temos a vantagem de ter Paris. É a capital, 12 milhões de pessoas vivem aqui e nos arredores. Existem muitos jogadores talentosos. Os melhores jogadores franceses vêm daqui, como Thierry Henry, Lilian Thuram, Nikolas Anelka... É importante que olhemos para eles e procuremos o novo Lionel Messi. Por que não em Paris?»

Como é visto Al-Khelaifi pelos parisienses?

«O PSG é visto como um clube que não provoca emoções, uma vez que não tem uma verdadeira massa associativa, por causa dos inúmeros confrontos entre adeptos e as várias mortes verificadas em 2007. E também não provoca emoções por culpa dos seus dirigentes do Qatar. O projeto parisiense vai na sua terceira época, e já com um terceiro treinador. Se Carlo Ancelotti decidiu sair do PSG, essa decisão terá sido tomada depois de uma derrota do campeonato, em que foi criticado pelos propriétarios. Ele sentiu que o clube já não apostava num projeto de média duração, como lhe tinham dito na altura em que assinou, mas sim em resultados imediatos. Este ano, por exemplo, o principal objetivo passa por um longo percurso na Champions», explicou ao Maisfutebol o jornalista Alexandre Teixeira, da «Ma Chaîne Sport».

Não se pode dizer que o investimento tenha dado frutos imediatos. No primeiro ano, o rico PSG perdeu o título para o modesto Montpellier, já com Carlo Ancelotti no comando técnico da equipa. Só na temporada seguinte, a última, os parisienses quebraram um jejum de 19 anos, batendo o Olympique de Marselha na corrida para o troféu de campeão. Muito os parisienses ficaram a dever a um dos seus reforços de luxo, Zlatan Ibrahimovic, que assinou 30 golos. Esta época, claro, assume-se novamente como o mais sério candidato.

«O Paris é o favorito natural à Liga, apesar da concorrência do novo Mónaco, porque os jogadores conhecem-se melhor. É visto como o clube com os melhores jogadores, aquele que tem o maior potencial e que apresenta com fundos ilimitados. Mesmo assim, no capítulo do jogo, ainda tem muitas coisas para melhorar. Tem uma grande dependência de três jogadores: Ibrahimovic, Thiago Motta e Thiago Silva», sublinhou Alexandre Teixeira, para quem Khedaifi é «o novo patrão do futebol francês»: «É apaixonado pela França, apesar de não estar muitas vezes no país por causa das suas inumeras funções. Quem o conhece melhor diz que a sua prioridade é ficar bem visto pelas pessoas com quem trabalha, não quer ter inimigos. É muito trabalhador, não é arrogante nem irreverente. O seu sonho é vencer a Liga dos Campeões com o PSG.»

Paris negou-lhe o outro sonho

Ser campeão europeu não é único sonho do dirigente. «É fácil construir um estádio com 60 mil lugares, mas para isso tem de se demolir o antigo. Para 50 mil, bastaria uma remodelação. Paris é a capital e merece um estádio maior», propôs Al-Khelaifi. Para lá do sucesso desportivo, o responsável quer engrandecer o clube a nível de infra-estruturas. Demolir o Parque dos Príncipes e construir no mesmo sítio um estádio moderno e com maior capacidade foi um dos projetos que apresentou à Câmara de Paris, mas a proposta foi chumbada a 23 de maio do ano passado. «É impossível. O presidente da Câmara, Bertrand Delanoe, não quer destruir um monumento de Paris», explicou na altura, à AFP, o vice-presidente com o pelouro do desporto, Jean Vuillermoz, que sublinhou ainda que a sua aprovação demoraria sempre muito tempo por implicar consultas populares e estudos de planeamento: «Nem sequer estaria pronto a tempo do Europeu de 2016, que organizamos.»

Para já, o presidente segurou outro «monumento». Zlatan Ibrahimovic, o mais influente do plantel, renovou contrato até 2015 e deverá terminar a carreira na cidade-Luz, quando já tiver 35 anos. Um investimento feito com dinheiro do Qatar, que continua a entrar no clube, desde o ano passado também sob a forma de patrocínio. A Ooredoo, empresa de telecomunicações detida pela família Al-Thani, passou a colocar a sua marca nas costas das camisolas oficiais, nos equipamentos de treino e em publicidade veiculada no estádio. Além disso, o centro de treinos Camp des Loges é agora chamado «Centro de Treinos Ooderoo». O contrato é válido até 2018.

Em nome do Qatar

«A motivação não é o dinheiro, é pelo país», explicou Khedaifi em entrevista recente à CNN. «Quando chegámos aqui, sabíamos que íamos ficar muito tempo. Queremos construir o maior centro de treinos no mundo para este clube», promete.

Enquanto não o consegue, Khelaifi deixa transparecer a imagem de pessoa calma, e que gosta de distribuir riqueza, um pouco ao exemplo do que acontece no pequeno Qatar, onde o gás natural é responsável pelo país ter um rendimento per capita superior ao dos vizinhos. O responsável ofereceu a cada jogador, como prémio de campeão francês. um relógio Hublot, no valor de cerca de 10 mil euros. Khelaifi quer dizer ao mundo que cuida dos seus. E a verdade é que a cada dia que passa o clube fica mais forte. O que virá a seguir?