«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.

Depois de uma breve pausa para o Clássico, o leão recuperou a faceta mais promissora em Santa Maria da Feira.

É difícil calcular até que ponto Marcel Keizer possa ter abdicado dos seus princípios para enfrentar o FC Porto, campeão em título e líder destacado da Liga, mas é seguro dizer que o ajuste tático condicionou as ideias da formação leonina.

Ao baixar as linhas, com o intuito de retirar a profundidade que os avançados portistas tanto gostam de explorar, o técnico holandês conseguiu a coesão defensiva que algumas vezes tem faltado. Mas ao procurar esta melhoria, mais centrada no posicionamento do que no comportamento coletivo, Keizer «amarrou» as ideias que o ajudaram a ganhar crédito em Alvalade. Também por influência da pressão portista, é certo, que remeteu a formação leonina para uma ligação direta entre Renan e Bas Dost, algo que Felipe, Militão e Danilo controlaram sem problemas.

O valor do adversário não é uma mera nota de rodapé nesta dissertação, mas perante o contexto pontual da Liga, Keizer ficou demasiado amarrado à forma de condicionar o adversário, em prejuízo das virtudes que têm procurado desenvolver.

Quatro dias depois, em Santa Maria da Feira, o Sporting recuperou esse lado promissor, a ponto de o técnico holandês ter dito que tinha sido uma das melhores exibições.

Claro que o valor do adversário era completamente indiferente, tanto do ponto de vista individual como coletivo, mas a formação leonina voltou ao padrão estabelecido pelo técnico holandês. O Sporting que faz questão de assumir o jogo, de gerir o ritmo com bola, que tanto preenche o corredor central como pede criatividade nas alas, e que nunca se cansa de procurar a baliza contrária.

Mesmo sem atingir um patamar de brilhantismo, o Sporting produziu o suficiente para conseguir um resultado mais dilatado, não fosse o contraste entre o caudal ofensivo criado e os níveis de eficácia (a atravessar um período de menor inspiração, Bas Dost somou o terceiro jogo sem marcar).

Aqui e ali parece faltar alguma sagacidade, mas isso não significa uma tendência quase cega para procurar a baliza contrária com maior verticalidade. A paciência é uma virtude a preservar, mas por vezes o adversário é atraído para o desequilíbrio e o leão demora a perceber que chegou o momento de esticar a agarrar.

É esse equilíbrio entre risco e segurança que Keizer procura, pressionado pela ditadura dos resultados. Não é difícil perceber que um dia, quando a bola não entrar, o holandês será acusado de passividade no banco por aqueles que fizerem a conta aos passes laterais.

A melhor forma de adiar esse dia é ser fiel à filosofia que lhe abriu as portas de Alvalade.