Tirambaço: substantivo masculino; Chute violento em direção ao gol (Brasil)

José Mourinho está fora dos nomeados para o prémio FIFA de melhor treinador do ano. Não espanta, mas é novidade. Porque é a primeira vez que acontece. Meio ano sem trabalho e menos de meio no Manchester United que o deixam exatamente no mesmo sítio em que David Moyes estava: em oitavo, a oito pontos do líder.

Mourinho perderá pouco tempo a pensar sobre a ausência da lista dos melhores dos melhores. Ocupará o tempo a analisar o Manchester United e os problemas que tem. E neste momento, um deles, por incrível que possa parecer, é Zlatan Ibrahimovic.

Tal como o português em Inglaterra, o sueco tem muito crédito, graças ao número absurdo de golos que fez pelos sete clubes em que passou antes de chegar a Old Trafford.

Desses, também só não foi campeão pelo Malmo, na Suécia, embora possa ficar na História como alguém que representou sete emblemas campeões europeus sem ele próprio conseguir o título. É uma honra que nenhum jogador almeja, mas que cabe a Zlatan no presente.

Voltemos para dentro de campo. É certo que o ponta de lança é, provavelmente, o jogador cujos números estão mais dependentes do resto da equipa. No entanto, Ibra não é um avançado qualquer. Mesmo quando o coletivo não cria tanto e tão bem, espera-se que arranje golo. Já o fez antes, mas é precisamente isso que não está a fazer agora.

O sueco é o jogador que mais vezes remata na Premier League. Tem 57 tentativas (quatro golos, o pior registo de Ibra nos últimos cinco anos) e apenas por duas vezes não foi o jogador em campo com mais remates: frente ao Stoke e com o Bournemouth.

Mesmo com o Chelsea, numa derrota por 4-0, ou com o Liverpool, em que o ManUtd esteve muitas vezes remetido ao próprio meio-campo, Zlatan foi, entre United e adversário, o jogador mais rematador.

O derby com o City, na Premier League, foi o último encontro de campeonato em que Ibrahimovic marcou. E também aí, já com 2-1, desperdiçou pela menos uma ocasião fácil para empatar a partida. Nesse jogo, fez 10 remates, um número apenas batido pela quantidade absurda frente ao Burnley, o último jogo realizado (12).

Dada a eficácia do sueco noutras paragens, levantam-se duas questões: remata em piores condições, está em crise de confiança. Creio que ambas se aplicam.

A primeira terá de ser resolvida pelo coletivo - e pelo treinador. Por aquilo que foi visto frente ao Burnley, está, aparentemente, a ser tratada. O desperdício de ocasiões foi enorme e, em várias delas, Ibrahimovic não conseguiu concretizar oportunidades fáceis demais para o nível que tem e para aquilo que os colegas, sobretudo Pogba, lhe proporcionaram.

O que leva a pensar que um homem com uma autoestima gigantesca atravessa um período de pouca certeza no que faz. Mourinho continua a aposta num jogador que não precisa de provar mais nada a ninguém. E o próprio treinador também já demonstrou que, com ele, estatuto não ganha lugar no onze (Casillas, Cech), embora o de Zlatan pareça automático.

Os golos do sueco vão voltar, podemos escrevê-lo como um facto (talvez até voltem já esta noite na Liga Europa). Mas até lá podia haver uma alternativa, como Mourinho sempre teve.

Kezman, Gudjohnsen, Crespo, Shevchenko no seu primeiro Chelsea, como substitutos do incontornável Drogba;

Adriano, Crespo, Júlio Cruz como suplentes deste mesmo Ibrahimovic, no Inter, ou Etoo e Milito, que alternavam, com Balotelli por lá também.

Higuaín e Adebayor no Real Madrid, no qual havia Benzema e Ronaldo.

Torres, Remi e um veterano Drogba a fazerem sombra a Diego Costa na segunda passagem pelo Chelsea.

Neste United, quando se olha para alguém com capacidade de área…só se encontra Wayne Rooney, que tem sido utilizado mais recuado.

Mourinho não o sabia, claro, mas precavido como costuma ser, devia ter pensado que, um dia, Zlatan podia atravessar uma seca de golos como não tinha desde 2007, e ter gasto algum tempo a pensar nisso quando o mercado ainda estava aberto. Ou então, acreditou que o capitão pode fazer o lugar e, se assim for, está na hora de tirar Rooney da pré-reforma como ponta de lança.

O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter.