Escrevo antes do Fiorentina-Sporting porque depois pode ser fácil ter esta opinião. E porque, na verdade, o jogo em nada alterará o que penso sobre Paulo Bento e a situação em Alvalade.
E para ser claro, aqui fica o que penso sobre o tema: não faz sentido discutir a continuidade de Paulo Bento no Sporting.
Assim como também acho que não faz sentido alterar seja o que for na SAD do Sporting e restante estrutura. A minha opinião é baseada no seguinte:
1. Os sócios votaram há dois meses num presidente que se apresentou a eleições dizendo que o seu treinador seria Paulo Bento. «Forever», explicou ao mundo.
2. O candidato ganhou de forma evidente.
3. Apresentou-se também como o homem que iria manter a estrutura existente, o que fez. Além do treinador, continuaram Ribeiro Telles e Pedro Barbosa.
4. Durante a campanha, explicou que a vida está difícil e por isso o Sporting faria uma gestão com os pés no chão. Leia-se, sem grandes contratações, sem grande euforia de mercado.
5. Depois das eleições, Bettencourt cumpriu o prometido e contratou dois jogadores, ao mesmo tempo que recuperava mais dois da Academia e dispensava Romagnoli e Tiuí.
Ou seja, Bettencourt está a fazer exactamente o que prometeu. O plano que os sócios votaram em força está a ser cumprido.
Então, queixam-se de quê?
Em primeiro lugar, queixam-se porque é fácil.
Um adepto de um clube é antes de mais uma pessoa com vida tranquila. Tem todas as opiniões e praticamente nenhuma responsabilidade. Paga bilhete, vai ao jogo e manifesta-se. Depois segue para a sua vida. Admito que sofra pelo clube, claro, sobretudo quando o colega do lado lhe lembra os maus resultados.
Os adeptos vivem um futebol que não é real. O futebol é dos jogadores e dos treinadores. E, de forma um pouco mais distante, dos dirigentes.
Para jogadores e treinadores, o futebol é a sua ocupação profissional, muitas vezes a sua vida. Para os dirigentes deve ser exercício de responsabilidade e maturidade.
Se não se pode exigir aos adeptos que sejam equilibrados, já podemos e devemos esperar dos dirigentes que cumpram as suas promessas e sejam coerentes.
No caso de José Eduardo Bettencourt, isso significa manter a estrutura que escolheu, apoiá-la e estar disponível para explicar as suas opções. Mil vezes, se for preciso, com total clareza. Mesmo que hoje à noite a equipa saia da Liga dos Campeões.
Os adeptos são importantes, claro, mas raramente as «decisões» que tomam possuem base racional.
P.S.: Do meu ponto de vista, só existe uma razão forte para mudar uma pessoa que está no clube há muitos anos, neste caso o treinador: má relação com o plantel. No passado foi visível a existência de casos entre Paulo Bento e alguns futebolistas (Liedson, Vukcevic, Miguel Veloso, por exemplo). Hoje tudo parece resolvido. O treinador é o mesmo e nunca escondeu a sua forma de lidar com estes processos. Os jogadores também se mantiveram. A estrutura dirigente igualmente. Se por acaso a situação é insustentável, deveria ter sido identificada antes e comunicada a José Eduardo Bettencourt. Se não é assim, resta esperar que a bola entre. Pelo menos tantas vezes como nas épocas anteriores.