José Mourinho explica os motivos para deixar o Real Madrid e revela também do que falou com os jogadores na última palestra. O português diz também que é um treinador «cómodo», porque dá a cara pelos outros, e diz que o próximo treinador, seja ou não Carlo Ancelotti, terá tudo à sua disposição, porque não fez «delete» nos computadores.

«Saio porque penso que é o melhor para mim e para a situação atual do clube. Se começasse a próxima época começava com uma série de problemas que se arrastam. Acho que é o melhor para todos, incluindo para os jogadores, que são o mais importante», afirmou na parte final de uma entrevista ao programa «Punto Pelota», acrescentando que não se arrepende de nada, mas admitindo que tenha cometido erros: «Quando tinha 30 anos e estava a começar no futebol pensava que sabia tudo e não sabia nada, porque cada ano aprendo mais, sou mais forte, melhor e mais preparado. A conclusão a que chego é que temos de estar sempre em aprendizagem permanente. Seguramente cometi erros, e outras pessoas com responsabilidades também, mas faz parte do jogo.»

Quanto às «guerras» em que se envolveu em Espanha, contra a imprensa, o Barcelona ou a UEFA, comenta-as assim: «Sou um treinador cómodo para os outros. Quando tens alguém como eu não tens que dar a cara, é confortável», prossegue. «Mas acho sempre que nos pagam para isto.»

Daí, segue para a última palestra aos jogadores. «Hoje (sábado) comentava isso com os jogadores. Não tenho que agradecer a ninguém porque vocês fizeram o que vos pagam para fazer. Comigo é a mesma situação, os clubes cumprem comigo e eu tenho que dar tudo, às vezes esquecer-me de mim mesmo. Por isso digo que respeito totalmente que me tenham criticado e discordado das minhas decisões. Mas como diz o Frank Sintara, 'I did it my way».

«Para ser assobiado no sábado», prossegue, referindo-se ao ambiente no último jogo com o Osasuna, «gostava de ter sido assobiado pelas razões justas e não por uma campanha, bem trabalhada, que terminará com êxito para quem a fez». «Mas é um êxito baseado na falta de ética. Na minha última palestra com os jogadores falei precisamente de ética, dignidade, da mensagem que lhes queria deixar. Há gente que se sentirá com muito êxito em função da despedida que o Bernabéu me deu, mas é um êxito baseado na falta de ética e honestidade», atira.



Na mesma entrevista, Mourinho admite apesar de tudo «orgulho» por ter representado o Real Madrid. E deixa um agradecimento especial a Karanka, que foi seu adjunto, revelando também que quis levá-lo para o Chelsea, o seu próximo clube. «Os outros (os adjuntos portugueses) são a minha banda. Ao Aitor conheci-o aqui e transformou-se num dos nossos, mas as pessoas não percebem que ao ser madridista dos que em Portugal se chama dos quatro costados defendeu o grupo e o Real Madrid. Quis que continuasse connosco, mas entendo a sua decisão. É um homem do Madrid, se ficar como adjunto tem muito para dar, se não está muito bem preparado para começar a carreira como treinador.»

Por fim, a opinião de Mourinho sobre se faz falta um pacificador, como tem sido referido Ancelotti: «Se um dia me qualificarem como pacificador será uma ofensa. Acho que o Carlo merece tudo menos ser ofendido antes de chegar, por isso espero que tenha o apoio de que precisa e que seja muito feliz. Ele ou outro. O próximo treinador poderá dizer como encontrou o clube, a dinâmica de organização, preparação de jogos, scouting, filosofia de teinos, porque não fizemos delete nos computadores nem pusemos nenhum vírus.»