A tarefa não era fácil: encontrar o melhor onze a jogar em Portugal durante 2017. Duas épocas pela metade, muito talento em campo e, claro, decisões nada fáceis de tomar. 

O esquema 4x4x2 foi o adotado por se ter tratado do ponto de partida mais vezes utilizado pelos três grandes, logo à partida os principais fornecedores de jogadores, em teoria, para as escolhas, face à sua qualidade e ao rendimento apresentado durante os últimos 12 meses.

O resultado está abaixo. Acompanhe-nos em cada decisão, posição a posição.

Se não concordar, pode escolher o seu próprio 11 ideal aqui.

Guarda-redes
Rui Patrício (Sporting), 29 anos

A concorrência é forte. Melhor, muitíssimo forte: Meio ano de Ederson a altíssimo nível a justificar o investimento avultado de Pep Guardiola e do milionário Manchester City, e um pouco mais de Iker Casillas, até o espanhol ser ultrapassado por José Sá na corrida às redes portistas. No entanto, além de manter o estatuto de intocável quer em Alvalade quer na Cidade do Futebol, o guarda-redes somou defesas absolutamente decisivas ao longo dos últimos 12 meses, muito contribuindo para a solidez de um setor defensivo leonino novamente muito alterado por Jorge Jesus, e para mais um sucesso da Seleção Nacional, apurada para nova fase final. Patrício apresenta-se num momento de grande maturidade, não deixando baixar o nível depois do título europeu em Paris, e a manter-se certamente, como tal, entre os 10 melhores guarda-redes do atualidade e a justificar um clube de topo no panorama continental.

Boa nota também para os desempenhos de Cláudio Ramos (Tondela), Cássio (Rio Ave) e Bruno Varela (Vitória de Setúbal e Benfica).

Lateral-direito
Nélson Semedo (Benfica), 24 anos

A escolha não é simples. Excelente a entrada de Ricardo Pereira no FC Porto 2017-18, relegando para segundo plano o sempre disponível e mais dispendioso Maxi Pereira. Muito boa ainda a evolução de Piccini no Sporting em ano de estreia, sobretudo nos momentos de jogo ofensivos do conjunto. Sublinhe-se igualmente os bons seis meses de Bruno Gaspar antes de sair para Itália, e a regularidade de Marcelo Goiano no Sporting de Braga.

Além de ter sido o melhor jogador na sua posição em Portugal enquanto por cá andou, a escolha de Nélson Semedo tem ainda que ver com a influência do agora lateral do Barcelona no futebol dos encarnados, não só no plano defensivo, mas também na construção em apoio a partir de trás. Terminou a última temporada com 46 jogos, dois golos marcados e 12 assistências, o que confirma a dependência da equipa de Rui Vitória na verticalidade que acrescentava ao flanco direito, situação ainda hoje por resolver para as bandas da Luz.

Centrais
Luisão (Benfica), 36 anos; e Marcano (FC Porto), 30 anos

Outra escolha difícil. Trata-se de mais um setor com concorrência elevada. Felipe e Marcano têm, esta época, estado a um nível altíssimo, não só no plano defensivo, mas também no aproveitamento de bolas paradas, com o espanhol, sobretudo, a estender esse rendimento desde os tempos de Julen Lopetegui. Contra si, o brasileiro tem abusado de alguma agressividade, e até poderá estar a perder o lugar, nos últimos tempos, para o mexicano Reyes, se olharmos para as últimas decisões de Sérgio Conceição. Seja isso ou apenas um aviso dado pelo treinador, a verdade é que o ex-Corinthians não atravessa o seu melhor momento.

Luisão acertou a dupla que fez na última temporada com Lindelof, e tem sido o menos acusado pela fragilidade defensiva do Benfica pós-tetra, depois de já ter feito dupla com Jardel, Lisandro López e Rúben Dias. Sebastián Coates é o único resistente na defesa leonina, e tem também ele sido importante não só na coesão à frente de Rui Patrício, mas também na concretização de jogadas ofensivas. Um ou outro erro a defender, sobretudo quando exposta a sua menor velocidade, mas nada que belisque a qualidade sempre mostrada pelo internacional uruguaio. Inequívoca a injeção de solidez dada por Mathieu ao Sporting, mas ainda cedo para integrar como títular este balanço anual. 

Luisão e Marcano – até pela forma como encaixam numa possível parceria, com o brasileiro na sua posição habitual à direita e o espanhol mais sobre a esquerda – são a dupla escolhida, face à preponderância do brasileiro no último título e a regularidade do espanhol.

