O Maisfutebol desafiou os treinadores portugueses que trabalham no estrangeiro, em vários pontos do planeta, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:
Leia a apresentação de Nuno Ferreira
NUNO FERREIRA, MK SIROCCO (EUA)
«Caros leitores,
Esta semana irei falar da minha pré-época no MK Sirocco e dar-vos alguns exemplos do contraste futebolístico no Wisconsin em relação à Europa.
Sou treinador de três escalões: Sub16 (feminino), Sub14 (feminino) e sub13 (masculino). Estão comigo no clube três treinadores portugueses, escolhidos por mim, e cada um com as suas equipas. O Luís Filipe Silva, que treinou comigo no CAC da Pontinha, o Pedro Borges, ex-jogador profissional formado no Sporting CP, e o Mário Patrício que orientava as escolas do Povoense.
O clube treina em três complexos diferentes na cidade de New Berlin, os relvados estão por norma em bom estado e quando jogamos em casa, jogamos num complexo com 14 relvados e estádio com sintético.
Os contrastes são muito evidentes em relação à Europa, apesar de haver excelentes relvados. Os jogos são jogados com muito fair-play, no final fazem duas filas indianas, cumprimentam-se e em seguida vão todos saudar os pais de ambas as equipas. Não existe policiamento nos jogos.
Eles são tão honestos a jogar que por vezes torna-se difícil tentar incutir alguma malícia neles ou nelas. Por exemplo: estamos a ganhar e falta pouco para terminar o jogo¿ vocês sabem do que eu estou a falar. Falta-lhes a chamada ratice. No entanto, disputam o jogo com muita atitude e agressividade.
A diferença entre o futebol feminino e masculino é muito evidente. As raparigas são excelentes jogadoras em todas as idades. Em Portugal fui selecionador distrital de futebol feminino de Lisboa e orientei algumas atletas que hoje já estão nas seleções nacionais.
Em Portugal a quantidade não abunda, nos Estados Unidos a realidade é completamente diferente. Existe quantidade e qualidade. Fiquei simplesmente abismado quando me deparei com raparigas sub-14 a jogarem tanto ou melhor que rapazes sub15 ou sub16.
A explicação é simples. O futebol é sempre uma das primeiras opções que as raparigas escolhem desde cedo como sua modalidade de eleição. Em relação aos rapazes, o futebol não é primeira opção. O futebol americano, basebol, basquetebol ou mesmo o hóquei no gelo predominam nas preferências e só depois o futebol, daí a razão de os rapazes terem muitas carências técnicas.
O MK Sirocco é um clube novo que nasceu em 2012, fruto da junção de cinco clubes. Os atletas nunca tinham jogado juntos, uma vez que vieram de cino equipas diferentes, o que em relação às outras equipas do estado do Wisconsin nos traz desvantagens.
As outras equipas já trazem um trabalho feito, uma vez que jogam juntas há mais anos, enquanto nós estamos no ano zero. As minhas duas equipas femininas estão recheadas de atletas com qualidade elevada enquanto na equipa de rapazes existe um défice de qualidade técnica.
Com as raparigas o grande objetivo é fazer equipas sólidas, com os rapazes é tentar incutir os princípios de jogo.
A pré-época correu bem, tendo em conta que foi necessário da nossa parte um esforço suplementar de adaptação. Na pré-época tivemos o torneio de New Berlin de vários escalões. Participaram algumas equipas do Estado do Wisconsin e correu de feição uma vez que as minhas equipas femininas venceram o torneio nos seus escalões.
Os meus colegas também venceram o torneio com as suas equipas. Este torneio foi um bom cartão-de-visita para o campeonato que se aproxima.
Na próxima crónica partilharei algumas aventuras pessoais no Wisconsin e também o desempenho das minhas equipas na liga estadual.
See you soon!
Nuno Ferreira»
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22 jan 2013, 15:46
Nuno Ferreira: no Wisconsin, o fair-play não é uma treta
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