Não tiveram o rótulo de meninos da Vila.
Foram, sim, o avassalador ataque dos sonhos. Orientado por Luís Alonso Pérez, mais conhecido por Lula, o Santos conquistou o Mundo depois de dominar o Brasil e o continente americano.
Treinador do clube entre 1954 e 1966, o comandante conquistou 30 títulos nacionais e 4 internacionais.
Bicampeão mundial em 1962 e 1963, diante de Benfica e AC Milan, o professor era um ardiloso explorador e inventor de talentos, por vezes injustamente ridicularizado, já que a destreza na comunicação nunca foi o seu ponto forte: pertence-lhe o famoso triângulo de quatro.
Pouco importava, os jogadores entendiam-no e o Peixe ganhava tudo o que havia para ganhar.
Nos tempos em que o 3x2x5 ditava leis, Lula tinha a agilidade mental para o transformar em 4x2x4. O gaúcho Calvet, muito sagaz a ler o jogo, eficaz no desarme e com argumentos no passe, recuava para o eixo central da defesa e posicionava-se ao lado do elegante Mauro, zagueiro exímio no jogo aéreo, que não suava nem sujava os calções.
As laterais ficavam entregues a Lima, conhecido por curinga (joker) devido à sua enorme versatilidade, pois apenas não terá atuado a guarda-redes, e Dalmo, o jundiaiense que diz ter sido o inventor da paradinha e o primeiro jogador brasileiro a utilizar chuteiras de borracha.
Na baliza, Gilmar, o Girafa, supremo guardião do templo santista e maravilha elástica, goleiro que trocou o y pelo i, o Timão pelo Peixe e que se sagrou, em 1958, campeão do Mundo pelo Brasil com a camisa 3.
Mais à frente, Mengálvio, interior-direito, o Pluto da Vila Belmiro devido ao seu dinamismo e enorme disponibilidade física, baixava para um espaço de construção à frente do gerente Zito, o volante defensivo que assumia o papel de líder, capaz de contestar decisões dos árbitros e abalroar os adversários, como também de incentivar ou condenar os seus colegas sem olhar a nomes.
Era a partir da habilidade e criatividade do equilibrador Menga que muitos sonhos se transformavam em golo, concretizados por Dorval, ponta-direita explosivo e desequilibrador, fulminante a aplicar o seu forte remate na sequência de diagonais, mas também a executar cruzamentos e passes; por Pepe, o ponta-esquerda veloz e habilidoso que viria a ser treinador do Boavista, imortalizado como o pé-canhão da Vila, graças ao seu forte e colocado remate de pé esquerdo; ou pelo feiticeiro Coutinho, o matador silencioso que foi batizado de génio da pequena área e que também era especialista em tabelas.
Quem falta? Pelé, o rei Pelé, melhor futebolista do século XX para a FIFA, IFFHS, France Football, L¿Équipe e Comité Olímpico Internacional, descoberto por Waldemar de Brito, internacional brasileiro na década de trinta, no Bauru. Com liberdade total de movimentos, colocava arte em superlativo entre os sonhos e os golos (mil e noventa oito em mil cento e seis jogos com a camisa alvinegra, diz-se).
PS: O título do texto foi descaradamente usurpado ao magnífico escritor neorrealista Soeiro Pereira Gomes