Lateral-esquerdo
Alex Telles (FC Porto), 25 anos

O lugar de lateral-esquerdo é assumido por Alex Telles. O brasileiro soma época e meia de enormíssima qualidade. Se há pouco escrevi sobre a preponderância dos centrais portistas nas bolas paradas, e a esta ainda podemos juntar a do médio-defensivo Danilo, tal não seria possível sem o pé esquerdo de Alex Telles. Os cantos, os livres laterais e até os frontais são seus, contribuindo ainda com poder de fogo na passada. É o melhor jogador a assistir no FC Porto desde que chegou ao Dragão, e também um dos melhores da Liga. Não integra tão bem um futebol hoje designado por associativo como o benfiquista Grimaldo, ou até mesmo Fábio Coentrão, os seus principais concorrentes, mas é inegável a importância na equipa que assumiu quer com Lopetegui quer com Sérgio Conceição. Se o defesa espanhol é penalizado pelas constantes quebras de continuidade face às lesões, e que também se têm notado aqui e ali no rendimento, o internacional português leva apenas metade do ano a pontuar.

Médio-defensivo
William Carvalho (Sporting), 25 anos

A Seleção desempata-o de Danilo, e a estabilidade física e número de presenças em campo dá-lhe vantagem sobre Fejsa. Três médios-defensivos de enorme qualidade, e sobretudo três referências em cada equipa. Se, salvo uma ou outra exceção, William Carvalho e Danilo têm registo parecido de golos, o futebolista do Sporting ganha na participação num futebol mais associativo, traduzido até pela soma do número de assistências para golo, e pela titularidade que lhe é entregue mais vezes por Fernando Santos.

Fejsa é, dos três, o verdadeiro trinco, aquele que faz sobretudo profissão da destruição do jogo adversário e da recuperação de bola, entregando-a quase sempre a outros para criarem. O sérvio apenas marcou duas vezes desde que chegou à Luz, uma na Liga outra na Champions, e não soma qualquer passe decisivo. Referência no Sporting e na Seleção, William ganha esta corrida ao onze ideal.

Menções honrosas ainda para Battaglia, que soma Sp. Braga e Sporting, para Vukcevic, a um nível bem elevado neste final de ano nos Guerreiros do Minho, e até para Idris, do Boavista, um verdadeiro poço de energia.

Médio-centro
Pizzi (Benfica), 28 anos

Sem Jonas durante muito tempo, foi o médio encarnado quem carregou o Benfica às costas na última temporada. Foram 12 as assistências na última época, entre Liga, Taça e Supertaça, e 13 os golos. Na ausência do Pistolas, tornou-se o verdadeiro box-to-box, e terá sido, sem grande margem para discussão, o melhor futebolista da temporada em Portugal. Muito dependente do seu futebol, a equipa de Rui Vitória ressentiu-se no arranque da nova época da quebra de forma e até teve de rearranjar-se num 4x3x3 mais funcional no meio-campo, mas continua a aparecer aqui e ali com apontamentos de jogador de eleição. Só isso permitiria que alguém em crise como Pizzi somasse já dois golos e dez assistências desde agosto: seis na Liga, duas na Taça e outras duas na Supertaça.

Entre Rio Ave e um pouco de Benfica, Krovinovic também tem qualidade para entrar para a discussão, tal como Fransérgio, que transpôs o que já mostrara nos Barreiros para a Pedreira até se lesionar com gravidade. O croata é a garantia de mais tempo de posse de bola e uma melhor definição no meio-campo rival, a que pode somar ainda uma presença mais efetiva, com o tempo, nas áreas contrárias. Já o brasileiro, mas completo nas suas características, não só em termos de terrenos pisados mas também no bom cabeceamento, foi um dos destaques da equipa de Abel Ferreira nos primeiros meses da temporada, pela facilidade como chega e define com eficácia junto às balizas rivais.

O impacto de Bruno Fernandes no Sporting, com golos (segundo melhor marcador) e assistências (maior número de passes decisivos na equipa), é inegável, confirmando-o como grande esperança para o futuro próximo do futebol português. Capaz de preencher com critério e excelente definição vários lugares, tem vagueado entre a posição 8 e a de segundo avançado, permitindo a Jorge Jesus variar e gerir, conforme o momento e os rivais. Com um futebol muito mais maduro do que a idade, perde para Pizzi pelos poucos meses que tem por cá este ano.

A segunda metade do 2017 de Herrera é de grande intensidade, assumindo-se como líder e talvez um dos principais argumentos estratégico de Sérgio Conceição para jogos de grau de dificuldade maior. O mexicano tem feito esquecer o talentoso e também dispendioso Óliver Torres, que passou de titular para o banco e até algumas vezes para a bancada, municiando a explosão dos portentos físicos Aboubakar e Marega. Ainda está longe do registo de 2015-16 (nove golos e quatro assistências só no campeonato), mas a influência que tem no conjunto dificilmente se consegue traduzir por números deste tipo. É bastante mais abrangente, até no capítulo defensivo.

