«Agora não percam a taça. Isso já aconteceu no Brasil». Com estas palavras, o secretário-geral da FIFA entregou em setembro do ano passado a Taça do Campeonato do Mundo de futebol a Cafu para que este a levasse para o Brasil, país anfitrião do Mundial 2014. O capitão da seleção brasileira pentacampeã mundial em 2002 comentou as palavras de Jéróme Valcke quando aterrou em São Paulo: «Há que levar a brincar, pois foi uma coisa que realmente aconteceu, infelizmente. Aconteceu só uma vez e foi no Brasil. Não há nada a fazer...»

Aconteceu. Há 30 anos. A 19 de dezembro de 1983. A Taça Jules Rimet – o primeiro troféu atribuído às seleções campeãs do mundo – foi roubada e nunca mais apareceu. Para os que usam a palavra roubo no futebol, este foi o maior de sempre. A taça, essa, acabou derretida e transformada em barras de ouro. Esta é a versão que ficou do fim que teve o troféu. Sobreviveram-lhe os episódios de uma existência rocambolesca e de uma maldição para muitos que se cruzaram da pior forma com a Jules Rimet.

O troféu foi mandado fazer em 1929 pelo presidente da FIFA responsável pela organização do primeiro Campeonato do Mundo. O  responsável pela conceção da peça de 55 centímetros de altura, 3,250 quilos (1,8 quilos de ouro maciço) foi o escultor Abel Lafleur. Foi pela primeira vez entregue ao Uruguai, em 1930. Em 1946, o troféu ganhou o nome do maior responsável pelo primeiro Mundial, o presidente Jules Rimet.

Entre os episódios mais famosos da história da taça está o de ter ficado escondida numa caixa de sapatos debaixo da cama do presidente da federação italiana Ottorino Barassi durante a II Guerra Mundial – para não ser encontrada durante a ocupação nazi. Outro, é o primeiro roubo de que foi alvo meses antes do Mundial de Inglaterra em 1966 e a sua recuperação poucos dias depois graças ao cão Pickles tornado herói. Como o Maisfutebol também já contou em primeira voz do dono do animal. 

 
A maldição da taça

Mais histórias se seguiram, pois, após o roubo em Inglaterra foi feita uma réplica. E, a partir de então, as dúvidas sobre qual era a verdadeira também surgiram... Em 1970, o Brasil ganhou o seu terceiro Campeonato do Mundo e o direito de ficar com a Jules Rimet em definitivo. Numa segunda-feira, às 21h00, Luiz Bigode e Chico Barbudo dominaram o porteiro da sede da CBF e roubaram a taça – a meias com mais episódios anedóticos de uma montra com vidro à prova de bala, mas com uma moldura de madeira.

Sérgio Peralta foi o mandante do crime, Juan Carlos Hernandes foi o comerciante de ouro que terá derretido a taça. Os quatro foram presos. Os quatro fugiram depois de conhecidas as sentenças - cinco anos de prisão para Peralta, seis para Bigode e Barbudo e três para Hernandes. E não se lhes conheceu fortuna resultante do crime. Fala-se da maldição da Jules Rimet. Pelo meio das detenções, acusações às autoridades de tortura por parte dos criminosos, as fugas e recapturas, Barbudo foi morto a tiro num bar por cinco homens que desapareceram.

O homem que denunciou o roubo da Taça Jules Rimet às autoridades, Antonio Setta, é o segundo relacionado com o caso cuja morte deixou questões quando sucumbiu num acidente de carro dois dias antes de depor em tribunal. Juan Carlos Hernandes, que foi preso por tráfico de droga, também chegou a dizer que a Taça Jules Rimet não foi destruída, mas que o troféu foi vendido e nunca mais seria recuperado.

O que ficou de concreto foi a réplica feita pela federação inglesa [como mostra a imagem do artigo] e que, em 1997, foi vendida por mais 250 mil libras. O comprador foi a FIFA. Para este próximo ano está prevista a estreia do filme «O inacreditável roubo da Jules Rimet», uma comédia que retratará o Brasil da década de 1980. Em 2010, as histórias de mistério e maldição foram documentadas em «The Rimet Trophy, the incredible story of the World Cup».