«Os portugueses merecem essa alegria, mas não basta dizer que temos qualidade, que podemos chegar longe, isto e aquilo, domingo é o próximo jogo, contra os Estados Unidos, e temos de encarar este jogo como se fosse o último jogo das nossas vidas»

Divido este artigo de opinião em três pontos: passado, presente e futuro da Seleção Nacional.

Passado: Fábio Coentrão deixou uma mensagem de despedida que encaixa na sua forma de ser e estar. A sua lesão é uma péssima notícia para a Seleção Nacional e temo que os próximos jogos reforcem esse cenário.

Fica desde já a opinião convicta: a minha seleção teria onze Coentrões, se tal fosse possível. Não preferiria onze Ronaldos? Provalvelmente, mas a resposta não é tão clara como seria de esperar. Mesmo que o ponto de comparação seja o melhor jogador do Mundo.

Em 2012, o Maisfutebol foi convidado pelo The Guardian para integrar uma rede sem paralelo, englobando jornais dos países que estariam representados no Europeu.

O primeiro desafio passava por escrever o perfil de uma estrela da seleção. Ronaldo foi excluído pelos ingleses à partida - já o conheciam há vários anos. Sugeriram Pepe, achavam que era o segundo jogador mais importante de Portugal. E eu, sem questionar o valor do central, apresentei a verdadeira hierarquia: depois de Ronaldo vem Coentrão e Moutinho em terceiro.

Por essa altura, Fábio Coentrão era altamente questionado no Real Madrid. Não parecia justificar o investimento. Mas garanti que ele faria um grande Euro2012. «The rebel kid from Caxinas hopes once again to prove his detractors just how good he is.» E assim foi.

Ora eu que nunca falei com o esquerdino, nem o conheço de lado nenhum, vejo nele tudo o que um jogador de Seleção Nacional deve ter: a qualidade, a capacidade de sacrifício, a entrega ao jogo e, sobretudo, a agressividade competitiva com critério. Sim, agressivade com critério. Raça. A agressividade pura é outra coisa qualquer.

Aceitando a hipótese de memória seletiva, não me recordo de um jogo medíocre de Coentrão com a camisola de Portugal. O lateral diz adeus ao Mundial por esticar a perna após um passe demasiado longo, uma bola perdida que para ele é uma expressão sem sentido. Não sabe encarar os jogos de outra forma, mesmo com a desvantagem numérica e no marcador.

Fica a vénia: Fábio Coentrão é o que a Seleção Nacional, representando um país como Portugal, deve ser.

O presente: em 2014, o The Guardian repetiu o projeto e novo perfil individual em vista. Os ingleses pediram-nos William Carvalho, estavam deliciados como o que se ouvia dele por lá. Respondi que sim, era a grande estrela do futuro, mas que dificilmente seria titular no arranque do Mundial. Infelizmente, tinha razão. Apresentamos o mesmo onze da despedida em 2012.

A derrota com a Alemanha não era inesperada – temos de reconhecer que estamos abaixo das maiores seleções -, mas poucos esperariam o resultado e o sobretudo o número de lesões musculares. Aceitaria uma recaída de Ronaldo (diria que esteve a 70 por cento, se tanto) ou de Meireles (80), mas esses aguentaram, ao contrário de Fábio Coentrão, Hugo Almeida e Rui Patrício. Patrício? Estranho.

Previ realisticamente (desejando o contrário), que Portugal iria perder com a Alemanha – por números tangenciais -, empatar com os Estados Unidos e vencer o Gana. Passaria com vantagem sobre os Estados Unidos – achei desde cedo que seria um adversário temível - no goal average, mas isso já não chega. Agora, pegar nos que restam dos 23 e vencer os dois jogos, afastando a imagem de catástrofe ao nível de 2002. 

O futuro: devemos quanto antes discutir a preparação para o Euro2016. A crítica recorrente aponta para um campo de recrutamento limitado, mas a Seleção não pode mudar as políticas de Benfica e FC Porto. É pouco provável que dali venham jovens talentos portugueses com ritmo de jogo. Tem de se reinventar.

Iremos com este onze para o próximo europeu? É difícil aceitar que seja esse o projeto. Não pode ser. A integração de novos elementos, para lá do banco de suplentes, tem de surgir quanto antes. Para lá do banco da Seleção e para lá de Benfica, Sporting, FC Porto e Sp. Braga.

Há talento português por todo o lado, basta abrir a porta. Vierinha é um exemplo claro.

Se Inglaterra chama três jogadores do Southampton (o oitavo classificado da Premier League, onde joga o português José Fonte), se Itália tem Cadreva como titular (a Lázio terminou na nona posição), se França tem Cabella do Montpellier (15º classificado), faz sentido riscar jogadores do Nacional, do Estoril ou do Vitória de Setúbal?

O valor anda por aí. Nos clubes pequenos, nos campeonatos médios do Velho Continente. Temos portugueses a vencer campeonatos na Croácia ou na Grécia – finalistas deste Mundial – e até a Liga Europa. Merecem uma oportunidade, uma chamada. Uma hipótese de crescerem na Seleção. Podem surgir por ali novos Coentrões.