Extremo-direito
Gelson Martins (Sporting), 22 anos

Que seria do futebol ofensivo do Sporting sem ele? Sem a velocidade, aquela obsessão em partir para cima do adversário, na ânsia de encontrar espaço para o passe, para o cruzamento ou, à falta de alguém em melhor posição, para o remate? Há sempre um Sporting com e outro sem Gelson. A equipa ressente-se sem poder recorrer aos esticões que dá nas alas, e a aflição e desequilíbrios que provoca nos adversários. O que falta ao internacional português é ser tão rápido a pensar como a correr, e aumentar a percentagem de sucesso na definição, mais necessária, devido a uma produção sempre um pouco mais baixa, em jogos teoricamente mais complicados. As últimas exibições mostram que esse craque mais adulto está a sair, aos poucos, das exibições do jovem extremo. Um bom sinal para o futuro.

Marega não é o mais refinado dos avançados, mas o ano que agora acaba mostrou um maliano demolidor, primeiro em Guimarães e depois no Dragão, onde se aliou a Aboubakar para uma dupla de assalto infernal. Capaz de esticar o jogo nas transições, e também incansável na recuperação da bola, Conceição encontrou nele a versatilidade suficiente para ajudar a desdobrar a equipa em encontros de grau de dificuldade e exigências maiores. A tudo isto soma golos, muitos, contrariando quem lhe vaticinava vida difícil no regresso ao FC Porto. Salvio tem sempre, se as lesões o deixarem sossegado, números de grande relevância para o Benfica, no que diz respeito aos momentos finais das jogadas, com golos e assistências. O argentino nem sempre define da melhor forma, mas é o forte sentido de baliza, aliado à resistência física, que lhe tem garantido lugar cativo no 11 de Rui Vitória.

O final de ano não tem sido feliz para Jesús Corona sobretudo fisicamente, mas o mexicano é sempre uma boa arma para furar as defesas contrárias, face à boa qualidade técnica que tem e até a capacidade de não se deixar amarrar à linha, criando espaço também com esses movimentos para a projeção do lateral do seu lado.

Os bons primeiros seis meses de Gil Dias no Rio Ave, outros momentos a espaços de Salvador Agra entre Nacional e Desportivo das Aves, tal como Allano no Estoril ou até João Amaral no Vitória de Setúbal merecem esta nota de rodapé.

Avançados-centro
Jonas (Benfica), 33 anos; Bas Dost (Sporting), 28 anos

A metade de época excelente de Vincent Aboubakar no FC Porto não chega para destronar os goleadores das equipas rivais. Jonas voltou a tempo de contribuir com golos, alguns decisivos, para o quarto título consecutivo do Benfica, e nesta temporada apresenta-se a um ritmo ainda mais impressionante, com 18 golos já apontados em 15 encontros de campeonato. A isto soma sempre a qualidade que mostra em campo, uma classe na definição que não está ao alcance da quase totalidade dos avançados que jogam a Liga.

Também Bas Dost se tem apresentado a grande nível. Se na temporada passada lutou até perto do fim com Lionel Messi pela Bota de Ouro, na atual mantém elevado nível de eficácia, garantindo 41% dos golos da equipa de Jorge Jesus. Um verdadeiro matador.

As metades de ano de Mitroglou, Rui Fonte, André Silva e do próprio Tiquinho Soares – os problemas físicos atiraram-no para a condição de suplentes, atrás de Marega, algo que não era expetável em agosto – também merecem destaque, embora fiquem um pouco aquém de destronar Jonas ou Dost.

Extremo-esquerdo
Brahimi (FC Porto), 27 anos

Esteve para sair, acabou por ficar e em boa hora. É indiscutível no FC Porto e uma das suas grandes fontes de inspiração. Muito forte no um-para-um, tem ajudado a alimentar a voracidade de Aboubakar e Marega e atingido um nível muito elevado em certos jogos. Embora apresente números dignos de registo, parece sempre que ainda pode acrescentar mais golos e passes decisivos aos que já consegue, em média, por temporada, tal a forma como é capaz de se colocar no caminho do golo. Será que vai mostrar essa constância esta temporada, graças às injecções constantes de adrenalina dadas por Conceição?

A partir da esquerda e numa ideia bastante atrativa como é a apresentada sistematicamente pelo Rio Ave perante qualquer adversário, Rúben Ribeiro esteve em grande em 2017, de tal forma que estará junto à porta de entrada num grande clube já em janeiro. Aos 30 anos, quando muitos já sentenciavam a passagem ao lado de uma carreira com bem mais feitos, o talentoso médio parece disposto finalmente a aproveitar a oportunidade de uma vida. 

Raphinha está no plano oposto, aos 21 anos. Muito o que o Vitória de Guimarães tem conseguido alcançar nasce dos seus pés. Claramente, um jogador para maiores voos, assim que consiga, como parece estar a conseguir, maiores índices de regularidade. Franco Cervi, capaz de aliar o momento defensivo e atacante no Benfica, e Fábio Martins, a mostrar crescimento em Braga, merecem também figurar por aqui. Tal como a expetativa deixada por outros como Nakajima, Etebo, Acuña e Ricardo Valente.

Onze ideal de 2017:

Suplentes:
Iker Casillas; Sebastián Coates, Danilo, Rúben Ribeiro, Raphinha, Marega e Aboubakar