A memória não tem razão. Hoje lembrei-me de João Pedro Morais, cruzei-me com o seu nome e deixei-me levar. O autor do Cantinho do Morais faleceu há três anos.

Foi em abril de 2010, não importa o dia, porque a memória vem e vai e poderia não voltar a uma figura que merece a humilde recordação.

Não era nascido quando Morais desenhou o seu cantinho na finalíssima da Taça das Taças. Nem quando, dois anos mais tarde, o defesa fez uma tesoura sobre Pelé que perpetuou o seu nome do outro lado do Atlântico.

João Pedro Morais, com um sorriso radiante e malandro, relatou tudo ao Maisfutebol numa entrevista em novembro de 2008.

Não viu em mim um jovem sem qualquer memória da sua carreira. Recebeu-me no seu último cantinho, uma casa recatada em Vila do Conde onde acumulava recortes de jornais e troféus. Recordou tudo.

«Minha menina, vou marcar um canto, entra na baliza». Morais namorou a bola, deu-lhe um beijo, antes de a colocar no fundo das redes do MTK Budapeste.

Herói para os adeptos do Sporting, vilão para os brasileiros. Em 1966, Pelé chamou-lhe «veado» depois de uma célebre tesoura.

Morais puxava pela memória, sorria como bom malandro e lembrava sempre: «Ele disse-me que ia vingar e deu-me mesmo». Agarrou-se ao queixo como se ainda sentisse as dores provocadas pela testa do Rei. O mesmo que, pouco depois, pediu para sair.

Abandonei o último cantinho do Morais, em Vila do Conde, encantado com o homem e a sua história. Foi a primeira vez que o vi. E a última.

Meses mais tarde, viria a falecer, com 75 anos. E hoje, no meio de nada, recordei o seu sorriso. Um bom malandro. Deixou saudades.