O campeonato interessa-me mais do que o Benfica, o Sporting, o F.C. Porto e todos os outros, sejam eles quais forem. E o futebol interessa-me muito mais do que o campeonato português.

Por isso lamento que o Benfica não tenha, a 3 de Julho, um presidente como José Eduardo Moniz.

Não falo especificamente no director-geral da TVI. Falo numa pessoa como ele e na importância para o futebol português que teria alguém com os valores, as práticas e a forma de estar de José Eduardo Moniz.

Num momento em que o Sporting tem um presidente com o perfil de José Eduardo Bettencourt, a chegada de um Moniz ao Benfica alteraria o clima no futebol português. E seria a melhor oportunidade (de sempre?) para o regenerar.

A continuidade de Luís Filipe Vieira no Benfica manterá o ambiente de tensão e desconfiança.

Vieira e Pinto da Costa nunca terão possibilidade de manter uma relação civilizada (apesar de as segundas linhas trabalharem em conjunto, na Liga, e muito bem). E José Eduardo Bettencourt tem a experiência suficiente no futebol para saber que não pode confiar a 100 por cento em nenhum deles.

Com um presidente da Liga equilibrado, um presidente da Federação que não incomoda e não baixa o nível, um patrocinador empenhado, mais Bettencourt e um Moniz, Pinto da Costa seria obrigado a abdicar definitivamente de um discurso que às vezes ainda recupera. Sob pena de ficar a falar sozinho, algo que nunca lhe aconteceu.

De repente, o futebol poderia passar a ser algo completamente diferente do que foi nas últimas décadas. Eu sei que custa a acreditar. Aliás, muitos dos que me lêem terão menos de 30 anos e para esses as agressões verbais, o nível rasteiro e as acusações sem fundamento são o futebol português. Que depois tem uns tipos que vagamente se mexem no campo, mais uns que agitam os braços nos bancos. Para si, caro leitor, tenho uma notícia surpreendente: os clubes não precisam necessariamente de eleger como presidentes pessoas que cultivam a agressão como forma de afirmação do seu clubismo. Ou lá o que é.

Para o futebol português, a eleição de Luís Filipe Vieira a 3 de Julho será uma oportunidade perdida. Mais uma. Para o Benfica será apenas mais um dia. Sem glória, sem entusiasmo e, mais importante, sem esperança e sem o mínimo de convicção que estas coisas apesar de tudo deviam ter.

NOTAComo alguns leitores sabem, sou director do Maisfutebol e editor da TVI, o que pode tornar suspeito um texto onde se fala de José Eduardo Moniz. Assumo que a perspectiva possa não ser suficientemente distanciada, caberá ao leitor julgar. Mas a minha responsabilidade enquanto pessoa que analisa o futebol português obrigava-me a escrever sobre o tema. Seria mais cómodo ficar calado. Deixo esta nota para que tudo seja claro. Até porque vivemos momentos delicados e preocupantes no jornalismo de desporto em Portugal. Nunca como hoje a relação com os clubes foi tão incómoda, para usar uma palavra que diz o mínimo. É lamentável assistir ao que está a passar-se e aconselho vivamente o leitor a estar atento. Se consome informação de desporto (e pelos vistos sim, está a ler um texto no Maisfutebol), gaste algum do seu tempo e faça um exercício crítico sobre quem escreve, quem fala, quem comenta. E o que dizem. Sob pena de ser enganado. Em vez de informação rigorosa e livre, versões parciais da realidade. Em vez de opinião livre, medo e subserviência. Como jornalista, tenho vergonha do que está a suceder, embora saiba que se trata de um período que um dia terminará. Não se pode enganar toda a gente, sempre.