O segredo do sucesso tem muito que se lhe diga. Não é só o trabalho de José Mourinho ou a capacidade dos jogadores. Justifica-se, igualmente, pela organização de um clube, desde a planificação do dia-a-dia até à observação dos adversários. Neste campo, o F.C. Porto está apetrechado com três elementos. Dois deles ex-jogadores (Rui Barros e Lima Pereira) e o outro um jovem de 26 anos que foi introduzido no mundo do futebol por Bobby Robson.

O seu nome é André Villas Boas e já se tornou habitual falar dele quando é necessário observar um adversário, nomeadamente nas competições internacionais. Apesar da juventude, tem revelado enorme competência e Mourinho é o primeiro a reconhecê-lo, entregando-lhe a competência de elaborar os relatórios mais exigentes. Tem sido assim praticamente desde que o treinador chegou ao F.C. Porto e até poderá continuar noutras paragens. No Chelsea, talvez¿

Mas, afinal, quem é este espião eficaz? Quando tinha apenas 17 anos, Villas Boas teve a sorte de ter por vizinho o então treinador do F.C. Porto, Bobby Robson. Como qualquer curioso do futebol, observava o fenómeno com atenção e partilhava opiniões com o inglês, que acabou por o convencer a elaborar pequenos relatórios de treinos da equipa profissional. Surpreendido com a eficácia do miúdo, Robson acabaria por convidar André a trabalhar com as camadas jovens dos dragões, tornando imparável a entrada no mundo do futebol. Foi, também, nessa altura que conheceu aquele que viria a ser a sua maior referência: José Mourinho.

Os anos seguintes foram passados a enriquecer o currículo, até porque o técnico inglês não o levaria para Barcelona. Villas Boas foi jogador de pouco sucesso no modesto Ramaldense e tirou um curso na Federação Inglesa de Futebol, tendo vindo a colher frutos dessa passagem pelo Reino Unido, pois seria a própria FA a convidá-lo para abraçar um projecto nas Ilhas Virgens britânicas. Primeiro como director desportivo, depois como seleccionador, mas a experiência não resultou, principalmente porque eram os jogadores os primeiros a não quererem colaborar.

O regresso ao F.C. Porto tornou-se inevitável, embora numa primeira fase apenas com ligações à equipa de iniciados. Quando Mourinho chega ao clube, André colaborava com os juvenis, mas logo foi promovido à equipa sénior, até porque o treinador conhecia bem as suas qualidades de observador. Nesta curta caminhada já teve de observar as principais estrelas do futebol mundial, como Figo, Ronaldo, Makelele, Morientes ou Rothen, mas a última experiência está relacionada com o Mónaco, o derradeiro adversário dos dragões, na final da Liga dos Campeões. Todos os pormenores serão entregues ao técnico, mas as decisões estão a cargo de Mourinho. A tarefa do espião é apenas tentar descobrir os segredos do adversário.