Mariano Barreto não quis explicar os motivos que estiveram na base da sua saída da Naval, mas deixou algumas pistas, que apontam para eventuais divergências quanto à composição do plantel para a próxima época. O ex-técnico navalista, que pegou na equipa à 15ª jornada, depois de Fernando Mira ter assegurado um curto período de transição após a rescisão com Rogério Gonçalves, desmentiu qualquer desentendimento com jogadores e foi bastante crítico para com os empresários, a quem apelidou de «comissionistas».
«Saio de consciência tranquila e convicto de que as minhas ideias são as mais correctas», sublinhou, antes de deixar bem vincada a sua filosofia que, pelos vistos, não era partilha pelos responsáveis do clube: «Continuo a pensar que vale a pena apostar em jogadores portugueses e não estou arrependido de ter promovido juniores para treinar com os seniores. Cheguei à Naval com 17 pontos e deixo-a com 31, com o objectivo da manutenção cumprido a oito jogos do fim, o que é motivo de satisfação. Continuarei a defender que os jogadores jovens portugueses têm de ter prioridade em relação àqueles que venham da Série C ou de campeonatos regionais de outros países. Continuo a pensar que não haverá pressões que me desviem das minhas convicções.»
«Não fiquei surpreendido»
O ex-treinador da Naval mandou algumas indirectas, sem especificar nomes, a pessoas que terão tentado minar o seu trabalho, dando a entender que já esperava, mais tarde ou mais cedo, este desfecho: «Quero aproveitar para dizer que não tive qualquer discussão no balneário após o jogo com o Sporting. Houve quem quisesse, desde o meu primeiro dia, criar contradições naquilo que eu defendia e achava ser o projecto de um clube como a Naval. Não fiquei surpreendido, já tinha sido alertado e já o tinha sentido anteriormente. As pressões de empresários e comissionistas nunca funcionarão comigo em função daquilo em que acredito, sempre em defesa do clube e do jogador português.»
Na sequência do discurso adoptado, Mariano Barreto teve necessidade de deixar claro que nada o move contra atletas estrangeiros, por um motivo óbvio. «Como emigrante, trabalhei vários anos no estrangeiro. No entanto, entre um jogador português e outro de fora, da Série C ou do Regional, ninguém me poderá levar a mal por escolher o primeiro», reiterou, vincando ainda que a direcção nunca o pressionou na escolha da equipa e teve da sua parte apoio «desde o primeiro dia».
O ex-treinador navalista insistiu na solidez do balneário, ao contrário daquilo que apelidou de «manobra organizada» para fazer pensar o contrário. «Houve uma informação, passada para fora, com o intuito claro de dar a sensação de que havia aqui grupos, talvez devido ao grande contingente de brasileiros. Mas até pela constituição da equipa, poderão constatar que eles continuaram a jogar. Para mim, não há nacionalidades, jogam os mais competentes. Eu procurei, isso sim, apostar nos jovens da Naval, na sua formação, e isso, a partir de cerca altura, criou problemas para alguns jogadores, que se sentiram ameaçados. Mas isso não me afectou. Era uma questão de princípio.»
Quanto a mais explicações, remeteu-as para o presidente do clube, que dificilmente reagirá antes de quinta-feira, altura em que Áprígio Santos voltará da sua viagem a Londres.
Futuro «bem longe dos estádios»
Para já, Mariano Barreto irá fazer uma pausa sabática na sua actividade. Aliás, o técnico nem quer ouvir falar de futebol nos próximos tempos: «O futuro vai ser o reencontro com os objectivos que tinha quando cheguei de Moscovo, isto é, descansar após quatro anos de intensa labuta no estrangeiro. Fui seduzido por um projecto, ao qual pensava que as minhas ideias se adaptavam, e agora só penso em descansar. Não vou procurar emprego e ficarei bem longe dos estádios.»