Pensem no seguinte: o treinador diz que pretende ser empático para melhor compreender o que se passa na mente do atleta e conseguir ser o mais eficiente possível na sua relação e comunicação com os atletas todos. Certo?

O irónico é que nós tentamos compreender o atleta, mas não percebemos que o atleta recebe informação de uma equipa técnica constituída por pessoas diferentes que podem chegar a dois, três, cinco ou dez diferentes perfis comunicacionais. Ou seja, durante um treino ou a competição, é natural que os treinadores queiram contribuir para a melhoria do atleta, corrigir algo, dar apoio ou pressionar. E durante esse momento, o treinador – dentro da gestão emocional que consegue fazer de si próprio – dirige um conjunto de palavras, entoações, sentimentos e emoções para o atleta.

O atleta – não o tem de fazer – tenta dentro das suas possibilidades e disponibilidades captar a informação. Acontece que se cinco treinadores observarem um atleta a realizar uma tarefa qualquer dificilmente retiram o mesmo daquela ação. E mesmo que, por exemplo, considerem que a ação foi bem executada, todos os treinadores terão intervenções com bases diferentes. Um dirá apenas boa!, outro dará um feedback positivo com correções, outro e mais outro dirão coisas diferentes, possivelmente baseados em emoções distintas.

O ponto que destaco é que deve existir um trabalho de identificação de atleta a atleta. De saber como ele recebe melhor as informações. Perceber se por acaso nós – que pertencemos todos à mesma equipa técnica – não pensamos no atleta como um ser totalmente distinto dos outros membros de equipa técnica. E assim consecutivamente.

Pequenos detalhes que servem para aproximar todos de todos. Não fisicamente mas relacionalmente. E servem para que o alinhamento de intervenções não se reserve a aspetos táticos ou técnicos. Digo eu.