Jules Rimet foi o mentor da ideia de realizar um Mundial de futebol e deu o nome ao troféu que seria erguido pelos vencedores. Concebida em 1930, a Taça Jules Rimet era feita de prata banhada a ouro, com uma base em lápis-lazúli onde seriam inscritos os nomes dos vencedores. Ninguém adivinhava, porém, as peripécias pelas quais este troféu passaria ao longo da sua existência.
Durante a II Guerra Mundial o vice-presidente da FIFA, Ottorino Basi escondia-a debaixo da cama, guardada numa caixa de sapatos, enquanto dormia, de modo a evitar que esta caísse nas mãos das tropas alemãs. A taça escapou das tropas germânicas, mas viria a passar por momentos atribulados.
Em Março de 1966 a federação inglesa (FA) colocou-a em exposição no Central Hall, em Londres. O Mundial teria lugar nesse mesmo ano em terras de Sua Majestade e os britânicos mostravam, orgulhosos, o símbolo máximo desse grande evento. De repente, sem que ninguém soubesse explicar como, a Taça Jules Rimet desapareceu sem deixar rasto. Foi a suprema humilhação para a FA, que teve de assumir perante todo o Mundo um roubo que ainda hoje permanece inexplicável. A Scotland Yard pôs-se em campo e depois de falar com vários visitantes chegou à descrição do presumível suspeito: um homem de cerca de 30 anos, lábios finos, cabelo escuro e com uma cicatriz na cara. Que nunca ninguém encontrou.
Até que o destino e um apurado faro canino a levaram de volta ao seu dono. Uma noite, David Corbett saiu de casa com o cão para fazer uma chamada numa cabine telefónica. Pickles, assim se chamava o cão herói, começou a farejar uns arbustos. «O cão chamou-me a atenção para qualquer coisa. Era um embrulho feito com papel de jornal e pareceu-me uma estátua. Fui desembrulhando os papéis e comecei a ver os nomes dos países escritos na base. Como sou um adepto de futebol e sabia que a taça tinha sido roubada, corri logo para a cabine e liguei à polícia», contou Corbett, numa entrevista em 1990.
Era mesmo a taça. O dono do cão recebeu uma recompensa de 4350 dólares e Pickles, que viria a morrer em 1973 tornou-se uma celebridade nacional. Ganhou a medalha da Liga Nacional de Defesa dos Cães e um ano de comida grátis.
Mas a história não acaba aqui. Entretanto, e para não voltar a correr riscos, a FA mandara secretamente fazer uma cópia do troféu. Tão secreta que poucos sabiam da sua existência. E no dia da final, o original e a imitação estiveram ambos em Wembley. O que poucos sabem é que o troféu que foi erguido pelos jogadores ingleses não era a verdadeira taça, mas a sua réplica. A troca foi feita sub-repticiamente, por elementos da polícia na ocasião em que os vencedores cumprimentavam a Rainha. Esta cópia viria a ser vendida num leilão em 1997.
Depois de Pickles, a Taça Jules Rimet parecia estar condenada a uma existência pacífica, mas viria a ter um final triste. A partir de 1970 coube ao Brasil a guarda definitiva do troféu. Em Dezembro 1983 um grupo de homens entrou na sede da Confederação Brasileira de Futebol, amarrou o vigilante e roubou o troféu. A polícia ainda prendeu três brasileiros e um argentino, mas viria a libertá-los. A taça já não existia. Tinha sido derretida para que alguém ganhasse algum dinheiro com o ouro e a prata. Foi imediatamente mandada fazer uma réplica, que estaria pronta no início de 1984. O original, porém, perdera-se para sempre.