Podia ser do Benfica, a equipa com mais jogos disputados esta temporada, mas não é. Joga (jogou) na II Liga e já passou por estas páginas. Tikito (Steven Thicot) esteve nos 52 jogos oficiais da Naval esta época. Sempre como titular, nunca foi substituído, não falhou um segundo que fosse por lesão, ou castigo.

Há, todavia, um jogador dos encarnados que ainda o pode ultrapassar em matéria de jogos, Lima, que soma nesta altura os mesmos 52 encontros, mas já lhe será impossível bater o tempo de utilização do francês: 4710 minutos. O brasileiro tem quase 1000 minutos a menos. Também Arsénio, do Belenenses, cumpriu 52 partidas, mas lá está, «só» jogou 2996 minutos.

Os números do antigo campeão europeu de sub-17 são tanto mais impressionantes quando elevados à escala europeia. São poucos os que têm mais quilómetros nas pernas, como alguns craques do Chelsea: Peter Cech (63 jogos, 5656 minutos), David Luiz (57, 4916), Juan Mata (63, 4900) e Ramires (62, 4740). Tudo isto considerando, claro está, apenas as partidas pelos clubes.

O Maisfutebol falou com os dois treinadores que Thicot conheceu ao longo da época e ambos se desfazem em elogios, acreditando piamente que o central estará num patamar bem mais elevado quando terminarem as férias.
«Vi-o num vídeo, de quando estava no Hibernian, e agradou-me. Também tinha currículo nas seleções de França. Apareceu para treinar, e até fazia duas posições. Começou a mostrar-se e apercebi-me logo, pelo toque de bola, posicionamento e inteligência, que tinha nível. Cometia poucos erros e pensava muito rápido», conta Filipe Rocha, treinador dos figueirenses até Setembro.

O técnico destaca-lhe também a capacidade de adaptação. «Falávamos em inglês, mas ele dominava o espanhol e aprendeu rapidamente português. Por vir de uma escola evoluída, como a francesa, compreendia sempre tudo muito bem, a nível tático ou outro, sem precisar de mais explicações», prossegue.

«Tem potencial para chegar longe. Pelo que vi no tal vídeo, na Escócia, acredito que pode dar ainda mais do que deu esta época na Naval. Para mim, até o acho mais forte como médio defensivo. Joga bem com ambos os pés e entrega a bola sempre jogável», analisa, antes de desvendar o que mais o surpreendeu:

«A capacidade de resistência. Após um ano sem jogar e face aos problemas do clube, é natural haver quebra psicológica. Mas teve instituto de sobrevivência apurado. Além disso, foi sempre um grande profissional e muito interessado. Passava o tempo a ver jogos das ligas portuguesas, dos adversários, por exemplo, para os conhecer melhor.»

Álvaro Magalhães quer levá-lo com ele

Depois de Filipe Rocha, seguiu-se Álvaro Magalhães. A mesma admiração pelo defesa formado no Nantes. «Um bom miúdo, com personalidade forte, que sofreu muito no passado, e também esta época pelas razões que se sabe. Nota-se lhe a boa formação, disciplina tática, e princípios de jogo. Daí que tenha um nível competitivo muito forte», exalta.

«Trabalhou sempre com muita dedicação, procurando melhorar e ouvir os conselhos. Acatou todas as decisões com grande humildade, respeito, e extrema educação. Nunca se ouviu uma palavra dele de desagrado, uma queixa ou apelo à greve. É um profissional com que dá gosto treinar», complementa, lembrando um susto que apanhou durante a época.

«É impressionante a marca que atingiu. Não perdeu um minuto. Uma vez, num jogo, levou uma pancada num joelho e eu pensei ai meu deus, se ele me para agora... mas não. É rijo e continuou. Se puder, gostava de o levar para onde quer que eu vá. Estou convencido de que vai chegar longe. Merece ter sorte.»

Para já, segundo foi possível apurar, está referenciado por Académica, Marítimo, Nacional, Estoril e Gil Vicente.