«Nunca recusei jogar pela seleção nacional!»

Manuel Fernandes não se mostrou disponível para falar com Paulo Bento numa viagem do treinador à Turquia e isso pode ter determinado o seu afastamento definitivo do leque de opções da seleção nacional.

«Se não quer falar com o seleccionador, é porque não quer estar na selecção. Esse é um assunto encerrado», avisou Paulo Bento.

Ponto prévio: tenho o atual selecionador nacional em boa conta e considero que seria difícil fazer melhor com o grupo de jogadores à sua disposição.

Feita a ressalva, acho que não deve ser permitido o avolumar de casos como este que envolve Manuel Fernandes, um jogador que tem apresentado um rendimento extremamante interesssante no futebol turco.

O campo de recrutamento da seleção nacional é relativamente curto e Paulo Bento não pode limitar ainda mais as opções.

Se tiver legitimidade para o fazer, face aos contornos envolvendo alguns jogadores, deve haver a preocupação de esclarecer publicamente – em conferência de imprensa - todas as decisões.

A seleção nacional representa um país e todo o seu povo, estando acima de quaisquer interesses ou considerações pessoais. Creio que existe uma diferença entre a vontade de Manuel Fernandes em falar em determinada hora com o treinador da seleção e o desejo de vestir a camisola das Quinas.

Manuel Fernandes não tem de gostar de Paulo Bento ou das suas decisões, desde que as respeite e trabalhe no limite das suas capacidades. Por outro lado, o selecionador nacional deve tomar decisões a frio e com a máxima clareza perante os verdadeiros alicerces da nação: as suas gentes.

Resumir o assunto a meia dúzia de frases numa entrevista pontual é manifestamente curto. Até porque esta história parece, como outras, mal contada.

Quando Ricardo Carvalho abandonou o estágio da seleção, o povo ficou ao lado do selecionador. O central mostra-se disponível para voltar mas a porta permanece fechada. Quando Paulo Bento acusou Bosingwa de simular uma lesão, respeitou-se o argumento do técnico. O lateral respondeu no mesmo tom e impossibilitou a convergência.

Manuel Fernandes surge entretanto como carta fora do baralho, pelo menos para quem tiver lido o Record naquele dia.

Agora chegam as dúvidas. O selecionador nacional, claro como água nas polémicas anteriores garante que não há qualquer problema com Danny. A suspeita permanece e o jogador do Zenit está de volta à competição pelo seu clube.

E Ricardo Quaresma? Perante uma tremenda dose de problemas físicos entre os extremos da seleção nacional, na altura do particular com os Camarões, sobram interrogações em torno da ausência do extremo do FC Porto. Foi, recorde-se, o último compromisso antes da convocatória para o Mundial.

A lista vai crescendo e não pode continuar a evoluir desta forma, agora pouco clara.

Por outro lado, é importante lembrar que apenas a morte é irreversível e o perdão é uma virtude, não um defeito. Tem de haver espaço para o diálogo e a compreensão entre jogadores que desejem representar a Seleção Nacional e o treinador que deseje ter os melhores à sua disposição.

Esta não é a seleção do Ricardo, do José, do Manuel ou do Paulo. É de todos nós.

Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores, jogadores e restantes agentes desportivos. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt)