Não marcou nenhum golo, mas esburacou por completo a defesa do Sporting. A grande maioria da imprensa não teve por isso dúvidas em considerar Edson o melhor em campo na vitória histórica do P. Ferreira. A pergunta sobre se já leu os jornais provoca de imediato uma gargalhada. «Só li A Bola, mas já me ligaram alguns colegas a dizer que fui destacado em todos os jornais. É muito bom ver o meu trabalho assim elogiado».
Até porque é de muito trabalho que aqui se fala. «Não tive uma vida fácil», conta em conversa com o Maisfutebol. «Desde os dezoito anos que sempre trabalhei. Comecei na construção civil, como trolha, estive depois no atendimento numa loja de tintas, mas as coisas correm mal, tive de sair, e foi o presidente do Oliveira do Bairro que me arranjou emprego na fábrica dele de louças e sanitários. Trabalhava na secção de banheiras».
O futebol era apenas a paixão das horas vagas. Durante o dia esforçava-se em trabalhos pesados, à noite dedicava-se ao que realmente gostava. «Era muito difícil porque saía do emprego tarde e cansado, mas não tinha outra hipótese. A minha família é de origens humildes e tinha que ajudar». Apesar das dificuldades que encontrava todos os dias, Edson diz nunca ter pensado em deixar o futebol. «É o que realmente gosto de fazer e, como se costuma dizer, quem corre por gosto não cansa. Sempre joguei. Fiz toda a minha formação no Anadia e joguei depois nos seniores do Mealhada, do Anadia e mais tarde do Oliveira do Bairro. O futebol sempre foi a minha paixão». Por isso suportou sempre as dificuldades com a ilusão de um dia dar o salto.
«Nunca pensei defrontar jogadores que só conhecia da televisão»
Só nunca imaginou que o salto fosse tão grande. «Bem gostava de dizer que sim, mas não, nunca me passou pela cabeça», jura. «É uma coisa que se sonha quando se está a dormir, mas nunca pensei que fosse possível ver assim com o meu nome em todas as capas de jornais». Por isso Edson garante que ainda está a passear nas nuvens. «É verdade, mudou muita coisa na minha vida. O que posso dizer? Que estou muito feliz e que sinto que todos os esforços valeram a pena». Para completar o quadro de felicidade, chegou há pouco tempo a convocatória para a selecção de Angola. De onde saiu com seis anos para vir para Portugal. «Foi uma grande felicidade. O seleccionador já vinha a falar comigo, mas não esperava que acontecesse tão cedo».
Aconteceu e Edson vê-se agora na iminência de poder até disputar um Mundial. «Nem sei que diga», conta. «Ainda não pensei nisso». A verdade é que em quatro meses a vida do jovem de 22 anos se está a precipitar. Qualquer surpresa que surja agora, acaba por ser normal na sequência de tantas outras. «Nunca pensei que que ia estar ali a jogar contra jogadores que só conhecia da televisão. O Polga por exemplo é um campeão do Mundo». Regressando ao jogo de ontem, Edson garante que isso o intimidou um bocadinho. «Defrontá-los cara a cara pela primeira vez deixa um nervoso miudinho, mas é só antes de entrar em campo. Quando cheguei lá dentro até senti mais entusiasmo por defrontar jogadores assim. Foi sempre o meu sonho e estava a concretizá-lo».
No final acabou por desbaratá-los a todos. Por isso saiu feliz de campo quando foi substituído nos descontos. «Senti uma grande alegria. Só me apetecia sorrir».